Monday, 4 May 2009

Eleições em Moçambique serão um teste para a oposição

- escreveu a France Press para a TV Globo do Brasil
Maputo (Canal de Moçambique) - Moçambique programou para 28 de Outubro as eleições nacionais, que os analistas acreditam que marcará o fim dos antigos rebeldes da Renamo como um grupo de oposição nessa jovem democracia, escreveu ontem a agência France Press citadada pela Televisão brasileira Globo, de onde extraímos o texto que se segue e aqui publicamos com a devida vénia, para se ter uma ideia do que por lá por fora se está a escrever sobre nós neste período pré-eleitora
A Renamo perdeu no passado a maioria das eleições e, agora, se arrisca a perder sua condição de segundo lugar para o novato Movimento Democrático de Moçambique (MDM), segundo os analistas. Com o partido Frelimo (no poder) disputando a vitória, os analistas acreditam que pelo menos um partido de oposição deveria obter um apoio significativo para evitar a volta do sistema de domínio de uma única formação que resultou numa guerra civil de 16 anos de duração.
"Se o MDM não conseguir ter uma expressão significativa no parlamento, e se a Renamo tiver em 2009 um resultado semelhante àquele que teve agora nas eleições autárquicas - menos de 20 por cento -, isso significa que a Frelimo teria 70, 75 por cento das cadeiras assentos no parlamento, e eu acho que existe um perigo de voltar a um sistema monopartidária".
A Renamo se orgulha de ter lutado para estabelecer uma democracia multipartidária em Moçambique durante a guerra civil contra a Frelimo - então um partido marxista-leninista - seguida da independência de Portugal em 1975.
Mas a Renamo também sempre lutou para superar sua imagem de guerrilha armada que travou uma guerra de desestabilização com a ajuda da antiga Rodésia branca, actual Zimbabwe, e a África do Sul do apartheid. Depois do acordo de paz de 1992, a Renamo jamais conseguiu reverter sua bem-sucedida rebelião em êxito nas urnas.
O líder do partido, Afonso Dhlakama, conduziu sem êxito três campanhas presidenciais e a Renamo nunca conseguiu maioria no parlamento.
Nas eleições gerais de 2004, a coligação da Renamo obteve apenas 30% dos votos. Dhlakama perdeu para o actual presidente Armando Guebuza por uma margem de dois para um votos. José Jaime Macuane, analista político da Universidade Eduardo Mondlane, argumenta que a Renamo nunca conseguiu verdadeiramente se transformar de grupo rebelde armado num partido político. "O problema da Renamo é estrutural. A Renamo é um partido que se estruturou em torno de indivíduos, em torno da oposição a um regime, mas só que este regime já não existe como tal. E a Renamo não conseguiu se converter ao novo contexto de competição eleitoral democrática, que exige um outro tipo de abordagem, exige um outro tipo de organização interna."
"A Renamo é fraca, não traduz votos em postos políticos; por consequência afasta o eleitorado, ao afastar o eleitorado torna-se mais fraca ainda, torna-se cada vez menos relevante. O que nós encontramos nos eleitores da Renamo é esta pergunta: "Para quê votar na Renamo se o meu voto não se traduz em poder político?", questiona Miguel de Brito.
Neste ano, a corrida presidencial vai ser uma nova disputa entre Guebuza e Dhlakama, que já conseguiram a indicação de seus respectivos partidos.
A disputa também deve incluir Daviz Simango, fundador do novo MDM.
Simango, prefeito (Edil) da segunda maior cidade do país, Beira, chamou a atenção do país no ano passado depois que superou a Renamo (e a Frelimo) e venceu uma eleição local.
A vitória fez de Simango o único prefeito não pertencente à Frelimo em Moçambique e deu a ele o momento certo para formar o MDM, levando vários membros proeminentes da Renamo com ele. Os analistas dizem que a chegada do MDM pode dar uma reformulada na política moçambicana, onde o domínio crescente da Frelimo foi acompanhado de uma crescente falta de credibilidade. A economia cresceu desde o fim da guerra civil, numa média de 8% por ano de 1996 a 2007, de acordo com o Banco Mundial.
Mas esse crescimento não beneficia a maioria dos habitantes: o país é um dos últimos no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, que avalia a qualidade de vida da população. "Este padrão de crescimento que favorece essas elites tradicionais é o que faz com que essas mesmas elites tenham portanto a possibilidade de drenar esses recursos para fortalecer o seu partido de eleição, que por acaso é a Frelimo. Estes padrões de acumulação geram desencanto no grosso dos eleitores, porque o potencial e a rentabilidade distributiva são mínimos. Então gera desencanto no eleitor mediano, que não vai votar", afirma Macuane.
"Para qualquer partido o grande segredo, que nenhum ainda conseguiu encontrar, nem a própria Frelimo, é como convencer os outros 50 por cento que não votam a voltar às urnas. O partido que conseguir fazer isso vai ganhar muito", afirma Brito, acrescentando que os novos eleitores são a chave para uma verdadeira democracia competitiva em Moçambique.

(Redacção / France Press / TV Globo – Brasil)

4 comments:

Ximbitane said...

Ops, entre meias-verdades e outros espinhos, gostaria é de ver de facto os outros 50% a votarem. Isso sim!

Anonymous said...

Eu gostaria de ver um Mocambique livre, democratico, prospero em que houvesse lugar para todos os cidadaos, independentemente da sua afiliacao partidaria, cor, religiao, tribo, etc. Maria Helena

JOSÉ said...

Ximbi, e necessario que os 50% que nao votam usem desta vez o voto como arma para a mudanca.

Entretanto, e interessante questionar quais as razoes que levam os mocambicanos a optar pela abstencao. Eu ja fiz esse exercicio ao conversar com muita gente e as razoes que me deram para a abstencao deixam-me intranquilo.

JOSÉ said...

Maria Helena, esse tem sido mesmo o sonho que tem consumido a minha vida e penso que ainda veremos esse ambicionado Mocambique!