Thursday 17 September 2009

EXORTAÇÃO

“Sabeis que, daqui a dois dias, celebrar-se-á a Páscoa; e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado.” (Mateus 26.2).
Inclina a sua cabeça e entoe o hino do glorioso partido. É no partido vermelho onde se come, se bebe e se dorme. Pensar é proibido. O partidao é uma ceita religiosa em que os estatutos do partido são a escritura sagrada. Quem tentar reflectir e pensar diferente é imediatamente amputado socialmente: não apanha emprego, não estuda; se estuda não passa; se trabalha não é promovido; se for promovido é transferido para zonas recônditas; sim, lá no cemitério dos conceitos de água potável, luz, vias acesso; lá onde a noção de Internet e telefone ainda é a terra prometida pelo Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob; lá onde viver é sinónimo de morrer. E para o calvário te pesar mais é te atribuído nomes diversos, desde os de traidor, corrupto, até ao pedófilo se for professor ou necrofilia se for médico ou enfermeiro e ainda, vendedor da pátria, se for comerciante.
Declina-te perante dragão de sete cabeças se não queres ser atirado ao fogo de enxofre pelo anjo Gabriel furioso e profundamente magoado pelo teu pecado de pensar diferente. Isso mesmo, pecado de pensar que podes muito bem trazer o Novo Testamento da Democracia chamado Constituição da República para uma Terra Santa do Islão cognominado Frelimolândia. Todos aqueles que tentam opor-se contra o regime são julgados pela Xaria.
Todos cidadãos de outras nacionalidades são xenófobamente expurgados e queimados vivos num campo de concentração conhecido por marginalização. Refiro-me dos cidadãos provenientes da Renamolândia, Emideemilândia, Pimolândia, Pededelândia, entre outros. Os seus líderes são politicamente guilhotinados. Nesta pátria é incinerado, física, moral, social, cultural e politicamente todo aquele que pensa diferente. Por exemplo, à parelha do Eduardo Mondlane, Lázaro Kkavandame, Urias Simango, Samora Machel, Carlos Cardoso, e Siba siba Macuácua que bateram bota pelo imperativo de pensar diferente, outros como Daviz Simango, Raúl Domingos, Yacub Sibindy estão encarcerados na cadeia de máxima segurança: a Cadeia Nacional Estratégia (CNE).
Ergue a cabeça e procura um exílio se te achas um ser pensante. Se te consideras académico, alia-se ao grande partido. Pelo contrário, não encontrarás espaço para contribuíres para o desenvolvimento dessa pátria como aconteceu com o perecido Dr. David Aloni. Os teus artigos, contenham o que contiverem, nunca serão publicados nos jornais da praça porque todos eles são comandados superiormente pelo Conselho Superior de Comunicação Social denominado Comité Central ou Santa Sé. Os seus livros serão queimados pela Santa Sé e você será vítima de inquisição, acusado de Heresia.
És empreendedor? Veste-te de vermelho, decorado de enxada e maçaroca. Assim não morrerás de fome e as tuas empresas não entrarão em falência. Mesmo falindo todas, continuarás a comer porque serás Presidente do Conselho de Administração de alguma empresa nem que seja de criação das aves menos procuradas e mais estranhadas de patas feias e pouco higiénicas.
Alia-te ao partido dominante. É ele que fez a pátria nascer, é ele que faz tudo quanto temos assistido: a corrupção, o burocratismo, o deixa-correr, eliminação dos adversários políticos e implantação de um regime monolítico, monótono e monopartidário, déspota…enfim, mata a democracia tida como único sistema político possível num sistema internacional difuso em que vivemos actualmente.
Por isso, reitero: inclina a sua cabeça e entoe o hino do glorioso partido. É no partido vermelho onde se come, se bebe e se dorme. Pensar é proibido. O partidao é uma ceita religiosa em que os estatutos do partido são a escritura sagrada.



( Domingos Bihale, em www.angoni.blogspot.com )

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