Em fins de Setembro escrevi, nesta minha coluna, o seguinte:
Aguém acredita que milhões de celulares vão ser registados em 60 dias?
Mais uma ordem dada com voz grossa que vai ser retirada, com voz fina, por impossibilidade de ser cumprida.
Desprestigiante, não é?
Ora não demorou nada a esta minha previsão se confirmar. O prazo, que não poderia ser prorrogado, de forma nenhuma, foi agora prorrogado para 7 de Janeiro. E há-de ser mais vezes, não tenhamos dúvidas.
Será que é porque eu sou um feiticeiro com poderes mágicos que adivinho estas coisas?
Não. É apenas porque penso um pouco nas coisas antes de as dizer. O que parece não acontecer com bastantes dos nossos dirigentes. Os que dão a cara e, muito possivelmente, os que estão atrás da cortina dando ordens aos que dão a cara.
Porque, quando se julga que temos o rei na barriga, dar ordens é fácil. Saem da boca com naturalidade. Principalmente se acrescentarmos, no fim da ordem, a descrição das penalidades para quem a não cumprir. Como, por exemplo, dizer que os contratos de quem não estiver registado serão anulados, no final do prazo.
Agora, chegados à dura realidade, os tais cospe-sentenças têm que engolir aquilo que antes cuspiam.
Um representante da Mcell veio à Rádio Moçambique, esta semana, dizer que, dos cerca de 4 milhões de clientes da empresa, até agora só estão registados cerca de 100 mil.
Isto é, se em 2 meses foram registados 100 mil, serão necessários mais de 6 anos para registar os 4 milhões.
E isso com um custo, não previsto anteriormente pela empresa, de cerca de 1 milhão de dólares até ao momento.
O mesmo porta-voz da MCell afirmou ainda que a sua empresa só está a registar nas cidades e vilas principais, porque o preço de mandar brigadas móveis para as zonas rurais é insuportável e a empresa não está preparada para isso.
Quem sabe, dado que a preocupação, neste caso, é de segurança, as empreas não possam ir buscar fundos ao exorbitante orçamento do SISE.
E quem diz MCell diz também Vodacom. No mesmo programa um representante da Vodacom disse que ainda não tinham recolhido informações nem de 20% dos seus cerca de 2 milhões de clientes. E falava apenas de recolha de informações. Não do seu processamento.
Numa coisa os azuis e amarelos estão unidos: o novo prazo também é completamente irrealista.
Portanto, ao ritmo a que vamos, não será em Janeiro de 2011 que o processo estará completado. Provavelmente nem de 2012...
E eu pergunto: Com que cara ficam as pessoas que dão este tipo de ordens quando a realidade lhes cai, pesada, no cocuruto da cabeça?
No caso das inspecções aos automóveis a ordem era para dar lucros a um qualquer alguém, colocado por trás da empresa fiscalizadora.
Neste caso dos celulares é a preocupação securitária provocada pelo susto dos primeiros dias de Setembro.
Em ambos os casos assistimos a ordens peremptórias, com ameaças incluídas, que um mínimo de pensamento teria mostrado que não eram possíveis de cumprir.
Mas a arrogância do Poder tapa-nos os olhos e acaba por nos colocar em posições ridículas.
Nos últmos tempos temos vindo a assistir a uma forma de governar em que tudo aquilo que não é proibido é obrigatório. O diálogo praticamente acabou e, cavalgando uma maioria eleitoral, impera o quero, posso e mando.
Só que isso tem os seus limites naturais e, por muito que a Assembleia da República vote, por grande maioria, que a chuva deve cair de baixo para cima, não creio que ela obedeça.
Mas como é difícil explicar estas coisas a quem está obcecado pelo Poder.
Machado da Graça, A talhe de foice, no Savana com data de 26/11/10
Aguém acredita que milhões de celulares vão ser registados em 60 dias?
Mais uma ordem dada com voz grossa que vai ser retirada, com voz fina, por impossibilidade de ser cumprida.
Desprestigiante, não é?
Ora não demorou nada a esta minha previsão se confirmar. O prazo, que não poderia ser prorrogado, de forma nenhuma, foi agora prorrogado para 7 de Janeiro. E há-de ser mais vezes, não tenhamos dúvidas.
Será que é porque eu sou um feiticeiro com poderes mágicos que adivinho estas coisas?
Não. É apenas porque penso um pouco nas coisas antes de as dizer. O que parece não acontecer com bastantes dos nossos dirigentes. Os que dão a cara e, muito possivelmente, os que estão atrás da cortina dando ordens aos que dão a cara.
Porque, quando se julga que temos o rei na barriga, dar ordens é fácil. Saem da boca com naturalidade. Principalmente se acrescentarmos, no fim da ordem, a descrição das penalidades para quem a não cumprir. Como, por exemplo, dizer que os contratos de quem não estiver registado serão anulados, no final do prazo.
Agora, chegados à dura realidade, os tais cospe-sentenças têm que engolir aquilo que antes cuspiam.
Um representante da Mcell veio à Rádio Moçambique, esta semana, dizer que, dos cerca de 4 milhões de clientes da empresa, até agora só estão registados cerca de 100 mil.
Isto é, se em 2 meses foram registados 100 mil, serão necessários mais de 6 anos para registar os 4 milhões.
E isso com um custo, não previsto anteriormente pela empresa, de cerca de 1 milhão de dólares até ao momento.
O mesmo porta-voz da MCell afirmou ainda que a sua empresa só está a registar nas cidades e vilas principais, porque o preço de mandar brigadas móveis para as zonas rurais é insuportável e a empresa não está preparada para isso.
Quem sabe, dado que a preocupação, neste caso, é de segurança, as empreas não possam ir buscar fundos ao exorbitante orçamento do SISE.
E quem diz MCell diz também Vodacom. No mesmo programa um representante da Vodacom disse que ainda não tinham recolhido informações nem de 20% dos seus cerca de 2 milhões de clientes. E falava apenas de recolha de informações. Não do seu processamento.
Numa coisa os azuis e amarelos estão unidos: o novo prazo também é completamente irrealista.
Portanto, ao ritmo a que vamos, não será em Janeiro de 2011 que o processo estará completado. Provavelmente nem de 2012...
E eu pergunto: Com que cara ficam as pessoas que dão este tipo de ordens quando a realidade lhes cai, pesada, no cocuruto da cabeça?
No caso das inspecções aos automóveis a ordem era para dar lucros a um qualquer alguém, colocado por trás da empresa fiscalizadora.
Neste caso dos celulares é a preocupação securitária provocada pelo susto dos primeiros dias de Setembro.
Em ambos os casos assistimos a ordens peremptórias, com ameaças incluídas, que um mínimo de pensamento teria mostrado que não eram possíveis de cumprir.
Mas a arrogância do Poder tapa-nos os olhos e acaba por nos colocar em posições ridículas.
Nos últmos tempos temos vindo a assistir a uma forma de governar em que tudo aquilo que não é proibido é obrigatório. O diálogo praticamente acabou e, cavalgando uma maioria eleitoral, impera o quero, posso e mando.
Só que isso tem os seus limites naturais e, por muito que a Assembleia da República vote, por grande maioria, que a chuva deve cair de baixo para cima, não creio que ela obedeça.
Mas como é difícil explicar estas coisas a quem está obcecado pelo Poder.
Machado da Graça, A talhe de foice, no Savana com data de 26/11/10
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