Lamento ter que voltar ao tema, mas, infelizmente, a situação continua grave e a necessitar de ser tratada.
A Rádio, que devia ser de todos nós, colocou-se, clara e deliberadamente, ao serviço de apenas alguns de nós. Mais concretamente do partido Frelimo.
O aspecto que mais ressalta, agora, é o programa Cartas na Mesa. A partir da passada segunda-feira, esse programa iniciou aquilo a que chama um balanço da governação, área por área. Se bem percebi, aquilo vai durar até se esgotarem os ministérios.Todas as semanas vamos ter, durante uma hora, um ministro a fazer o balanço do seu ministério durante o mandato que está prestes a terminar.
Sem praticamente nenhuma contraparte. Ali, sozinho, defendendo o seu trabalho.
O programa Cartas na Mesa, normalmente, tem a possibilidade de os ouvintes telefonarem para dar a sua opinião. Nesta série, que agora começou, essa possibilidade foi anulada. Foi substituída, no dizer dos fazedores do programa, por emails e inquéritos de rua. Lá iremos mais adiante.
Nada se prevê em termos de haver vozes da oposição a participar neste “balanço” totalmente unilateral.
E o resultado foi já visível no primeiro programa da série. O convidado era o Ministro da Energia, Salvador Namburete, que declarou, obviamente, que o balanço, na sua opinião, era positivo. Não tenho a menor dúvida de que, semana após semana, a frase se vai repetir. Sem ninguém com possibilidade de contestar a afirmação.
Neste primeiro programa foram apresentadas algumas entrevistas de rua. As pessoas queixavam-se do preço da energia e dos cortes frequentes. Ao seu nível não havia nenhuma capacidade de pôr em causa as políticas macro do sector.
O entrevistador, Leonel Matias, por seu lado, fez sempre as perguntas com pezinhos de lã. Com medo de ferir sua Excelência. Sem nada que se pudesse apelidar de agressividade jornalística.
Nem sequer quando Salvador Namburete afirmou, abertamente, que nunca tinha ouvido falar da relação entre grandes barragens e tremores de terra.
Quantas coisas de importância estratégica haverá, naquela área, de que o nosso Ministro nunca tinha ouvido falar? Provavelmente milhares.
E nem sequer isso é uma questão muito importante. O importante é, quando alguém levanta uma questão, ir procurar apoio técnico onde ele exista, em vez de atirar a questão para trás das costas, com desprezo.
Eu, pessoalmente, também nunca tinha ouvido falar dessa relação. Mas, se aparecem especialistas a falar dela, não creio que seja possível ignorar essa relação, correndo o risco de um desastre de proporções inimagináveis.
Onde estará Salvador Namburete no dia em que as barragens de Kariba, Cahora Bassa e Mpanda Nkua ruírem, devido a um tremor de terra? Será possível, nesse momento, chegar perto dele com um microfone para ele justificar as decisões tomadas?
Mas não é só através deste programa que se revela o envolvimento da Rádio Moçambique com a campanha eleitoral do partido Frelimo.Outros órgãos de informação referiram o caso de a nossa Rádio ter interrompido, durante um longo período, a transmissão em directo da Assembleia da República para transmitir um discurso de Armando Guebuza na reunião da Associação dos Antigos Combatentes.
Podem-me dizer que se tratava de uma intervenção do Presidente da República. Mas eu digo que não. Tratava-se, apenas, de uma intervenção de um presidente de um dos partidos concorrentes às próximas eleições fazendo, abertamente, campanha a favor do voto no seu partido.
Tudo isto é inaceitável num país que se diz de democracia multi-partidária.
Tudo isto é propaganda política de um determinado partido à custa das contribuições de todos nós. À custa dos nossos impostos e taxas.
E isto tem que parar.
Levantemos todos a nossa voz para que o único órgão de informação com impacto eleitoral, a Rádio Moçambique, deixe de ser a rádio de apenas um partido e passe a ser, verdadeiramente, nacional.
P.S. – O Presidente da República disse, em Nampula, que nenhum moçambicano se deve sentir rico neste momento. Da parte do cidadão Armando Guebuza esta afirmação merece ser registada.
( Por Machado da Graça, no Savana )
2 comments:
A afirmacao de A. Guebuza esta revestida de cinismo... para alguem que enriqueceu vendendo patinhos. No entanto, nos autorizamos que isto aconteca em Mocambique, nao aprendemos a licao e voltamos a votar no mesmo partido e noes mesmos que nos negam os direitos basicos, embora tenhamos outras opcoes bem melhores. "Preso por ter cao... e preso por nao ter cao". Deveriamos de boicoitar a RM e exigir que outros partidos tivessem os mesmos direitos, o mesmo tempo de antena e todos pagassem a mesma conta. Maria Helena
Os patos do Guebuza devem ser aqueles que acreditam nessas historias.
A RM, a TVM e alguns jornais continuam a ser usados como arma de propaganda da Frelimo e isso e inaceitavel em democracia.
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