Monday, 18 May 2009

Reflectindo sobre actual cenário político


SR. DIRECTOR!Nos últimos anos, através deste jornal que V. Excia condignamente dirige, tenho continuamente trazido diversos temas da vida social do país a fim de junto com os demais compatriotas que lutam nas várias frentes para o bem-estar desta pátria amada, podermos reflectir. Sendo assim, agradecia que mandasse publicar esta opinião.

Maputo, Segunda-Feira, 18 de Maio de 2009:: Notícias

O Presidente da República marcou para 28 de Outubro deste ano a realização simultânea das eleições presidenciais, legislativas e provinciais. Pelo país fora, o clima e os actores políticos estão convulsos para defrontar o processo.
Os partidos políticos, como sempre, cada um à sua maneira, prolongam-se em acções para ganhar as eleições, fazendo jus à máxima que, outrora, no auge da tentativa de construção do socialismo no país, o nosso saudoso presidente Samora Machel se inspirou em Mao-Tsé-Tung, antigo presidente chinês: “A vitória prepara-se, a vitória organiza-se”.
A Frelimo, por exemplo, tem-se reunido com regularidade na Matola para traçar estratégias nesse sentido. Por seu turno, a Renamo, através do seu líder, Afonso Dhlakama, pulula de província em província na região centro do país, andanças essas que culminaram com a marcação do seu congresso para Junho na cidade de Nampula.
Por outro lado, o MDM, de Daviz Simango, tem também em vista o pleito de Outubro, ampliando os seus horizontes pelo país. Sobre os outros partidos pouco se diz, no entanto, pode-se adivinhar que estejam na mesma azáfama.
Importa saudar e encorajar o partido de Davis Simango, esperando que não seja um mero partido para dispersar votos, mas o começo duma formação alternativa para muitos moçambicanos fartos dos tradicionais protagonistas da nossa cena política.
Todavia, o actual cenário político não se resume apenas nas correrias dos partidos políticos, nota-se também uma euforia por parte de muitos compatriotas. Estes, de forma efusiva cultivam atitudes bajulatórias, “lambebotistas” e troca de favores em detrimento dos seus valores e princípios.
A razão para tal conduta é tão mesquinha como esta: garantir tachos e benefícios no próximo mandato, assegurar espaço num ministério ou em qualquer poleiro do nosso frágil Aparelho de Estado para enriquecer delapidando o erário público.
A novela eleitoral deste ano será um pouquinho diferente, por abarcar três eleições e ter mais um partido, o MDM. Contudo, não vai mudar em muito porque já se pode prever o seu final: a Frelimo vai ganhar e como sempre o partido Renamo será o mau da fita.
Ao virarmos a esquina, aqui tão pertinho, concretamente na África do sul, apareceu-nos uma chicotada psicológica e uma boa lição sobre mais ou menos aquilo que deve ser o modelo ideal para a organização de eleições.
Houve dias de voto para deficientes físicos e mulheres grávidas, cidadãos na diáspora, entre outros, finalmente chegou o dia normal. Uma estrutura excelente que terminou em eleições calmas, sem ouvirmos gritos de fraude, nem o uso de dinheiros públicos para financiar campanhas.
Tudo isso deveu-se à seriedade e independência com que os órgãos sul-africanos lidam com questões nacionais e a postura dos partidos políticos. É que, na África do Sul, os grandes partidos não perdem tempo para roubar votos e a oposição tem maturidade suficiente para labutar em fainas do género.
Além disso, o que também me admira do vizinho é a forma como os quadros do ANC têm vindo a gerir o seu partido em várias frentes, o equilíbrio na escolha de pessoas oriundas de diversas etnias do país para dirigir os destinos da nação, preservando aquilo que o nosso Eduardo Mondlane sempre defendeu: a unidade nacional.
Nelson Mandela, o primeiro presidente negro, bem como o seu sucessor, são ambos da etnia Xhosa. Jacob Zuma, o recém-eleito a presidente, provém dos Zulus. E há “profetas” vaticinando a possibilidade dos nossos irmãos Changanas de lá atingirem os píncaros do poder sul-africano a longo prazo.
Oxalá que isso aconteça!
E cá entre nós? Quando é que chegará a vez dum makhuwa, chuabu, makonde, towa, yao, nyanja, sena, nyungue, marenge, mayindo, entre outros que completam esta nossa bela diversidade cultural? Ou pensa-se erradamente que nessas etnias não há gente em altura para tal?
Compatriotas, não acham estarmos a monopolizar o mais alto cargo da Nação para um certo grupo regional? Quem me garante que os nossos erros, as nossas desavenças do passado e até a guerra civil que sacrificou milhares de nossos irmãos inocentes não tiveram como causa essa predisposição? Quem?
Portanto, peguemos o exemplo desta terra, que um dia foi de Pieter Botha, para reflectirmos sobre as nossas questões mais pontuais, sobretudo a nossa ganância e egoísmo exacerbados.
E, por tudo que seja mais sagrado nesta vida, espero que Deus abençoe Moçambique, inspirando aos seus governantes mais sabedoria e justiça na direcção dos anseios do seu povo, como de antemão fizera para o rei Salomão.
Pensemos nisso, compatriotas!


( Félix Filipe, notícias, 18/05/09 )


NOTA:
Uma carta muito coerente que nos convida a reflectir!

1 comment:

Anonymous said...

Sim, vamos reflectir e aprender algo com o exemplo das eleicoes na RSA. Sei que decorreram de forma organizada e sem incidentes de relevo. Maria Helena