Friday, 29 August 2014

“Guebuza não contribuiu para a unidade dos moçambicanos”


Considera o académico Victor Igreja



 O jargão da unidade nacional foi afinal uma fraude. O professor de “Estudos de Paz e Conflitos, Justiça em Transição e Antropologia” na Universidade de Queensland, na Austrália, Victor Igreja, considera que o actual Presidente da República, Armando Guebuza, pode ter contribuído para muita coisa, mas não conseguiu unir os moçambicanos. Victor Igreja fundamenta a sua posição em dois pontos: por um lado, a recriação e institucionalização das células do partido Frelimo nas instituições públicas, onde apenas membros da Frelimo podem ocupar cargos de chefia; por outro lado, as reformas nas Forças Armadas, destacando as aposentações compulsivas dos oficiais da Renamo.
Para o académico, tanto no primeiro como no segundo caso, Armando Guebuza contribuiu para a exclusão e automaticamente para uma situação de divisão e de conflitos latentes.
Segundo Victor Igreja, o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, depois das primeiras eleições, “iniciou um processo de reforma, que passava pela separação entre partido, Estado e Governo”. No entanto, prossegue Victor Igreja, “certos sectores radicais da Frelimo nunca aceitaram esse tipo de visão da política”. Segundo Igreja, foi com a ascensão ao poder, em 2004, de Armando Guebuza, “conhecido dentro do partido como a pessoa que incorpora os valores radicais do partido”, que o fenómeno das células volta a ganhar terreno. Victor Igreja explica que os “valores radicais” devem ser entendidos “no sentido de que, quando se fazem mudanças, devem ser rápidas”. O nosso interlocutor conta que é “no 9o Congresso onde [Guebuza] consolida o seu poder, a sua visão radical de mudança da sociedade”.
O académico entende que “ao recriar células dentro das instituições, cria um clima de divisão, porque quem não é da Frelimo não pode assumir cargos de chefia”. Para o professor, a criação de células é uma antítese da ideia de unidade na diversidade. E é contra “a perspectiva da unidade”.



Reformas nas FADM


O segundo ponto da tese de Victor Igreja tem a ver com as reformas repentinas nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Victor Igreja diz que, sendo Guebuza “parte daquela ala da Frelimo que advoga a ideia de que um Estado, um Governo, só existe quando há controlo das Forças Armadas”, desmobilizou a maior parte dos homens da Renamo, que estavam no Exército, “de forma rápida e óbvia”. Isso “é contra o princípio da unidade”, concluiu.
Victor Igreja foi orador no tema “Recurso à violência e à guerra para negociações políticas e legitimidade em Moçambique”, na II Conferência do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), que terminou ontem em Maputo.
Photo: “Guebuza não contribuiu para a unidade dos moçambicanos” (#canalmoz)

Considera o académico Victor Igreja 

Maputo (Canalmoz) – O jargão da unidade nacional foi afinal uma fraude. O professor de “Estudos de Paz e Conflitos, Justiça em Transição e Antropologia” na Universidade de Queensland, na Austrália, Victor Igreja, considera que o actual Presidente da República, Armando Guebuza, pode ter contribuído para muita coisa, mas não conseguiu unir os moçambicanos. Victor Igreja fundamenta a sua posição em dois pontos: por um lado, a recriação e institucionalização das células do partido Frelimo nas instituições públicas, onde apenas membros da Frelimo podem ocupar cargos de chefia; por outro lado, as reformas nas Forças Armadas, destacando as aposentações compulsivas dos oficiais da Renamo. 
Para o académico, tanto no primeiro como no segundo caso, Armando Guebuza contribuiu para a exclusão e automaticamente para uma situação de divisão e de conflitos latentes.       
Segundo Victor Igreja, o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, depois das primeiras eleições, “iniciou um processo de reforma, que passava pela separação entre partido, Estado e Governo”. No entanto, prossegue Victor Igreja, “certos sectores radicais da Frelimo nunca aceitaram esse tipo de visão da política”. Segundo Igreja, foi com a ascensão ao poder, em 2004, de Armando Guebuza, “conhecido dentro do partido como a pessoa que incorpora os valores radicais do partido”, que o fenómeno das células volta a ganhar terreno. Victor Igreja explica que os “valores radicais” devem ser entendidos “no sentido de que, quando se fazem mudanças, devem ser rápidas”. O nosso interlocutor conta que é “no 9o Congresso onde [Guebuza] consolida o seu poder, a sua visão radical de mudança da sociedade”. 
O académico entende que “ao recriar células dentro das instituições, cria um clima de divisão, porque quem não é da Frelimo não pode assumir cargos de chefia”. Para o professor, a criação de células é uma antítese da ideia de unidade na diversidade. E é contra “a perspectiva da unidade”. 

Reformas nas FADM

O segundo ponto da tese de Victor Igreja tem a ver com as reformas repentinas nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Victor Igreja diz que, sendo Guebuza “parte daquela ala da Frelimo que advoga a ideia de que um Estado, um Governo, só existe quando há controlo das Forças Armadas”, desmobilizou a maior parte dos homens da Renamo, que estavam no Exército, “de forma rápida e óbvia”. Isso “é contra o princípio da unidade”, concluiu. 
Victor Igreja foi orador no tema “Recurso à violência e à guerra para negociações políticas e legitimidade em Moçambique”, na II Conferência do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), que terminou ontem em Maputo. (André Mulungo)

 (André Mulungo, Canalmoz)

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