Friday, 9 October 2009

Muro de Berlim ruiu há 20 anos



A propósito e segundo o académico, André Thomashausen, Moçambique “embarcou numa linha política marxista-leninista, semelhante à de Angola, e que ele classifica de “elitista e de exclusão”, copiada do modelo soviético e de subordinação, em particular, à Alemanha de Leste, linha essa que, segundo observadores, permanece intacta, se bem que com algumas variantes de fachada em que um mesmo partido joga mão de artimanhas várias para perpetuar o regime imposto à nação em 1975.

Pretoria (Canalmoz) - O Muro de Berlim, linha divisória entre a opressão e a democracia, mandada edificar pelo regime instalado na chamada República Democrática Alemã, desmoronou-se há 20 anos, arrastando na derrocada o império soviético. Para o analista político, André Thomashausen, “o Muro ruiu porque as políticas económicas de planificação socialista não apenas falharam como entraram em colapso”. Numa comunicação apresentada terça-feira no Centro de Língua Portuguesa da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, Thomashausen considerou que “embora trágicos para a Alemanha, a Guerra Fria e o Muro de Berlim causaram imenso sofrimento em Angola e Moçambique, com destaque para Angola, ponta de lança da ex-União Soviética na região.”
Thomashausen, que chefia o departamento de Direito Público, Constitucional e Internacional da Universidade da África do Sul (UNISA), recordou que o preço em vidas humanas (136 alemães morreram entre 1961 e 1989 na tentativa de transpor o Muro) e a devastação da luta entre as duas superpotências de então foi muito mais trágico para a África Austral, e que a região só pôde iniciar o seu processo de estabilização depois da queda do Muro de Berlim em 09 de Novembro de 1989.
Depois de fazer uma resenha dos sistemas marxistas-leninistas implantados em Angola e Moçambique em 1975, logo a seguir às declarações de independência, André Thomashausen salientou que a natureza do próprio regime angolano - “elitista e de exclusão” - viria a precipitar uma guerra civil logo após a independência que não foi, no imediato, resultante da intervenção das superpotências. Mas o constante desdobramento de tropas cubanas e a crescente influência soviética no conflito viriam, segundo Thomashausen, a centrar na região uma das piores frentes da Guerra Fria criadas no globo.
“A criação da UNAVEM 1 e a retirada de 40 mil militares cubanos de Angola nunca teriam sido possíveis sem a queda do Muro de Berlim. A capacidade da União Soviética de expandir o seu poder e influência globalmente estava seriamente enfraquecida pela sua derrota no Afeganistão, de onde tinha sido forçada a retirar as suas tropas em 15 de Fevereiro de 1989, nove meses antes da queda do Muro de Berlim”, destacou o académico.
Thomashausen disse que “o maior choque e desafio para partidos como o MPLA foi, então, garantir a sua sobrevivência política apesar do descrédito lançado sobre as fundações ideológicas da sua governação” com o falhanço do marxismo e o colapso do império soviético.
Referindo-se a Moçambique, Thomashausen destacou um percurso completamente diferente entre a independência e a queda do Muro de Berlim. Segundo o académico, Moçambique “embarcou numa linha política marxista-leninista, semelhante à de Angola, e que ele classifica de “elitista e de exclusão”, copiada do modelo soviético e de subordinação, em particular, à Alemanha de Leste, linha essa que, segundo observadores, permanece intacta, se bem que com algumas variantes de fachada em que um mesmo partido joga mão de artimanhas várias para perpetuar o regime imposto à nação em 1975.
Mas depois, disse Thomashausen, Moçambique acabaria por mudar de rumo em pontos importantes da sua política externa, assinando um pacto de não-agressão (conhecido por Acordo de Nkomati) com a África do Sul em 16 de Março de 1984, lançando as bases para o fim do conflito armado com o seu poderoso vizinho do sul, o qual não só tentava manter vivo o sistema do “apartheid” como também se via rodeado de ameaças do bloco soviético.
Mais do que a queda do Muro de Berlim, referiu Thomashausen, a solução sustentada para o conflito moçambicano viria a ser ditada pela forte e positiva influência do Quénia, iniciada em 1988 por intermédio do secretário permanente para os assuntos externos, Bethuel Kiplagat, e que teria levado a Frelimo e a Renamo a assinar os Acordos de Roma.
“A interpretação de alguns autores, segundo a qual a mediação queniana teria falhado quando Roma, em vez de Nairobi, foi escolhida para as negociações não poderia estar mais longe da verdade. O papel dos anfitriões das sucessivas rondas de negociações em Roma, na comunidade católica de Santo Egídio, foi comparativamente modesto e de natureza secretarial”, concluiu Thomashausen.

(CANALMOZ / LUSA)

2 comments:

Maria Helena said...

O que fizeram foi mesmo um crime contra a humanidade. Separaram famílias e dividiram um país em dois: A Alemanha Federal democrática e próspera) e a Alemanha Democrática (oprimida e subdesenvolvida).
Chorei de felicidade no dia em que o muro de Berlim foi derrubado. Foi uma vitória para todos os que acreditam na democracia.

JOSÉ said...

A queda do Muro foi um momento marcante da História pois o culminar do sonha da liberdade e democracia.