Friday, 29 May 2009

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA RENAMO

por Maria Moreno



Exmo. Senhor Presidente do Partido RENAMO Maputo.
Excelência.
Escrevo-lhe, Senhor Presidente, porque não é bom que eu me afaste sem uma palavra, uma explicação – depois de tantos anos de convívio, em que o senhor representou uma boa parte da nossa Esperança colectiva, depois de tantos anos juntos “na trincheira” pela liberdade, pela Democracia.
Os moçambicanos sonharam com a Independência, nutriram esse sonho, essa Esperança e alcançaram-na. Nós estávamos lá. Depois veio a guerra, por causa da Esperança (sempre por causa dela), essa Esperança que se recusa a morrer – dizia eu, veio a guerra. A guerra ainda tão recente, mas também e, felizmente, atirada para a história, para o passado, para uma gaveta que nunca mais quereremos reabrir – é bom que não queiramos reabrir.
Senhor Presidente, depois veio a guerra, qual filme de Akiro Kurosava, o Senhor Presidente era o senhor da guerra – majestoso, imparável. Dos relatos, contos e ditos, o senhor era o grande comandante.
Senhor Presidente, depois veio a PAZ – o abraço em Roma, depois de tantos avanços e recuos (espero que alguém um dia escreva a saga da assinatura do Acordo Geral de Paz – AGP – uma pequena sigla, não é?). Depois, Senhor Presidente, veio o AGP. Aí sim, o AGP foi para todos os moçambicanos e amigos de Moçambique um alívio, um renascer da Esperança (outra vez a Esperança!) Mas que Povo é este que precisa de esperança como de “pão para a boca”, como de ar para respirar? É o Povo Moçambicano do Rovuma ao Maputo que sabe que tem um enorme potencial, que sabe que este País é viável e que a sua fé e esperança não são vãs.
Depois veio, Senhor Presidente, a implementação do AGP – o tal da pequena sigla, mas de grandes repercussões em nossas vidas -, com pleitos eleitorais perdidos de forma difícil de entender, prisões e mortes. E fomos ficando parados no tempo, estáticos, ultrapassados.
Escrevo-lhe, Senhor Presidente, para lhe dizer que não conte mais comigo nas fileiras da RENAMO, me desligo do Partido. Por causa da Esperança que nunca perco, me desligo do Partido.
Agradeço-lhe o ter-me confiado a direcção da Bancada Parlamentar da RENAMO-União Eleitoral, onde dei o melhor de mim para que todos se sentissem com direito à visibilidade que é a arena dos politicos e para que o nome da RENAMO soasse alto.
Talvez o Senhor não saiba, mas contraí uma dívida na BRUE – trinta mil meticais - para preparar a campanha eleitoral das Autárquicas de Novembro de 2008, para acrescentar aos outros trinta mil que Vossa Excelência me enviou e a mais duas centenas de milhar de Metical que pude investir naquele esforço. Não gostaria de manter-me endividada por muito tempo, por isso, honrarei meu compromisso de devolver a quantia solicitada à Bancada.
Escrevo-lhe esta carta em memória da minha mãe que sempre me incentivou para a luta, em honra de meu pai que não desistiu de lutar e por respeito a tantos compatriotas que não perderam a Esperança.
Termino, desejando muita saúde para si e Familia.
Maputo, aos 28 de Maio de 2009

(Maria José Moreno)

Canal de Moçambique, 29/05/09

2 comments:

Anonymous said...

Uma excelente carta por Maria Moreno. Acho que ela teve uma atitude correcta. Nao se deve permanecer num partido so por causa de saudosismo, amizade ou por amor a camisola, quando o mesmo viola os principios basicos pelo qual se regia e no qual se acreditava. 'Tao ladrao e o que vai a vinha, como o que fica no portao'. Que ainda la continua so pode la estar por interesses secundarios ou alguma agenda secreta. Afonso traiu-nos... assim ja nao da. Apostemos no futuro e esquecamos o passado. Maria Helena

JOSÉ said...

Gostei desta carta, muito simples e directa.
Vamos ficar atentos a mais notícias sobre Maria Morena nos próximos tempos.