Sunday 29 April 2012

A vez dos barraqueiros

Temos ainda presente a fervorosa discussão que o falecido edil Artur Canana travou com vendedores dos mercados Central e Xipamanine, quando na boa das intenções quis fazer passar a mensagem de requalificação daqueles centros comerciais. O actual edil, David Simango, na altura vereador, recorda-se perfeitamente dos apupos e insultos de que o seu então chefe do executivo do Maputo foi alvo e as explicações de como nada andou e nada foi feito.

Maputo, Segunda-Feira, 12 de Março de 2012:: Notícias
O que se passou na sexta-feira passada, a propósito da possível remoção das barracas dos passeios e locais públicos do Maputo é, quanto a nós, um problema muito antigo e que só o tempo se encarregou de fazê-lo adormecer. Agora que – passe a expressão – a porca levantou-se, toca todo o mundo a lançar dos mais variados impropérios.
Ora, infelizmente, nós realmente somos uma sociedade estranha, onde se faz levantamentos populares e com vigorosidade para defender o que está incorrecto, para defender práticas que nada têm de urbano.
Está claro para todo o mundo que há práticas que se enraizaram por aqui, que ferem grandemente as posturas camarárias e que, quando se pretende corrigi-las, o povo levanta-se a dizer que está a ser injustiçado. Esquecem-se muitos quais as causas que os levaram a vir viver aqui na cidade, período em que tudo se permitiu, no beneplácito de que um dia as coisas iriam ser metidas nos carris, mas agora de barriga cheia vêm dizer que o incorrecto é que é correcto.
Do mesmo modo se pode dizer que muita gente ignora que viver numa zona urbana tem custos bastante elevados, por isso que existem os subúrbios onde a lei e a vontade popular imperam sem regra. Será que muita gente estaria em condições de viver numa cidade se o Estado tivesse de cobrar o que justamente tem de se pagar para manter um prédio, um transporte público, a energia, enfim as coisas todas que dão vida à própria cidade?
Esquecem-se muitos que este Estado fechou os olhos a muitas coisas para permitir que as pessoas garantissem a sua sobrevivência, com consciência de que muitas delas chocavam com as regras de urbanidade. Resulta, claro, para todos nós, que barraca próxima da escola é moralmente degradante, que a venda de bebidas nos passeios e locais públicos nobres é vergonhoso, que essas coisas más que foram inventando serviram para destruir o tecido social da nossa sociedade, porque delas deu-se origem a muitos maus hábitos e práticas perigosas.
As pessoas andaram a pedir licenças para montar quiosques para a venda de comidas “take-away” e, com o tempo, mudaram de actividade e passaram a vender bebidas alcoólicas. Nada se disse e a isto tudo o Estado fez vista grossa, mas as pessoas esqueceram-se.
Se havia o beneplácito de que um dia as coisas iriam tomar um rumo certo, que as posturas iam ser postas a valer, por que agora o “zé povão” exalta-se e acha-se injustiçado? Será que o extremo degradante em que a sociedade maputense mergulhou-se por causa das más práticas não é suficiente para vermos que tem de se inverter o rumo?
As autoridades municipais acabam tendo culpa em todo este processo, dado que logo após a entrada da fase da autarcização não procuraram divulgar, em quinhentas se fosse o caso, o que cada postura camarária diz em relação a isto ou aquilo para que os munícipes ficassem sensibilizados sobre o que é bom e o que é mau. Por esta via, teríamos os cidadãos a repreenderem um outro cidadão se o vissem a mijar numa árvore, a lavar o carro sobre o asfalto, tocar música ao som alto e fora de horas, enfim uma lista longa que aqui não cabe.
Somos forçados a sugerir que se coloquem alguns mobilizadores na zona de “Drive-In” para ir explicando a quem entra na cidade aquilo que são as regras urbanísticas, as formas de viver numa urbe. Não estaremos enganados se assumirmos que há muito boa gente que ignora o que é viver numa cidade.
Nós, neste espaço, somos defensores das boas práticas, da boa vivência dentro de uma cidade e somos contra aquilo que não está bem, que seja nocivo ao esplendor de uma urbe.

Mubêdjo Wilson

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