Tuesday 23 November 2010

Memorial ao jornalista Carlos Cardoso: “No Ofício da Verdade, É Proíbido Pôr Algemas Nas Palavras

Um memorial em homenagem ao jornalista Carlos Cardoso, assassinado a tiro há exactamente dez anos, foi esta segunda-feira inaugurado na Avenida Mártires da Machava, na cidade de Maputo.
Cardoso morreu a 22 de novembro de 2000, numa altura em que se encontrava envolvido na investigação do considerado maior escândalo financeiro de sempre em Moçambique, traduzido no desfalque de 144 milhões de Meticais no já extinto Banco Comercial de Moçambique.
Dez anos depois, familiares, colegas e amigos do jornalista, foram ao local onde ocorreu o assassinato, onde depositaram uma coroa de flores no memorial, constituído por uma pequena rocha onde se pode ler “No ofício da verdade, é proíbido pôr algemas nas palavras”, frase da sua autoria.
Nina Berg, viúva do malagrado, acredita que a justiça foi feita, considerando que a homenagem desta segunda-feira não é dirigida apenas ao Carlos Cardoso como pessoa, mas sim “aos ideias que defendeu, a sua obra e sobretudo a sua coragem”.
Berg afirmou ainda que com a edificação do memorial se encerrou definitivamente o caso do assassinato do jornalista, sublinhando que para ela e sua família, o julgamento e condenação dos criminosos constitui o fecho do macabre acontecimento de 22 de novembro de 2000.
No seus artigos, Carlos Cardoso tinha citado o empresário Momade Abdul Satar, conhecido por Nini Satar, e Vicente Ramaya, então funcionário senior do então Banco Comercial de Moçambique.
Após a morte do jornalista, Nini Satar acusou o filho do ex-Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano de estar envolvido no caso. O empresário apontou ainda Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), como o chefe da quadrilha que executou Carlos Cardoso.
Em 2003, seis pessoas foram condenadas a penas entre os 23 e os 28 anos de prisão pela morte do director do jornal "O Metical". A pena mais pesada foi aplicada a Aníbalzinho, quase 30 anos.
Anibalzinho tem no seu currículo três fugas da cadeia. Entre os anos 2002 e 2004, o prisioneiro mais famoso do país chegou à África do Sul e ao Canadá, países de onde foi extraditado para Moçambique. Depois de mais duas fugas, está hoje encarcerado numa cela do Comando da Polícia na cidade de Maputo.
Durante o processo, Momade Abdul Satar acusou ainda o filho de Joaquim Chissano de ser o responsável pela fuga de Anibalzinho, para o impedir de dar o seu testemunho no caso Cardoso.
Mas não foi só Nympine Chissano quem viu o seu nome envolvido no escândalo. A empresária moçambicana Cândida Cossa viu-se envolvida no caso, o que forçou as autoridades da justiça a instaurarem um processo autónomo.
Devido à lentidão da justiça, ambos perderam a vida sem ser ouvidos: Nympine morreu em novembro de 2007 e Cândida Cossa em novembro deste ano. O processo autónomo ficou sem efeito.
Carlos Cardoso nasceu em 1951, na Beira. Estudou na África do Sul, de onde foi expulso em 1974 por se ter manifestado contra o sistema do apartheid.
A sua carreira de jornalista começou na Agência de Informação de Moçambique, onde ascendeu ao cargo de director.
Num dos seus poemas, denominado "Cidade", escrito em 1985, Carlos Cardoso disse: "À noite quando me deito em Maputo não preciso de rezar, já sou herói..."

RM

2 comments:

Danilo Sergio Pallar Lemos said...

Uma morte por uma causa justa. Um heroi.
www.vivendoteologia.blogspot.com

JOSÉ said...

Obrigado pela visita, meu irmão, que Deus o abençoe abundantemente!