Se por qualquer razão as acácias tivessem que desaparecer de Maputo, esta passaria certamente a chamar-se “A Cidade das Sirenes”.
“Cidade das Sirenes”, porque por elas, ela bate o resto do mundo. E não estou a falar das sirenes que acompanham a comitiva presidencial, a ambulância a caminho do hospital, ou os bombeiros solicitados a pôr fim a um incêndio ou qualquer emergência. Estes são casos previstos no Código de Estrada.Mas ficamos revoltados quando a proliferação de sirenes na cidade de Maputo ultrapassa os limites do absurdo.
Soa-se uma sirene por tudo e por nada, em todo o canto da cidade. Pela passagem da Primeira Ministra, do Presidente do Conselho Constitucional, do Presidente do Tribunal Supremo, do Presidente da Assembleia da República e, já agora porque não também, da Governadora da cidade.
É um espectáculo quando todas estas individualidades tiverem que estar, por qualquer razão, num acto comum. Como por exemplo, por ocasião de dias nacionais, ou mesmo quando a caminho da Matola, para uma reunião do partido. Gente literalmente a ser empurrada da via pública por polícias rudes, que certamente não entendem que a via pública significa isso mesmo: para o uso público.
Será que toda esta azáfama a que estamos tristemente habituados se justifica? Qual é o seu sentido, se não apenas uma exibição de auto-importância e de estatuto?Numa altura em que falamos de crise, e face a ela a necessidade de adoptarmos medidas de poupança, vemos as mesmas pessoas a queimarem centenas de litros de combustível em estúpidas exibições de “auto-importância”, mas totalmente vazias no seu sentido. Mesmo que não se manifestem publicamente, as pessoas sentem-se revoltadas com este exibicionismo barato'.
Por que é que num país tão pobre como este tem que se esbanjar tanto assim? Leva-me a pensar que quanto mais pobre se é, mais se esbanja.Alguém terá que me convencer da inconveniência e do perigo que dirigentes públicos iriam enfrentar se tivessem que circular discretamente, parar no semáforo quando este está vermelho como manda a regra, e aproveitar essa ocasião para ver a realidade que lhes rodeia. Parece haver entre nós esta noção distorcida de que a importância das pessoas se mede pelo esforço público espectacular que exibem para mostrar que não são iguais aos outros.
Há muita gente importante pelo mundo fora, que muitas vezes passa desperce¬bida, que acredita que a via pública deve ser usada em igualdade de circunstâncias com os outros utentes, e que acima de tudo vive na convicção de que a assumpção de um cargo público remete-lhes ao sacrifício de se serem humildes.
( Fernando Gonçalves, Savana, 07/09/09 )
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