Friday, 17 September 2010

Governo de Salvação Nacional mais pequeno, menos dispendioso e mais eficiente?

“Moçambique é um Estado falido, há mais de 25 anos, mas todos temos a responsabilidade de evitar que ele se converta num Estado falhado” – Professor Dr. António Francisco

Maputo (Canalmoz) - Foi preciso o povo irritar-se para o governo admitir que vai precisar de governar… ou pelo menos fingir que vai tentar governar. Andou montado na paciência colectiva popular, a curtir a boleia do “maravilhoso povo moçambicano” até que o “maravilhoso povo” lhe acertou o passo. Aflito e já completamente desnorteado, o homem, que se preparava para um terceiro mandato, e todos os seus acólitos perceberam que o Povo quer mais trabalho e menos “pandza” governativa. Anunciou, por isso, um conjunto de medidas que fizeram abrandar a “fervura da panela” e dar tempo a que possam reflectir, mas já expirou o tempo para pensar. Já se gastou o suficiente em consultorias que não servem para nada. Agora é preciso agir. Há coisas já estudadas que se as deixarem andar mudarão a face do País. Só que um punhado de senhores quer ter o controlo de tudo e acaba por não deixar andar nada. Depois ainda tem o descaramento de dizer que os outros é que não deixam andar.
As medidas anunciadas pelo governo são muito frágeis em termos de sustentabilidade; comece-se por onde quisermos, agora o mal está feito: este governo deixou secar as reservas do Estado para manter um partido no poder e para preparar condições constitucionais para o cidadão Armando Emílio Guebuza se perpetuar no poder e tornar-se um novo Mugabe.
Foi preciso a verdadeira sociedade civil, a maioria qualificada real, revoltar-se para os senhores do poder que se julgam insubstituíveis acreditarem que o Povo até já está a agir para resolver o que eles, tão bons que são, não conseguem resolver.
“O povo organizado, sempre vencerá”. E venceu mais esta batalha. Pelo menos obrigou o governo da Frelimo a acreditar que o Povo o pode fazer apanhar o helicóptero de vez.
Nós temos muita dificuldade em crer que se possa resolver esta tremenda crise nacional, se mais medidas serias não forem implementadas. Duvidamos com toda a franqueza que este governo seja capaz de as tomar. Duvidamos que Guebuza seja capaz de governar com outro modelo de governação, diferente do seu modelo de governação em comícios e bebícios. Serviu o País e está ultrapassado. Agora está a ser empurrado para cima por quem, sem ele, cai. As suas “muletas” obsoletas já não o ajudam a andar. E estão a pô-lo politicamente paralítico.
Mas o presidente Guebuza não pode escusar-se de ser o responsável por este caos. Quis ficar com tudo e levou o País para este estado social de total desespero. Gastou dinheiro exorbitantemente nas suas ditas “presidências abertas” e pôs a sua excelentíssima esposa a fazer coisa parecida. Dobro dos encargos. Usou mal o dinheiro do Estado. É um empresário de sucesso mas está-se a revelar um governante sem soluções e sobretudo incapaz de saber rodear-se de gente competente. Prefere os “lambebotistas”. Por isso não se pode queixar. São da livre escolha do Chefe de Estado. O povo já está farto do governo que o Senhor Presidente escolheu.
Para satisfazer o seu “séquito” criou ministérios que só servem para acabar com o pouco dinheiro que temos antes que ele sirva para o “maravilhoso” povo viver melhor. Distribuiu regalias a torto e a direito que depois são as suas próprias empresas ou as dos seus pajens a vender para que o Estado as possa sustentar. Governar tornou-se um exercício apenas para proteger o seu Kraal.
Não se pode fazer tudo. É humanamente impossível. Por isso Guebuza deve optar: ou vai definitivamente para o “business” ou governa sem andar a esbanjar o dinheiro dos nossos impostos e das ajudas internacionais.
Mugabe deu cabo do Zimbabwe. Guebuza quer ficar para a história como o líder que deu cabo de Moçambique? Haja alguém que o impeça!
Mandou subsidiar as gasolineiras para alegadamente o Povo não sofrer com o aumento de combustíveis. O que é que conseguiu? Hoje temos os combustíveis praticamente ao preço de mercado, com o gasóleo a dois cêntimos do limite (31,00 MT/litro) que o governo acordou com os “chapas”, mas nas zonas mais pobres do país os combustíveis estão a preços que não só impedem os moçambicanos de viver melhor, como agora até já estão a viver pior. Só pelas estatísticas viciadas é que se pode pensar que os moçambicanos vivem hoje melhor do que antes. Quem anda a prometer luta contra a pobreza absoluta tem nos acontecimentos de 01 a 03 de Setembro a prova final do que resultou de tal discurso. Foram aqueles que o elegeram, como dizem certos analistas, que estão a dizer-lhe ou resolves isto ou vai-te.
O Estado está económica e financeiramente falido por causa de medidas macroeconómicas insustentáveis, como foram os financiamentos aos combustíveis. Os cofres do Banco de Moçambique estão vazios porque a economia nacional não compensa o que se consome.
Hoje os “doadores”, para além de não terem dinheiro que chegue para resolverem os seus próprios problemas correm cada vez mais o risco de serem acusados de terem limitado a ajuda a uma elite moçambicana predadora do erário público. Correm sérios riscos de se virem a tornar parte do problema, a nossa crise interna, se não deixarem de dar dinheiro a um governo que apenas o usa para satisfazer os apetites insaciáveis de uma “elite” sem escrúpulos. Correm o risco do Povo deixar de os ver como parte da salvação de Moçambique, porque confundiram o apoio a Moçambique com um Estado discriminatório dos mais amplos interesses nacionais.
Os moçambicanos sabem que produzir mais é coisa que só pode dar frutos com algum tempo e num ambiente saudável e minimamente seguro. Entre o produzir e ganhar dinheiro vai uma larga distância. Há muito que fazer pelo meio.
O povo quer produzir na agricultura mas não tem terra disponível, porque está tomada pelos políticos e burocratas. Há quilómetros e quilómetros de mato, mas quando se chega lá para produzir, a terra tem dono. O Estado já não é o dono da terra. E os senhores que dizem que a terra tem de continuar a ser do Estado são precisamente os que detém autênticos latifúndios improdutivos para poderem especular a sua utilização com estrangeiros. E enquanto esses estrangeiros não aparecem, a terra vai continuando ali parada e desvalorizada. Depois dizem que o povo não quer trabalhar e tem de trabalhar mais para a crise passar. Treta! Só treta! Chamam bandido ao povo e dizem que “o povo tem preguiça mental”.
As indústrias estão a passar-se para a África do Sul. A produção de lá vem para cá e já não paga direitos aduaneiros. É muito animador para alguns senhores, mas onde é que o povo moçambicano vai conseguir arranjar trabalho com estas políticas que não prevêem compensações? E depois o Rand forte. E depois o Metical a desvalorizar todos os dias.
Muitas coisas se podem propor. A crise está aí, a manifestar-se como um vulcão em erupção. Agora indesmentivelmente este governo tem de aceitar que se diga que não governou. Governar é prever e antecipar. Este governo previu o quê? Agora até já usam certa imprensa para anunciar que o Conselho de Ministros vai-se reunir em sessão alargada até com a oposição, como que a fazer crer que estamos a um passo, caminhando em direcção a um Governo de Salvação Nacional(?) para depois se ver que aquilo na Presidência da República foi mais uma reunião da Frelimo paga pelo Estado. O desespero é tal que já parecem umas baratas tontas.
Mas seja o que for o País precisa urgentemente de soluções. Moçambique precisa de atitudes corajosas. Um governo de Salvação Nacional mais pequeno, menos dispendioso e mais eficiente, faz falta. Este governo já se viu no que deram as suas políticas. “Moçambique é um Estado falido, há mais de 25 anos, mas todos temos a responsabilidade de evitar que ele se converta num Estado falhado” - disse um dia o Professor Dr. António Francisco.
O país precisa realmente de tranquilidade, de menos abuso dos bens públicos e de uma governação menos depravada e mais sensata.

(Esitorial do Canalmoz/Canal de Moçambique)

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