Friday 24 September 2010

A opinião de Arlindo Oliveira

DIZ o ditado que numa casa onde a fome existe, todos optam por se ralharem uns contra os outros, contudo, ninguém resgata a razão. Ninguém pode entender que uma sublevação daquela envergadura que se viu nos dias 1 e 2 de Setembro, seja levado a cabo por maltrapilhos.
Curioso ainda é alguém vir ao terreiro dar conta de que os manifestantes são crianças. Até porque podiam ser crianças, porque elas sentem na carne o peso da vida. São as crianças que as mães as mandam para a compra do pão, para a compra do arroz, do açúcar e, infelizmente, regressam a casa sem aqueles produtos, porque subiram de preço, o dinheiro que levavam já não chega para nada.
Se são jovens que estavam na mó de cima, qual é o problema? Por outro lado, é sabido, de forma soberba, que a população de Moçambique é, maioritariamente, jovem. Esperava-se assistir um sexagenário a manifestar-se? Ora essa, isso não conta. O que se deve fazer é receber-se a mensagem e tentar-se consumi-la. Como esta SMS chega, é pouco relevante.
O dilema que ficou, nos tempos que correm, é de se tentar sanar o mal feito. Os políticos terão que suar às estopinhas para se redimirem do que fizeram e falaram. As desculpas não pagam dívidas. Um dia, alguns cobrirão as mantas e se porão às choramingas, à socapa.
Nunca se menospreza uma acção que é levada a cabo pela maioria, sobretudo quando essa maioria representa uma camada social influente, embora não forte, economicamente.
Em algum momento, no mandato anterior a este do nosso PR, disse que ele havia levado cavalos já cansados para a batalha. Neste mandato, ao que tudo indica, levou gente vaidosa e arrogante. Nunca ninguém perdeu a sua personalidade, a sua importância, por respeitar um Zé Ninguém. Este Zé Ninguém, em algum momento, é válido para este homem importantíssimo.
O titular da pasta do Interior não me parece ser um homem sensível. Trata-se de um extra-terrestre que foi enviado para contrariar tudo. É preciso que quem está no poder, saiba que lá está porque alguém lhe deu a legitimidade. É que os africanos são assim mesmo. Mudam de face, de atitude, do comportamento, segundo as oportunidades que se lhes oferecem. Ninguém se esquece, meus concidadãos, que todos nós temos as mesmas necessidades. Governados e governantes têm as mesmas necessidades, têm as mesmas despesas, têm os mesmos caprichos, todos nós queremos do melhor. Ninguém foi nascido para sofrer e outros para usufruírem do que os outros produzem.
Notícias, 24/09/10

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