Seguindo tradição do Partido Frelimo
Maputo (Canalmoz) - Nyelete Mondlane, filha do primeiro presidente da Frelimo, mantém-se fiel à linha do actual partido no poder em Moçambique, falsificando a história recente do nosso país. Nyelete, que concorre pelo Partido Frelimo no círculo eleitoral da Zambézia, é referida como tendo declarado no Gurué que o pai dela foi morto por Uria Simango. “Quem matou o meu pai foi Uria Simango”.
De acordo com o nosso colega, Diário da Zambézia, a candidata do Partido Frelimo fez tal declaração quando falava no Gurué, local anteriormente visitado pelo líder do MDM, Daviz Simango, candidato a estas presidenciais do próximo dia 28 do corrente mês, e filho do reverendo Uria Simango.
Um Boletim da Frente de Libertação de Moçambique da época (1969), quando o seu editor era o jornalista Ian Christie, assume que Eduardo Mondlane foi assassinado na residência de Betty King, uma americana que era secretária de Janett Mondlane, mãe de Nyelete que na altura se encontrava na Europa com os filhos. O partido Frelimo durante anos andou a dizer que Mondlane foi assassinado nos escritórios da Frente de Libertação de Moçambique em Dar es Salaam, mas acabou por admitir em 2006 que essa afirmação que andou décadas a propalar não passou de uma falácia. Eduardo Mondlane foi morto na residência de Betty King, em Oyster Bay, em Dar es Salaam, capital da Tanzania. Chissano, Marcelino dos Santos e sua ex-esposa, Pamela Santos, chegaram a ser detidos pela Policia da Tanzania no decurso das investigações.
Uria Simango foi, com Eduardo Mondlane, um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique. Era o vice-presidente da FRELIMO. Viria a ser sumariamente assassinado, juntamente com sua esposa e outros quadros da ex-Frente de Libertação de Moçambique, por ordens da direcção do Partido Frelimo, criado em 1977. O assassinato extra-judicial de Uria, de sua esposa e outros, ocorreu já depois da Independência Nacional e até hoje o Estado Moçambicano não devolveu os restos mortais do reverendo Uria Simango à Família Simango.
Urias Simango e outros nacionalistas defendiam a economia de mercado e o pluralismo democrático, conceitos que viriam a ser adoptados como filosofia de Estado depois do acordo de Paz de Roma que permitiu, em 1992, o fim da guerra civil. Por ter sido considerado “reaccionário” foi assassinado de forma extra-judicial, como confessou em plena Assembleia da República, na primeira legislatura pluralista, o coronel SérgioVieira actual director do Gabinete de Planeamento do Zambeze (GPZ) e ex-ministro da Segurança. “Nós fizilámos” disse então Sérgio Vieira.
Tal como no caso de Samora Machel, vítima de um acidente de aviação causado por tripulantes negligentes quando Sérgio Vieira era o ministro da Segurança, o Partido Frelimo volta agora a escamotear os factos em torno da morte de Eduardo Mondlane pondo a PIDE de lado quando se lhe afigura oportuno tentar queimar a imagem de um candidato que paulatinamente vai somando pontos e consolida pelo país a popularidade que se expande a partir do meio que o elegeu para dirigente camarário.
Fazendo um aproveitamento político de tragédias que enlutaram a nação, os membros e dirigentes do Partido Frelimo não hesitam em recorrer, em moldes escandalosos, à mentira com o fito único de denegrir a postura de um destacado dirigente da oposição, por sinal, filho daquele a quem Nyelete Mondlane, de forma irresponsável e recorrente em pleno período de campanha, atribuiu a autoria da morte de Eduardo Mondlane.
Segundo foi apurado pela Polícia de Investigação Criminal (CID) tanzaniana, Uria Simango escapou miraculosamente ao atentado bombista que vitimou o primeiro presidente da Frelimo. O inspector daquela polícia Geoffrey Sawaya, é citado em documentos do Departamento de Estado norte-americano como tendo declarado a funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Dar es Salaam, que Uria Simango chegou mesmo a rasgar o embrulho que continha a encomenda-bomba que ceifou a vida a Mondlane para ver de que livro se tratava. Ao reparar que era um livro em francês, idioma que não falava, Uria Simango voltou a fechar o embrulho.
Os mesmos documentos, citando sempre o Inspector Geoffrey Sawaya, referem ainda que a CID tanzaniana viria a interceptar em Nachingwea uma segunda encomenda-bomba, esta endereçada ao próprio Uria Simango. Uma terceira encomenda-bomba, esta endereçada a Marcelino dos Santos, viria igualmente a ser interceptada pela polícia tanzaniana, segundo declarações de Geoffrey Sawaya citadas nos referidos documentos do Departamento de Estado.
A forma leviana como Nyelete Mondlane adultera os factos põe inclusivamente em cheque a versão que outros membros do Partido Frelimo têm vindo a defender sobre a morte de Eduardo Mondlane, mormente Sérgio Vieira que nunca envolveu o nome do então vice-presidente da Frelimo no atentado contra o seu superior hierárquico.
O modo como os membros do Partido Frelimo se contradizem a cada passo já havia sido posto em evidência em Chimoio onde o candidato presidencial dessa formação política foi citado como tendo dito, por ocasião do 23° aniversário do acidente de Mbuzini, que Samora Machel havia sido “vítima do regime do apartheid”. Há precisamente um ano, esse mesmo candidato, Armando Guebuza havia revelado em comunicado oficial, que a Procuradoria-Geral da República andava a “trabalhar no dossier” Mbuzini desde Maio de 2008, o que sugere de forma insofismável que o propalado “crime” de que Machel foi alegadamente vítima terá ocorrido, não em terras do apartheid – em relação às quais, aliás a PGR moçambicana não tem poderes jurisdicionais – mas em território moçambicano. É sabido que o avião que transportava Samora Machel acidentou-se em Mbuzini, território sul-africano junto à fronteira da Namaacha.
(CANALMOZ, 22/10/09)
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