Sunday, 29 April 2012

“Podem vender, mas deixem as ruas limpas ... e as pessoas a circularem”

David Simango comprou guerra e...rendeu-se!
Simango vergou-se à pressão dos vendedores informais e não conseguiu levar até ao fim a sua própria decisão de os tirar das ruas. Agora, vira-se para as barracas defronte das escolas, mas curiosamente a sua decisão não abrange as do Museu e Estrela Vermelha, os principais focos de venda de álcool.

Uma semana depois de dar ultimato aos vendedores informais para abandonarem as ruas da cidade de Maputo, David Simango colocou ele próprio ponto final às hostilidades, ao convidar os vendedores a continuarem nas ruas... a vender.
“Podem vender, mas deixem as ruas limpas e os passeios em condições para permitir a circulação de pessoas.”
Esta afirmação foi recebida com aplausos e júbilo por centenas de vendedores informais e proprietários das barracas, presentes no encontro com o presidente do município de Maputo, ontem de manhã, no Paços do município.
Este encontro seguia-se ao realizado na passada sexta-feira e que terminou de forma inconclusiva, porque David Simango disse que as pessoas que compareceram não eram as que ele esperava.
Ontem, e ultrapassada a questão de quem deveria estar presente no encontro, o presidente do conselho municipal anunciou a única coisa que os vendedores esperavam ouvir e fumou-se o cachimbo da paz.
Perspicaz, Simango optou por um discurso reconciliatório, fumando o cachimbo da paz e desanuviando um ambiente que chegara a ficar turvo com declarações incendiárias de vendedores enfurecidos.
Eufóricas depois de ouvir a declaração mais importante da reunião, por parte do edil de Maputo, os vendedores lá se prontificaram a ouvir Simango com outro entusiasmo.
O edil disse, por exemplo, que o objectivo do seu elenco não era acabar com o comércio informal na cidade de Maputo, mas sim disciplinar esta actividade.
Disse também que o conselho municipal estava a tentar encontrar formas para que esta actividade seja desenvolvida sem perturbar as outras actividades e a circulação dos munícipes.
David Simango sublinhou que o município que dirige sabe e está ciente de que há falta de emprego, não só em Maputo, mas em todo o Moçambique, e que os informais que estão nas ruas não o fazem pelo seu bel-prazer, mas sim por necessidade.
“Sabemos que só a Associação dos Trabalhadores do Sector Informal, Assotsi, conta com cerca de 60 mil membros. Juntando estes aos membros da segunda associação nesta cidade, estaríamos a falar de cerca de 80 mil pessoas que dependem do comércio informal. Portanto, se alguém pensou que o município queria correr convosco, está enganado”, disse, arrancando aplausos entusiásticos da composta plateia.

Barracas em locais proibidos
Simango retirou a mira dos vendedores informais, mas manteve-a apontada àqueles que têm barracas e ou vendem em locais proibidos por lei. Disse que a luta contra esses vai continuar e aí, sim, não haverá espaço para negociações.
“Há zonas, dentro da nossa cidade, que por decisão das autoridades competentes, esta actividade não pode ser permitida. E aí, o que tenho a dizer aos vendedores aqui presentes é que obedeçam a esta ordem”, atirou.
O presidente do município de Maputo referia-se a escolas, hospitais, infra-estruturas de defesa e segurança, que não podem ter barracas ao seu redor.
Para estes casos, o edil da cidade diz que reafirma a sua decisão e não haverá complacência.
“Analisamos e vimos que estamos a pôr em causa os outros interesses. Por isso, notificámos os proprietários destas barracas para uma retirada voluntária e os que se recusaram houve uma retirada compulsiva”, explicou.

Tiago Valoi, O País

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