A polémica está lançada e a espalhar-se. Dividiu os funcionários do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas de Chigubo (SDPI) e chegou à Imprensa. Agnaldo Rui Jo Navalha alerta para a “tirania” da administração, exercida sobre os membros dos partidos da oposição.
Ter um emprego, para um jovem que está a começar a vida é o primeiro passo para garantir alguma estabilidade. Porém, para Agnaldo Rui Jo Navalha o emprego trouxe uma sucessão de dores de cabeça. O problema começou quando assumiu que era membro do Movimento Democrático de Moçambique e recusou “o cartão de membro do partido Frelimo”.
Quando chegou a Dindiza, sede distrital de Chigubo, Navalha foi convidado a fazer parte do partido no poder pelos seus superiores hierárquicos. “Disse-lhes que um jovem com a minha idade, vindo da cidade, só podia ter alguma cor partidária ou nunca mais pertenceria a um partido”.
“Criaram depois uma comissão de verificação liderada pelo administrador. Quando chegaram a tal ponto disse-lhes que era membro do MDM. Nessa conversa afiançaram-me que não sofreria qualquer tipo de perseguição, mas deixaram claro que para prosseguir os meus estudos tinha de me filiar ao partido no poder”.
Navalha sofre descontos frequentes no seu ordenado. Ou seja, sempre que sai do distrito para ir fazer avaliações fá-lo com a consciência de que o seu salário sofrerá cortes substanciais. Os pedidos de dispensa são sempre indeferidos. A desculpa usada pelo SDPI para o efeito é baseada no facto de não lhe terem autorizado a estudar. Algo que, no entender do visado, é feito por causa da sua camisola política.
O teor das notas é sempre o mesmo e o efeito é devastador nas expectativas de um jovem adquirir conhecimento. Ou seja, Navalha vive um dilema: deixar de estudar e auferir o salário na íntegra ou prosseguir os estudos e receber migalhas. Atravessa-lhe uma sensação de impotência quando lê “indefiro, pois o SDPI não tem conhecimento de que o funcionário está a estudar pois não foi autorizado”.
Numa cópia do cheque da SDPI, que @Verdade teve acesso, (por questões de privacidade não vamos publicar) Navalha viu-se privado de um terço do seu salário. A exposição que elaborou questionando tal procedimento não teve resposta.
Tentativa de expulsão
Se Navalha pensava que o objectivo era apenas impedir-lhe de estudar não tardou muito para descobrir que as ambições dos seus superiores hierárquicos visavam a sua expulsão e para tal até a lei seria atropelada.
Não se justifica, por exemplo, que um funcionário do SDPI seja expulso da Função Pública por alegadamente ter injuriado um funcionário de uma escola no recinto desta. O motivo, diz um documento da Escola Secundária Armando Emílio Guebuza, é que a atitude de Navalha constitui uma violação ao regulamento da escola. O texto em questão diz que “é proibida a entrada de pessoas estranhas nas salas de aulas”. O que, no entender da direcção, criou perturbação.
Na verdade, Navalha foi convidado por um professor para assistir a uma aula, uma vez que ambos são estudantes de Geografia no ensino superior.
O chefe de secretaria convidou o jovem a abandonar o recinto da escola e este acatou sem discutir. “Fiquei triste pelo acto, mas abandonei o recinto”.
Alguns dias depois do sucedido, estranhamente, Navalha recebeu uma nota de acusação a qual referia que “de acordo com informação recebida do director da escola (...) quando interpelado pelo senhor Emiliano David Mucavel, chefe de secretaria a fim de perceber aquele movimento estranho proferiu palavras de injúria, tendo-o classificado de analfabeto e vagabundo”.
Na sequência vem escrito que “o senhor Emiliano, para além do documento escrito da direcção da escola (..) teria participado a injúria de que passou ao director do SDPI de Chigubo, na presença do director da Escola Secundária Armando Emílio Guebuza e do Secretário Permanente Distrital quando se encontravam num momento de lazer no complexo turístico Safar em Dindiza”.
Navalha escreveu a sua nota de defesa e referiu que, primeiro, foi ao estabelecimento de ensino na qualidade de cidadão e, segundo, não ofendeu ninguém.
Confissão de Emiliano
Desse modo o esquema para expulsar Navalha do aparelho do Estado estava orquestrado. Porém, a acareação revelou dados novos e colocou Emiliano em maus lençóis. Ou seja, Emiliano contou que foi obrigado a prestar falso testemunho com o objectivo de afastar um membro da oposição do distrito. Assim, Navalha escapou, dessa vez, de uma manobra para o deixar desempregado.
A vida de Emiliano, essa é que mudou radicalmente e agora enfrenta um processo de expulsão por falso testemunho e, pelo andar da carruagem, deixar de ser funcionário público para abraçar o desemprego.
Venceu uma batalha, mas não a guerra
Há quase um ano em Chigubo, Navalha anda com a mobília às costas. Não encontra residência porque as pessoas sofrem ameaças por albergarem alguém de um partido da oposição. Num comício público, há quatro meses, o Secretário Permanente Distrital prometeu incendiar a casa onde ele mora.
Tal acto amedrontou a população e, hoje, “ninguém quer colocar a sua situação em risco”. Outras pessoas também foram vítimas por privarem com Navalha. Os funcionários públicos confirmam grande parte da história de Navalha, mas recusam dar a cara.
Actualmente, Navalha priva com duas pessoas. Os outros fogem dele, qual leproso. Apesar de resistir contra as investidas “de quem manda” o jovem quer abandonar o distrito. Isso tudo porque, ao contrário do que o Presidente da República diz, “neste contexto o distrito não pode ser o pólo de desenvolvimento”
Rui Lamarques , A Verdade |
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