Bom dia Julião
Como estás tu e a tua família? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Hoje queria comentar contigo uma coisa a que acho muita piada: a propaganda que a FRELIMO faz com base em pessoas de outros partidos que passam a filiar-se no partidão.
Hoje são seis aqui. Amanhã são vinte acolá. No outro dia são mais 15 num outro sítio e por aí adiante.
E os órgãos de informação que lhe são afectos, isto é, os do sector público, pagos por todos nós, dão grande relevo a essas mudanças de partido.
O que nunca é referido é o processo em sentido contrário: os que passam da FRELIMO para outros partidos.
Ora aqueles que, como eu, viveram os tempos imediatamente a seguir à independência nacional sabem que, nessa altura, toda a gente era da FRELIMO.
Se não eram 100% dos moçambicanos, pelo menos mais de 90% eram.
Hoje, se avaliarmos os resultados dos vários processos eleitorais que já decorreram, há milhões de moçambicanos que votam em outros partidos que não a FRELIMO.
Para dizermos a verdade, nas últimas eleições gerais os votos na FRELIMO foram de uma reduzida minoria. A maioria absteve-se ou votou na oposição.
Porque será, então, que se fala tanto numas dezenas de pessoas que se passaram para a FRELIMO e nada se diz sobre os milhões de pessoas que saíram desse partido?
Não haverá aí um grande desequilíbrio? A mim parece que sim.
Vamos ver, depois da próxima votação, em que é que param as modas. Se continua a haver a mesma alta tendência para a abstenção e, caso não haja, para
que lado se inclinam os que antes não votavam e agora passaram a votar. Isso nos dará uma ideia mais clara de qual é a tendência de evolução do eleitorado.
Não serão aqueles poucos cidadãos, apresentados nos comícios, que serão significativos para compreendermos o fenómeno. Nem sequer a nível local, quanto
mais a nacional.
Mudando de assunto.
O Presidente da República, igualmente candidato da FRELIMO à sua própria sucessão, elogiou, recentemente, a actuação da Polícia no decorrer da campanha eleitoral ao dar posse ao novo Reitor da ACIPOL.
E é compreensível esse elogio, mais do candidato Guebuza do que do Presidente Guebuza.
E ilustro com um exemplo:
No sábado passado havia, como é normal, uma longa bicha de carros junto do “ferry” que faz a passagem entre Maputo e a Catembe.
A certa altura aparece um carro da Polícia que interrompe a bicha e faz passar à frente de toda a gente uma coluna de carros da campanha eleitoral de um determinado partido. Qual partido?
Acertou, amigo leitor, foi mesmo da FRELIMO.
E assim lá se foi o “ferry”, levando a coluna de viaturas da FRELIMO e deixando ficar do lado de cá uma série de carros que estavam na bicha e teriam entrado se não fosse a arbitrariedade da Polícia em apoio do “batuque e maçaroca”.
Imagina lá, meu caro Julião, quantos possíveis votantes na FRELIMO não terão mudado de opinião naquele momento.
Eu diria que, mais do que o que fez ou não fez o seu Governo, são estes abusos, estas faltas de respeito, estas trafulhices eleitorais, que retiram votos à FRELIMO, que lhe retiram o apoio de uma parte significativa do eleitorado que não gosta de ver o jogo democrático falseado.
Nos dias antes do início da campanha eleitoral foram feitos vários debates sobre a cobertura, pelos órgãos de informação, da campanha. Um mesmo na Rádio Moçambique.
Pois se tu ouvires qualquer exemplo do Diário da Campanha daquela emissora verás que todas as edições começam com notícias da FRELIMO e do seu candidato. Depois começam a percorrer as variadas províncias e, em cada uma delas, as notícias começam também, sempre, pela FRELIMO e por Guebuza.
Isto para não falar no tempo que é dedicado a cada candidato e até mesmo da qualidade sonora dos apontamentos.
Há dias, noticiando de Tete, falou Armando Guebuza. Na notícia logo a seguir falou Maria da Luz Guebuza e, na seguinte, a delegada da FRELIMO naquela província. Só depois houve escassas notícias sobre os outros partidos.
Será por acaso isto? Não é, obviamente.
Só não percebo por que andaram a gastar tempo e dinheiro a fazer os tais debates.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 09.10.2009
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