Tuesday 9 October 2012

Paz está sob ameaça

Não basta afirmar, pelos quatro cantos do mundo, que a paz veio para ficar, porquanto existem muitos factores que a ameaçam e ela não pode nem deve, muitas vezes, ser confundida com o silêncio das armas. A paz não permanece pela vontade de um único dirigente partidário, ainda que diga que para os seus homens com as mãos. A paz é uma flor que, quando não se rega, nem se aduba corre o risco de morrer. A paz que vivemos precisa de mentalidade de inclusão de quem governa e abandonar o espírito de considerar as riquezas do país como um achado de um grupo restrito de indivíduos e as oportunidades de negócios reservadas, apenas, a determinadas pessoas ou famílias aconchegadas a uma mesma organização.
Moçambicanos somos todos e não só um conjunto de privilegiados.
Ameaça a paz a partidarização do Estado que mais parece uma coisa ao serviço particular que um bem comum. O Estado encontra-se capturado pelo partido no poder, com particular realce a partir de 2005, e através dela se vai tornando numa força dominante, capaz de oprimir e implantar um regime de terror quando os interesses das elites político-económicas estiverem em perigo. Num Estado democrático, o Estado pertence ao povo para servir os seus interesses.
Entre nós, o Estado está ao serviço de uma oligarquia que se enriquece com base na sua proximidade aos cofres públicos e pelo conhecimento antecipado que possuem das oportunidades de negócios devido aos cargos nas instituições do Estado.
Quando os eventos do partido no poder são financiados com os impostos de todos os cidadãos e não pelas quotizações dos seus membros, é uma afronta ao povo. Os meios públicos, quando postos ao serviço de um partido, são uma declaração de guerra. Quando os dirigentes dos meios públicos de comunicação social colocam a rádio, a televisão e os jornais ao serviço do partido no poder não pode haver paz. Quando os reitores das instituições do ensino superior público e directores do ensino geral, médio e primário cortejam o congresso do partido no poder é um atentado à paz. O partido no poder descontou salários dos funcionários do Estado para financiar o seu congresso. Isso ameaça a paz.
O partido/Estado tem de deixar de ganhar eleições recorrendo a exclusões, uso da polícia e juízes partidários que fazem julgamentos fantoches como o de Inhambane contra membros do MDM. A privatização das instituições que administram os actos eleitorais não dignifica. O presidente da comissão nacional eleitoral é da Frelimo. Os dirigentes do secretariado técnico, a todos níveis, são do partido no poder. É assim que, orgulhosamente, dizem: “ganhámos tudo”.
Em Moçambique, os dirigentes do partido/Estado pensam e agem como se a paz dependesse, apenas, deles, discriminam a todos que não fazem parte do seu clube. Quem ameaça a paz não é Afonso Dhlakama, líder da Renamo, que faz promessas intermináveis de manifestações que não cumpre, mas o partido no poder que privatiza o Estado.
Edwin Hounnou, CORREIO DA MANHÃ – 09.10.2012, citado no Moçambique para todos

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