Isso faz-se com desarmamento dos homens e das suas mentes
Muito vai ser dito e muitos vão aparecer como protagonistas da paz agora assinada. Em si, a paz não é uma simples assinatura, nem que seja solene e rodeada de toda a pompa e circunstância. Entenda-se que a PAZ alcançada precisa... de superar o calar das armas e transformar-se em plataforma de “empoderamento” dos moçambicanos sem qualquer tipo de discriminação.
O protagonista da paz é o povo moçambicano, que, por intolerância política e económica, tinha sido empurrado para mais uma guerra fratricida.
A manutenção da paz e o triunfo efectivo da boa convivência e da concórdia são um processo que deve ser assumido e respeitado.
Algumas coisas precisam de ficar clarificadas e uma delas é que os políticos, as lideranças políticas devem a todo o custo lançar-se numa ofensiva visando o fim da instrumentalização dos cidadãos.
Falsos argumentos impingidos na mente embrutecida de muitos jovens e adultos constituem factores de risco para a manutenção da paz.
O que tem oposto uns moçambicanos aos outros tem sido uma clara definição e implementação de agendas excludentes para o país.
Chegados a este estágio de entendimento, será salutar que se exerçam esforços no sentido de se alcançar uma pacificação efectiva, real, concreta e duradoura.
Há questões que não permitem que o país seja de todos e sentido por todos, partilhado e compartilhado, participado e defendido, amado e protegido. Essas questões são do fórum político e económico.
Há reminiscências históricas que afectam a ideologia e as considerações estratégicas dos políticos nacionais.
Formas não consentâneas de fazer política extremaram posições que importa reverter.
Mas, como todos sabemos, os moçambicanos já consumiram demasiada demagogia e não aceitam mais serem tidos ou considerados cobaias de inconsequência política.
Nada acontecerá em termos práticos se o cidadão não souber, através das suas posições e comportamento, pressionar os políticos para que actuem dentro do espírito e letra do acordo recentemente assinado.
A tendência que alguns irão adoptar é a do protagonismo barato e pueril.
Mesmo os “heróis do Facebook” quererão aparecer exigindo espaços e regalias. Teremos possivelmente a emergência de grupos semelhantes ao G40 querendo assessorar lideranças políticas de maneira perversa. A fome estomacal, embora exista, é superada por outras fomes.
Para o bem da PAZ e dos moçambicanos, qualquer protagonismo é bem-vindo, mas que sofra uma passagem pelo crivo da coerência.
Pretende-se uma paz que não sofra dos ataques de agentes do clientelismo político abundante e irrigado com o sangue de inocentes.
O passo dado abre espaço para que a moçambicanidade continue a ser construída e para que a cidadania ganhe novos contornos e características.
Nunca fez tanta falta uma dose de coerência e de patriotismo. Não nos podemos cansar de repetir que Moçambique não é quintal privado de uns poucos “eleitos e especiais cidadãos”.
As diferenças de opinião sobre a agenda nacional deverão ser vistas como fonte de inspiração na busca de soluções de melhor qualidade para os inúmeros problemas existentes.
É com o empenho e sabedoria dos moçambicanos que se deve contar para a construção daquela pátria próspera, pacífica e solidária.
Combinar visões, integrar e incluir, respeitar as diferenças, descobrir a competência, o mérito, a cultura da abertura e transparência irão concorrer para apaziguar ânimos e consolidar a paz duramente conquistada pelos moçambicanos.
A maturidade demonstrada no campo negocial deve impulsionar o aprofundamento do entendimento político.
Democracia plena vigorosa requer respeito por todos, sem invenções de minorias e de novas formas de discriminação baseadas em critérios rácico-tribais ou de filiação partidária.
A paz não se compadece com exercícios demagógicos e de endeusamento de lideranças políticas. Somos humanos e igualmente humanos, a nossa dimensão pessoal não ultrapassa a dos outros, e por isso é escusado endeusar pessoas, pois isso cria e alimenta egocentrismos brutalizantes e entorpecentes.
São os paradigmas da governação e da coabitação política que devem sofrer uma profunda transformação, adequando-se às exigências justas e incontornáveis dos cidadãos.
Moçambique consolidará a paz se os seus políticos assumirem que a governação, seja do partido A ou B, supera uma mera distribuição de favores e cargos.
Com uma nova postura de servir e servir sempre, os moçambicanos caminharão com passos seguros na via da democratização efectiva de sua vida política e económica.
O tempo é de cerrar fileiras em prol da emergência de novos valores entre nós. Superação e um forte querer, aceitar que os outros também são cidadãos de pleno direito irá ser cada vez mais importante.
Para que o acordo fosse assinado, não se pode ignorar o heroísmo de uns e outros, e isso transporta-nos para o passado e requer que os esforços pela reconciliação da família moçambicana revisitem os heróis dos outros.
Sem pressas e pressões falsas, importa abraçar projectos que reúnam sensibilidades, e que de maneira consentânea se reescreva a história nacional.
Posições de poder não devem impedir que se trate de assuntos essenciais que todos sabemos serem causas recorrentes de conflitos.
Afinal tudo isso é que, sem tabus, constitui uma democracia viva e não livresca, “legalista”, formal, mas oca…
Avante Moçambique, o presente e o futuro te pertencem.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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