Friday, 26 October 2012

Reconciliações

No passado dia 4 assistimos a cenas comovedoras nas comemoraçoes dos 20 anos de Paz em Moçambique.
Estou-me a lembrar, por exemplo, de uma porção de pessoas importantes, de mãos dadas, dizendo Olá Paz.

É verdade que todos os que ali estavam, de mãos dadas, pertenciam ao mesmo partido, enquanto os outros celebrantes da Paz e da Reconciliação o faziam em Quelimane, bem longe de Maputo.
Mas a questão é que todos falaram da reconciliação entre os moçambicanos, com ar sério e compenetrado.
Só que, passado esse dia, voltámos à realidade do nosso dia-a-dia em que autarcas do partido Frelimo não permitem as actividades normais de outros partidos nos seus municípios, nomeadamente o hastear de bandeiras a indicar onde são as sedes desses partidos, em que tribunais julgam os ilíctos eleitorais de militantes do MDM e esquecem, na poeira das suas gavetas, os imensos ilícitos eletorais do partido Frelimo, em que o Presidente do Município da Matola expulsou de um encontro o Presidente do município de Quelimane porque a sua presença estava a incomodar altas individualidades do partido Frelimo.
Formas bizarras de demonstrar a reconciliação entre os moçambicanos.
A ideia que dá não é de Paz e Reconciliação. É de que a guerra continua, embora sem o uso de armas mortíferas. Agora usa-se o abuso do poder, a trica, os actos ilegais, e até inconstitucionais, para combater o outro, para dificultar a vida e o trabalho ao outro.
E faz-se isso com a garantia da impunidade porque quem pratica esses actos pertence ao mesmo partido de quem controla os tribunais e a polícia.
Esperemos que estas reconciliações unilaterais não venham a dar para o torto.
O anúncio de que Afonso Dhlakama decidiu reforçar a sua segurança pessoal e de que foi visitar a sua antiga base na Casa Banana, ao mesmo tempo que organiza manifestações para Novembro, não me parece de bom augúrio.
Defendo, há muito tempo, que ele tem todo o direito de se manifestar nas ruas. Mas em manifestações pacíficas. Nada a ver com reforços de seguranças armados nem com bases de guerrilha.
Dhlakama não consegue, ao que parece, ultrapassar a sua fase de chefe guerrilheiro para se transformar em dirigente político. E creio que o ostracismo a que é votado pelo Governo, e pelo partido que o controla, em nada ajuda a essa transformação que seria muito de desejar.
Para o bem da Paz em Moçambique e, portanto, para o bem de todos nós.



Machado da Graça, Savana

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