Apesar da palavra democracia e liberdade estar
sempre na boca dos dirigentes da Frelimo, os atentados à liberdade de imprensa e
ao pluralismo foram um dos elementos mais marcantes do X Congresso do partido no
poder em Moçambique e que este fim de semana termina em Pemba.
Mesmo antes do
Congresso se iniciar, os responsáveis das empresas do “SAVANA” (grupo mediacoop)
e de “O País” (grupo Soico), já sabiam que os seus jornais não poderiam circular
no recinto do congresso.
A Soico, que é
proprietária do canal televisivo STV, esteve sob permanente chantagem até
começar o evento. Os responsáveis pela área media tentaram que o canal recebesse
o seu sinal a partir da TVM, a televisão de Estado, o que foi liminarmente
recusado. Os eventos subsequentes, decorrentes do servilismo total do canal pago
pelos impostos dos moçambicanos, mostram que os responsáveis da STV estavam
certos. A segunda guerra do canal privado, foi fazer a empresa pública TDM
cumprir com o fornecimento da fibra óptica previamente contratualizada, segundo
os seus responsáveis. O canal que tinha programado fazer a cobertura do
congresso em directo foi forçado a fazer as suas primeiras emissões via
satélite.
Protagonista
forçado, Jorge Rebelo, que nos anos 70 foi ministro da Informação, viu os seus
receios sobre a repressão aos media confirmados, quando a meio da sua
intervenção foi abruptamente “tirado do ar” na TVM e na rádio estatal RM, a
mando de Edson Macuácua, um dos “controleiros” do partido.
Ironicamente,
Rebelo jogou um papel crucial na proposta de Guebuza como candidato presidencial
às eleições de 2004 e na extensão da presidência do Estado à presidência
partidária, quando o presidente cessante Joaquim Chissano alimentava esperanças
em se manter como líder da Frelimo. Aliás Rebelo disse neste congresso que
Chissano quase perdeu as eleições para a Renamo em 1999, “o que deixou os
militantes da Frelimo muito alarmados”.
Ao terceiro,
quando os “directos” já tinham sido restabelecidos, enquanto Eneias Comiche lia
no pódio do Congresso os princípios de liberdade de imprensa e pluralismo
defendidos na proposta de programa do Partido Frelimo, os seguranças colocados
na sala de plenários e cercanias, recolhiam zelosamente dos delegados, cópias do
jornal “Savana” e de “O País”,mais uma vez a mando do secretário de Mobilização
e Propaganda, Edson Macuácua.
A edição do
“Savana” tinha como tema de capa “O Congresso das Alas”, dando conta da
existência de várias tendências no interior da Frelimo e “O País” fez capa com
Rebelo ecoando as críticas contra o racismo, a falta de abertura e diálogo e as
pressões sobre a comunicação social.
Apesar do
“Savana” ter sido proibido de circular no recinto do X Congresso da Frelimo por
instrução expressa de Margarida Talapa (da Comissão Política do partido),
centenas de exemplares da última edição foram distribuídos gratuitamente aos
delegados entre domingo e terça-feira. Aparentemente, o que enfureceu Macuácua
foi a capa de “O País” com Rebelo (e anteriormente com Mulembwé), depois de na
segunda-feira o “controleiro” dos media ter desesperadamente tentado evitar que
a STV transmitisse a intervenção no jornal da noite, o programa mais visto do
país, com uma audiência média de 1,5 milhões de telespectadores diários. Os
responsáveis da STV tinham garantido que não tinham filmado a intervenção de
Rebelo, mas transmitiram uma cópia alternativa de um operador que se encontrava
na sala à altura. Nessa noite, a TVM “ignorou” Rebelo e a STV, não só abriu o
jornal com a intervenção do mais crítico depoimento de
todo o Congresso, como recolheu as declarações do reitor da Universidade
Politécnica, Lourenço do Rosário que considerou a decisão de Macuácua como “um
tiro no pé” da própria Frelimo. Foi necessária a intervenção do presidente
Armando Guebuza para que os “directos” sobre os debates fossem reintroduzidos
terça-feira, mas o dia acabou por ser manchado pela repressão contra os dois
jornais. A actuação da STV mereceu também várias mensagens via telemóvel de
Marlene Magaia, a assessora de imprensa presidencial.
Macuácua
contactaria posteriormente um dos responsáveis do jornal “Savana” para explicar
que foram “medidas de segurança” que levaram ao confisco dos jornais e que eles
seriam restituídos. Macuácua, que em paralelo com o secretário-geral, Filipe
Paúnde são acusados pelas alas críticas da Frelimo de “malemisar” o partido,
antes do congresso, tentou controlar os comentaristas que colaboram
habitualmente com os canais televisivos, sendo apontado agora, durante do
Congresso, de controlar quem diariamente se apresenta nos comentários da
televisão estatal. O “mediaFAX” reportou sobre um sociólogo (candidato a membro
do Comité Central, mas não passou) que recebeu instruções para ir à TVM
desqualificar e minimizar os conteúdos da intervenção de Jorge Rebelo.
Para quem pense
que o CSCS (Conselho Superior da Comunicação Social) poderia intervir perante
abusos e manipulações patenteadas, Armindo Ngunga, o seu presidente apareceu no
congresso de bonesinho e t-shirt partidária, mostrando de que lado está a sua
independência. Ezequiel Mavota, na sua novel função estatal, não esqueceu o seu
boné marca “frelo”.
Apesar de muitos
jovens terem sido criticados por aparecerem no congresso com boinas “à Julius
Malema”, as alas críticas da Frelimo temem que a triunfar a linha do triunvirato
Talapa-Paúnde-Macuácua, muitos dos “medos” expressos por Rebelo poderão
reforçar-se e consolidar-se nos próximos cinco anos.
Os ataques e a
animosidade contra a imprensa durante o congresso são apenas uma parte do ADN de
arrogância e autoritarismo que se tem vindo a estender a outras esferas da
agenda nacional desde o Congresso de Quelimane.
Julius Malema, já
não é dirigente da juventude do ANC e está neste momento a contas com a polícia.
A referência Malema corresponde a conotações racistas, a populismo político e a
enriquecimento ilícito. F.L.
SAVANA
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