Thursday 7 August 2014

Um pequeno passo, mas crucial para a PAZ

Um pequeno passo, mas crucial para a PAZ



Beira (Canalmoz) – Foi muito ou pouco o alcançado no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”?
Para o que estava em causa, só podemos dizer que os resultados são animadores, abrindo boas perspectivas para o restabelecimento da PAZ no país.
Não há acordos políticos sem consequências, e neste caso aos moçambicanos interessa qu...e as forças políticas aproveitem o momento e o acordo para cimentarem as práticas democráticas no país.
Viveram-se décadas de falsidade política e de demagogia deformadora, que teve como uma das consequências o agravamento dos conflitos que degeneram em guerra localizada, mas com um forte potencial de se tornar em mais uma guerra civil.
Os apologistas de soluções aparentes, cosméticas, inconsequentes, que estavam habituados a usufruírem vantagens que o “establishment” lhes garantia, não devem estar obviamente muitos satisfeitos com os avanços registados na mesa das negociações. Os supostos especialistas em resolução de conflitos e magos da diplomacia já não poderão dizer que a guerra, que era iminente, era orquestrada a partir do exterior. Os que defendiam que não havia possibilidade de eclosão de uma guerra também saíram com as contas erradas.
Moçambique amadureceu para uma realidade que se quer nova e renovadora.
Um sinuoso processo derrotou a tese dos “imperativos nacionais” erigidos como baluartes de uma política que se dispunha a sacrificar o interesse colectivo para benefício de um pequeno clube de “cidadãos especiais”.
Aquela baboseira incongruente de “obliterar a oposição” e criar um “Reich dos Mil Anos” em Moçambique saiu pela culatra aos seus mentores. Afinal também já se encontram em estado mais ou menos senil, esses apologistas. Moçambique saiu a ganhar na mesa de negociações, que antes se dizia que eram meras discussões.
Neste momento de afinação das máquinas políticas e de concerto de estratégias, não faltarão aproveitamentos à esquerda e à direita em volta do processo que levou ao consenso. Fique claro que existe um único vencedor, e este é o povo moçambicano, que conseguiu vencer teses separatistas, excludentes e antidemocráticas.
Moçambique pode outra vez redireccionar-se e descobrir vias apropriadas de governação.
Prevê-se uma campanha eleitoral muito renhida e definidora de uma maneira de estar diferente entre os partidos políticos e forças sociais. Nada está garantido para ninguém, e que as promessas ou manifestos eleitorais sejam apresentados aos moçambicanos de modo pacífico, inteligente e sério.
De uma maneira imperceptível mas firme e permanente, os moçambicanos foram-se educando informalmente e melhorando o seu entendimento político.
Hoje, podemos dizer com segurança que nada será igual na arena política e que os partidos políticos que não mostrarem resultados serão severamente punidos nas urnas. Hoje, podemos ter a esperança de que a PRM e a FIR serão colocadas no lugar legalmente previsto no dia das eleições. Hoje, podemos ter a esperança de que os blindados não serão utilizados para afastar votantes e amedrontar outros. Hoje, podemos dizer que estão reunidas as condições para a realização de um pleito eleitoral menos suspeito, livre de manipulação e passível de ser fiscalizado pelos partidos interessados.
Estes avanços são fruto de uma combinação de factores, e entre eles há que mencionar a pressão da sociedade civil moçambicana, na medida em que, de maneira exemplar, aprendeu que pode existir fora do ditame dos partidos políticos. A sua participação em paralelo com outros interessados, chancelarias internacionais e os partidos políticos nacionais elevou a fasquia política no país.
Enganou-se quem apregoava que a democracia é estrangeira em Moçambique e em África. Todo o processo político pós-AGP mostrou e mostra que, fora de um quadro democrático em consonância com uma efectiva separação dos poderes democráticos, desenvolve-se um ambiente propício a abusos dos direitos políticos e económicos dos moçambicanos.
Não é momento de lançar foguetes e fogo-de-artifício, pois foi dado unicamente um passo num processo que se apresenta complexo e sujeito a derrapagens.
O país precisa de aturado trabalho e de uma abertura nos debates estruturantes que devem ser feitos.
Há recursos humanos jovens e capacitados, há uma massa crítica de gente com ideias e conhecimentos dentro e fora do país, há políticos com experiência e traquejo para que o país e o seu Governo os escutem e tomem em consideração as suas opiniões e posições. Governar deve voltar a ser algo feito com brio, responsabilidade, patriotismo, entrega, abnegação e sentido de servir.
O nível de exigência subiu, e isso tanto para governantes como para governados, para partidos políticos e para organizações da sociedade civil.
A fechar um ciclo e a III República, teremos a mais concorrida campanha eleitoral.
Os moçambicanos, com a sua persistência e perspicácia, venceram mais uma batalha na sua luta permanente por uma sociedade mais justa e democrática.


(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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