O DESAIRE da nossa Selecção Nacional, sábado passado, ao ser derrotada de forma
humilhante por 4-0, em Marrakech, pelos marroquinos, provocou e continua a
provocar uma onda de choque e indignação geral pelo país inteiro aos amantes do
desporto e em particular do futebol.
Como foi possível tamanho golpe? Esta é a pergunta colectiva de frustração
inconsolável dos moçambicanos.
Todavia, julgamos que não adianta agora o sentimento de auto-flagelação ou a
resposta clássica dos pessimistas em tudo, de que já sabíamos que ia ser assim,
ou pior ainda dizer que esta é a selecção que merecemos! Como podíamos merecer o
que não está bem? Pode ser que uns se revejam sistematicamente no negativo. Nós
não.
Não temos pudor nenhum em assim o dizermos. Porque antes e pelo contrário
havia razões objectivas para acreditarmos que a selecção se poderia qualificar
para o CAN/2013, cuja fase final vai ter lugar na vizinha África do Sul. Face ao
resultado que a selecção obteve na Machava e equacionadas todas as
probabilidades, isso era possível, bem possível. Isso não aconteceu.
Para que não haja dúvidas: estamos também desapontados, quiçá revoltados com
o que está a acontecer ao nosso futebol e que em nada dignifica o país e
esvazia, neste sentido, a enunciação da auto-estima. Mas queremos ir para a
frente. E para a frente não é só mais reflexões. Essas já dariam para livros e
tomos.
Quando perde a Selecção Nacional advoga-se que a primeira cabeça a rolar é a
do seleccionador ou a do presidente da Federação, ou que é preciso descobrir
quem foi ou foram os jogadores comprados. Desencadeia-se uma teoria de
conspiração. Fica-se na periferia e não se vai ao âmago da questão.
Não é necessariamente o caminho certo, porque estamos há muito tempo num
problema estrutural. Não estamos a centrarmo-nos na figura do presidente da
Federação. Se a vontade é que seja crucificado que assim seja, não lamentaremos.
Mas a dúvida prevalece. É suficiente para se resolver o problema?
O nosso eixo de análise parte do seguinte pressuposto: sendo a Selecção
Nacional também um assunto de Estado, por que razão as suas instituições fazem
pouco ou pelo menos não o suficiente para se sair desta letargia. Sim, porque as
evidências empíricas assim o demonstram.
Por que razão a compilação das várias reflexões durante largos anos não
conduzem a uma alteração pragmática da forma como se pensa, se projecta, se
investe e se altera estruturalmente o lugar do desporto na política nacional?
Aqui recordamos algumas das principais reflexões públicas já feitas: que é
imperioso que o país disponha de campos à altura para uma preparação condigna
dos atletas, nas modalidades que as instituições do Governo e as federações
decidam ser prioritárias; que deveria ser também obrigatório que os clubes nos
seus planos e estratégias de desenvolvimento das suas modalidades incluíssem com
efectividade, e não só no plano teórico, a formação das camadas jovens, que são
o garante técnico e de qualidade do desporto em diversas modalidades.
Mais se disse: a importância que representam os diversos torneios dispersos e
desconexos das camadas jovens, nomeadamente o Torneio BEBEC, Jogos Escolares,
Copa Coca-Cola, Basket Show, entre outros, precisa de entrar na equação formal
do desporto nacional. Nós já o dissemos e continuaremos a dizer enquanto as
coisas caminharem nesta direcção.
Por conseguinte, por aquilo que está a acontecer – e sem que isso signifique
abandonar os “Mambas” à sua sorte, a FMF devia centrar mais as atenções, por
exemplo, nas selecções de Sub-20 e Sub-17, criando-lhes as condições necessárias
e dar-lhes o “veneno” necessário para que chegados aos “Mambas” proporcionem à
Nação as alegrias que deles se espera.
Defendemos que se impõe materializar uma política do desporto, do futebol,
clara com um cronograma conhecido publicamente.
É preciso reorganizar estruturalmente o desporto, o futebol, injectar as
condições necessárias para funcionar, apostar mais nas camadas jovens, criando
desta forma uma ruptura com o pensamento de querer colher sem semear.
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