Thursday, 8 October 2009

Guebuza insiste na guerra de desestabilização


Recorrendo a correntes e teorias não declaradas

“Foi guerra de desestabilização, exactamente, de desestabilização. Desestabilização. Veio de fora e usaram moçambicanos” – Armando Guebuza, presidente da República. “Nunca li nada sobre guerra de desestabilização. Isso é uma palavra que a Frelimo inventou e rebuscou para nos fazer acreditar naquilo que não é verdade. O que houve em Moçambique foi uma Guerra Civil e a Frelimo sabe disso. Foi uma guerra para estabilizar o País. Essa é que é a verdade” – Luís Gouveia, ex-representante da Renamo no exterior antes dos AGP.




Maputo (canalmoz)O presidente da República, Armando Guebuza, recorrendo a correntes, teorias e modelos militares, até aqui não declaradas mundialmente, continua a insistir que o conflito armado que houve em Moçambique, durante 16 anos, opondo o então governo monopartidário da Frelimo e os guerrilheiros da MNR – Resistência Nacional de Moçambique, actualmente partido Renamo, não foi uma Guerra Civil, mas sim de Desestabilização.
Durante a cerimónia de deposição da coroa de flores na Praça dos Heróis, no último domingo, por ocasião da passagem do 17º aniversário dos Acordos Gerais de Paz, rubricados em Roma a 4 de Outubro de 1992, Guebuza, quando questionado pelo Canal de Moçambique que tipo de guerra houve em Moçambique, entre 1976-1992, o governo do partido de que hoje é presidente e os guerrilheiros da MNR, respondeu, efusivamente, que foi uma “Guerra de Desestabilização. Exactamente, de desestabilização. Desestabilização”.
Porquê de desestabilização? – Questionámo-lo, uma vez mais, tendo respondido de viva voz que “veio de fora e usaram moçambicanos”. Quando lhe pedimos para nos explicar em que sentido veio de fora e quem são essas pessoas que usaram moçambicanos, Guebuza foi evasivo: “não sabe a História de Moçambique? Pensei que fosse jornalista”. Entretanto, Guebuza, ao declarar que se tratou de uma Guerra de Desestabilização, deixa claro, implicitamente, que há necessidade de se mudar os manuais oficiais de ensino em Moçambique, sobretudo de história, pois, estes falam de uma Guerra Civil e não a que ele tenta querer ensinar aos moçambicanos.
Afinal, quem está espalhar e ensinar mentiras ao povo sobre a História de Moçambique? Os produtores dos manuais ou o Presidente da República, quando, em corro com os seus seguidores cantam guerra de desestabilização, por receio de reconhecer a Renamo?
Aliás, Guebuza, reagindo a uma matéria de fala sobre esse assunto, em alusão no relatório do Mecanismo Africano de Avaliação de Pares (MARP), apresentado em Sirte (Líbia), em Junho do ano corrente, disse que o conflito, cujo fim ele próprio negociou em Roma, foi uma Guerra de Desestabilização, pois, se tratou de “uma guerra de agressão, que visava desestabilizar Moçambique”.
Longe de deitar por terra a nova versão que o presidente da República encontrou, para desvalorizar a imposição encetada pela Renamo ao então governo monopartidário da Frelimo, e que culminou com os históricos Acordos Gerais de Paz em Roma, em 1992, urge que Guebuza sustente as correntes, teorias e modelos militares de que se socorre para baralhar a História de Moçambique. Urge que explique, ainda, claramente, que cenários e/ou evidências o levam a contrariar o que até o mundo já sabe sobre o País que dirige.
À margem do mesmo encontro (MARP), a tese de Guebuza viria a ser corroborada por Graça Machel. Esta afirmou, sem evasivas, também deixando claro que os manuais de ensino em Moçambique ensinam mentiras, que “o país não teve nenhuma guerra civil, mas sofreu uma acção de agressão, movida pelo regime do apartheid”.
Parece que agora, Guebuza, Graça Machel, e outros seguidores da Frelimo, descobriram novas correntes e teorias para desmentirem, para além dos seus próprios manuais de ensino, também uma sentença de Londres (vsff Canal de Moçambique nº2 de 23 de Julho de 2009). Urge, uma vez mais, recordá-los que tudo o que se sabe no mundo é que a guerra que houve em Moçambique foi Civil e não de Desestabilização. O povo, até aqui, não sabe nada desta guerra, senão daquela.

O que houve em Moçambique foi uma Guerra Civil

Luís Gouveia, ex-representante da Renamo no exterior, antes da assinatura dos Acordos Gerais de Paz em Roma, quando questionado se o que houve em Moçambique foi uma Guerra de Desestabilização ou Civil, respondeu: “não sei fazer nenhuma guerra de desestabilização. Nunca li nada sobre guerra de desestabilização. Desde a Primeira Guerra Mundial e em todos esses conflitos não vejo nenhum cenário no mundo que dê indicação de uma guerra de desestabilização”.
Em entrevista ao Canal de Moçambique, Gouveia disse achar uma patetice o facto de se propalar que houve em Moçambique uma Guerra de Desestabilização. A intenção da Frelimo é contra a Renamo. “Eles querem acabar com a Renamo. E é preciso continuar a manchá-la, daí que encontraram esta palavra “guerra de desestabilização. Eles têm pessoas que só ficam a estudar estas coisas”.
Ademais, o interlocutor considera que não há nenhuma guerra de desestabilização no mundo. Isso é uma palavra que a Frelimo inventou e rebuscou, para nos fazer acreditar naquilo que não é verdade. Quer enganar o povo e justificar a sua incapacidade de governação. É uma questão política. Uma guerra desestabiliza o País, mas não existe uma guerra de desestabilização. Foi uma guerra entre irmãos que, infelizmente, foi necessária.
Gouveia viria a sublinhar que o que houve em Moçambique foi uma Guerra Civil e a Frelimo sabe disso. Foi uma guerra para estabilizar o País. Essa é que a verdade. Tanto que a Frelimo tinha generais e comandos por demais, aliás reforçados por contingentes que até incluíam zimbabweanos, tanzanianos e cubanos, entre outros. “Foi uma Guerra Civil e a Frelimo pensou que fosse vencer a vontade de um povo que clamava pela democracia e pelo fim do monopartidarismo”. Mais não disse.


(Emildo Sambo, CANALMOZ, 8/09/09)

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