Tuesday, 13 October 2009

Chipande manda passear a dita democracia


Na Beira

“Daqui não saímos, daqui ninguém nos tira. Nem com as eleições nem com a dita democracia ninguém nos tira” – Alberto Joaquim Chipande, chefe da Brigada Central do Partido Frelimo para as eleições em Sofala “Pelo menos ficamos a saber que quem não quer democracia neste país é a Frelimo. Chipande deixou cair a máscara da Frelimo, que não está interessada no exercício democrático, hoje como ontem” – Gabriel João, académico



Beira (Canalmoz) – Os recados ao País tem vindo da Frelimo por via de Alberto Joaquim Chipande, antigo combatente da luta de libertação nacional, vulgo o guerrilheiro do “primeiro tiro” que simboliza o início da guerra anti-colonial. Assim vamos todos ficando a saber o que foi traçado como destino por um punhado de senhores que se apoderaram do futuro de Moçambique. “Daqui não saímos, daqui ninguém nos tira. Nem com as eleições nem com a dita democracia ninguém nos tira”. São palavras textuais proferidas na Beira por Alberto Joaquim Chipande, chefe da Brigada Central do Partido Frelimo para as eleições em Sofala, em plena campanha eleitoral.
Já se tornou normal que os acontecimentos discutidos no seio da nomenklatura cheguem a público via Chipande. E desta vez, na Beira, voltou a ser o ex-ministro da Defesa de Samora a deixar claro que as eleições não passam de uma farsa e a dita construção da democracia é apenas uma encenação de fachada. As suas palavras ditas a semana passada são inequivocamente esclarecedoras: “Daqui não saímos, daqui ninguém nos tira. Nem com as eleições nem com a dita democracia ninguém nos tira”.
Em Agosto passado, foi o mesmo Chipande quem afirmou os dirigentes da Frelimo fizeram a luta armada para se tornarem ricos.
Alberto Joaquim Chipande, é o chefe da brigada central da Frelimo em Sofala. Voltou a trazer à tona, a semana finda na Beira, aquilo que é o consenso ao nível do establishment do partido dos camaradas, já que até aqui ninguém o desmentiu: “daqui não saímos, daqui ninguém nos tira” Este pronunciamento, que teve eco num jornal matutino local e na TVM, órgão público, este, que serve deliberadamente a Frelimo nesta campanha eleitoral, fê-lo Chipande num dos bairros da cidade da Beira.
Os comentários de quem já tomou conhecimento destas palavras não abonam a democracia em Moçambique. As pessoas não escondem que a partir de agora está claro e explícito que as eleições marcadas para 28 de Outubro “não serão mais do que uma farsa”. “Uma burla”. “Um exercício em que há um vencedor antecipado”, “um acto em que já há um partido à partida ganhador”. Foram algumas frases que registámos de entre os comentários que ouvimos.
Se alguma dúvida paira ainda em torno das revelações de Chipande, são dele também as seguintes palavras: “A campanha que estamos a fazer é para as eleições de 2014, visto que para as eleições deste ano já ganhámos”. Várias sensibilidades a quem contactámos, na Beira, manifestaram-se surpreendidas com o teor das afirmações de Chipande. Segundo um académico, Gabriel João, “pelo menos ficamos a saber que quem não quer democracia neste país é a Frelimo. Chipande deixou cair a máscara da Frelimo, que não está interessada no exercício democrático, hoje como ontem”.
Outras vozes, que pediram anonimato por temerem represálias, acrescentaram que com isto fica cada vez mais claro o porquê da exclusão de partidos e candidatos presidenciais. Mas vai havendo quem já esteja por tudo e não aceite “por algemas nas palavras”. “A Frelimo sabe que em eleições livres, justas e transparentes não irá passar. De modo que sobre este processos resvalam as suas impressões digitais nos boletins de voto para anularem os votos nos outros. E assim também os tentáculos dentro da Comissão Nacional das Eleições (CNE) e o Conselho Constitucional. E quando isto se manifesta abertamente é sintomático de que não temos Estado de direito, estamos próximos de uma ditadura mais atroz do que a dos anos imediatamente a seguir à proclamação da independência nacional”, palavras de Feliciano Dique, professor primário.
“Estas eleições já estão viciadas. Resta saber o porquê de ser ir às urnas no dia 28 de Outubro. Olho os sinais da Frelimo com desconfiança. De actores da independência, definitivamente poderão passar à história como uma força ditatorial.”
Para Feliciano Dique “há que tomar a sério as palavras de Chipande, que só vem secundar o que Marcelino dos Santos disse no final de 1999: A Frelimo não entregará o poder aos bandidos armados”. Disse-o numa entrevista ao Diário de Moçambique. E tanto dos Santos como Chipande são da nomenklatura frelimista.
Marcelino dos Santos é tão vinculativo que chegou já a dizer: “Eu sou da Frelimo. Eu sou a Frelimo”. “As palavras de Chipande são só mais um aviso à navegação de que a Democracia está mesmo em perigo em Moçambique”, alerta Dique que acrescenta: “a forma de pensar na Frelimo, é que, à excepção dos combateram, todos os outros são bandidos armados e por tabela não podem dirigir os destinos deste país.”
Num breve contacto com a nossa Reportagem na Beira, o membro da Comissão Política do MDM, Eduardo Elias, comentando as palavras de Chipande questionou: “Assim, por que iremos às eleições em 28 de Outubro?”


(Adelino Timóteo, CANALMOZ, 12/10/09)

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