Wednesday 8 September 2010

Revolta popular era previsível

- Não queremos as condolências do Presidente. Queremos soluções concretas dos nossos problemas - os manifestantes.
- São bandidos, malfeitores e marginais - José Pacheco, ministro do Interior


A situação que deflagrou, nos dias 01 de Setembro e 02 de Setembro, não constituiu surpresa. O Governo, como sempre, foi apanhado com as calças pelo joelho. Viu, nos manifestantes, bandidos, malfeitores, marginais e ingénuos. Os avisos do perigo chegavam de todos os quadrantes, mas, a gente do governo não tem cultura de escutar uma versão diferente. O governo abandonou a produção e seguiu políticas estranhas aos interesses do povo. Destruiu a indústria e a agricultura. O que aconteceu é sinal de que as políticas governamentais são ineficazes, insuficientes e inadequadas.
Todos alertavam que o País estava por um fio ténue, frágil e, a qualquer momento, poderia rebentar. Que, em breve, poderia haver um levantamento social de grandes proporções contra a carestia de vida, agravada pela ausência de políticas públicas consentâneas para reverte a derrapagem constante a que a economia. O governo sofre, de forma bastante grave, do autismo (estado mental caracterizado por uma concentração do indivíduo sobre si; alheamento do real). Todos os executivos sempre preferiram soluções triviais e paliativas a corajosas, capazes de tirar o País da pobreza.
É impossível qualquer país ter estabilidade política e social quando não produz alimentos para o seu povo. O tomate, alho, repolho, pimento, a cebola, batata, espinafre vêem de fora apesar de o país possuir cerca de 36 milhões de terra arável, cursos permanente de água, faltando apenas políticas do Estado. Num país onde os negócios privados da nomenclatura se confundem com os do Estado, não pode progredir. Dizer que a culpa seja da conjuntura internacional, é uma mentira, por ser meia verdade. Um grupo açambarca todos os recursos e possibilidades nacionais em nome da economia do mercado. Assim, é ser lobo para o povo.
Estas manifestações revelam a fragilidade da democracia e ausência das instâncias e mecanismos de mediação. A responsabilidade deste facto é o poder. As populações têm razão para se manifestar como fizeram porque não pode ser apenas o povo a pagar a factura da subida galopante dos combustíveis, quando o Chefe de Estado se faz transportar em seis helicópteros alugados ao estrangeiro nas suas presidências abertas e uma frota interminável de viaturas enquanto o povo não tem transporte, não se importando com a crise financeira mundial.
O peso da crise financeira deve ser distribuído por todos, a começar pelos dirigentes, reduzindo as suas imensas mordomias.O fosso entre os ricos e os pobres é cada vez mais fundo, cria tensões sociais. Os governos são para resolver os problemas do povo e não para alistar desculpas, esquivando-se por detrás da crise global.
Quando um governo não funciona, socorre-se do fuzil para conter a fúria popular. As piores manifestações ainda vão acontecer se o actual cenário não for alterado.

Edwin Hounnou, no Magazine Independente, citado no Diário de um sociólogo.

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