Monday, 8 November 2010

Ensino superior moçambicano enfrenta uma crise estrutural

Defendem académicos

A falta de qualidade nos graduados, por um lado, e a fraca investigação por parte dos académicos, por outro, são alguns dos vários dilemas que afligem este tipo de ensino no país. Graça Machel, por exemplo, diz que há falta de alinhamento entre as necessidades prioritárias de desenvolvimento do país e as ofertas das nossas universidades.
O ensino superior moçambicano está a enfrentar uma grave crise estrutural sem precedentes. Três especialistas em educação, nomeadamente, Graça Machel, João Mosca e Narciso Matos, falando em palestras, com temas diferentes, coincidem nesse ponto de vista e são unânimes em afirmar que há algo que não está bem nos nossos sistemas de ensino, incluindo o superior. Trata-se, aliás, de uma crise estrutural de longa data e que, de acordo com as suas projecções, provavelmente afectará o futuro.
Graça Machel, que falava numa palestra organizada pelo Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC), em Maputo, subordinada ao tema “a Contribuição do Ensino Superior para o Desenvolvimento”, disse que todos os subsistemas de ensino moçambicano são fracos.
Refira-se que Graça Machel foi, durante vários anos, ministra de Educação. Actualmente, Graça Machel é patrona da Universidade de Cabo, na África do Sul.
Na sua visão, as questões ligadas ao ensino em Moçambique não são abordadas com o realismo necessário, “talvez devido ao expediente político”, comentou.
Para Graça, “os nossos jovens vão se conformando pensando que são grandes conhecedores da matéria por causa dos diplomas que ostentam, quando, na verdade, não sabem nada”. Revela ainda que dos graduados no ensino médio, existem alguns que até são analfabetos.
Falando concretamente do ensino superior, Graça diz que este subsistema de ensino deve saber claramente definir as suas prioridades, que vão de acordo com aquilo que são as necessidades do país.
“Temos que formar técnicos e cientistas altamente qualificados, que possam contribuir para o desenvolvimento do país”.
Para que o ensino superior contribua para o desenvolvimento, Graça diz que é necessário que haja um alinhamento entre as prioridades do país e aquilo que é a oferta das universidades locais, o que neste momento não está a acontecer, ou se acontece ainda está a um nível fraco.
Como exemplo, Graça falou do sector mineiro e disse que, ultimamente, o mesmo tem estado a crescer e, portanto, a merecer uma atenção especial no país. “Mas quantos técnicos de minas existem formados internamente no nosso país? Questionou na ocasião, mas sem resposta.
Esta académica cita, por exemplo, a Universidade de Witwatersrand, para mostrar que a mesma foi criada exclusivamente para responder às necessidades que o país tinha naquele momento, que tinham que ver com a falta de técnicos de minas.
No seu entender, o ensino superior deve ser planificado. Ou seja, “é preciso definir claramente o número de quadros que necessitamos, anualmente, e fazermos a devida divisão específica, em áreas que queiramos afectá-los”, explica.
Graça explica que todos os países que precisam alcançar certos níveis de desenvolvimento planificam os seus sistemas de ensino superior: “não é só formar por formar”.
Para a mesma, o Ministério da Planificação e Desenvolvimento devia ter um papel específico neste processo, como entidade que tutela os programas de desenvolvimento do país, trabalhando com o Ministério da Educação e quiçá com o de trabalho.

Tiago Valoi, O País


Em Moçambique não há condições para 38 universidades. Leia aqui.

1 comment:

Anonymous said...

A Sra. Graçs Machel até que fala muita coisa que faz sentido e que representa a realidade do quadro educacional que se vive em Moçambique.
No entanto, convém recordar que, no tempo em que ela foi Ministra da Educaçao, quando o seu marido, Marechal Samora Moisés Machel era Presidente da República Popular de Moçambique, o sistema de educaçao entrou em declinio e sofreu um verdadeiro colapso pouco depois. Nesse mesmo tempo, havia muita gente, no ensino médio que era mesmo analfabeta, portanto, isso nao vem dos dias de hoje...
Convém recordar tudo isto, pois a muitos convém que a geracao presente nao saiba exactamente o que se passou naquele tempo, pois, dos verdadeiros herois, infelizmente, nao reza a historia de Moçambique...
Maria Helena