Friday, 26 November 2010

Jacinto Veloso acusado de vender património do Estrela Vermelha à Visabeira


Sócios desmantelam pretensão de venda do património

Maputo (Canalmoz) - O general na reserva, Jacinto Veloso, presidente da mesa da Assembleia Geral e membro sénior do Clube Desportivo Estrela Vermelha de Maputo, no bairro de Malhangalene, está a ser acusado se o mentor da ideia da venda do património do clube, supostamente para aliviá-lo da actual crise financeira. Só que esta ideia não é comungada por uma ala de sócios segundo os quais a venda do clube só iria beneficiar os interesses do general que pretende que as infra-estruturas sejam revertidas para a empresa Visabeira. Acusam, entretanto, o general de ter interesses na Visabeira. Acusam também Armando Guebuza, presidente da República de estar envolvido como interessado na operação.
A ala de sócios do Clube Desportivo Estrela Vermelha da Cidade de Maputo (CDEVCM), que discorda da ideia da venda do património do Estrela Vermelha de Maputo, disse à nossa reportagem agir deste modo, pois não aceita a forma obscura como o património do clube está a ser avaliado por uma comissão “pouco credível, criada pelo presidente da Assembleia Geral (AG), o general Jacinto Veloso”. Os princípios estabelecidos para o concurso de venda são considerados “levianos”. “Não dão para qualquer leigo aceitar”, refere um do grupo de descontentes com o curso do negócio.
O Estrela Vermelha funciona onde no tempo colonial era o “Malhangalene”. Depois da independência a certa altura passou a ser o clube da Segurança, mais propriamente do SNASP. Jacinto Veloso era o ministro da Segurança nessa altura. Foi ele também o mentor do Regulamento Geral do Desporto Federado ao abrigo do qual os clubes foram obrigados a integrarem-se em empresas.
Segundo as fontes da ala que se opõe ao negócio e que até nos facultaram documentos confidenciais sobre a proposta de alienação de parte do património do clube, documentos essas assinados pelo general, há grande desconfiança sobre transparência do concurso público para a alienação das infra-estruturas do clube. “Só deverão ser convidadas dezasseis empresas a participar”, referem os descontentes.
A maior desconfiança surge quando uma das empresas a ser convidada a adquirir o património do clube é a Visabeira. O general Veloso e o actual chefe de Estado têm interesses económicos nessa empresa, segundo os descontentes.
“Temos estado a ouvir isto de outros companheiros. Na Visaeira, o general Jacinto Veloso detém uma comparticipação social e sabemos da sua pretensão de ocupar o espaço onde estão instaladas as infra-estruturas do clube para futuramente construir condomínios”, afirma o grupo de descontentes com o projecto de alienação de património do Estrela Vermelha.
De salientar que o património que se pretende alienar está situado entre a rua Base N`Tchinga e a Avenida Vladimir Lenine, próximo do bairro da Coop, nesta cidade capital, numa área aproximadamente de 18.000 metros quadrados. É onde está instalada a sede social, o principal campo de futebol do clube, entre outras infra-estruturas.
Neste processo a avaliação do património está a ser efectuada pela comissão liquidatária, que é ainda presidida pelo general Veloso, dizem as fontes que temos estado a citar e que receiam represálias se forem identificadas.
Dizem elas que ano após ano vai baixando o seu valor do património que se preparam para alienar.
“O património do clube a ser alienado estava, em 2004, orçado em 10,7milhões de dólares e agora está a custar cerca de 4,3 milhões de dólares. Isto é uma autêntica pretensão de aldrabar, pois o valor em vez de decrescer devia subir”, acrescenta um do grupo de descontentes com a operação que refere estar a ser preparada.
“Isto é inaceitável porque revela uma manobra deliberada de extinguir o clube e a tradição desportiva no país só pela intenção de satisfazer-se interesses individuais”, afirma o grupo.

A intenção da venda e projectos futuros expressos em carta

Entretanto, dizem-nos que a ideia da venda do património está expressa numa carta de Jacinto Veloso datada de 23 de Agosto último, e assinada, por ele, a 30 do mesmo mês, e posteriormente enviada a Miguel Boene, um representante dos sócios do clube, na mesa da Assembleia Geral. Apesar de a missiva não indicar claramente a ideia da venda das infra-estruturas, a mesma propõe aparentemente ser necessário alienar-se o património para se salvar o clube da actual crise financeira.
“Só devemos alienar o património se esta for a única via para se conseguir a auto-suficiência financeira; e só devemos alienar o património necessário para atingir o objectivo que pretendemos”, lê-se na carta que mais adiante propõe ser preciso, entretanto, traçar-se estratégias para que futuramente o Estrela Vermelha venha a ser um dos cinco melhores clubes de Moçambique, praticando modalidades como futebol, basquete, andebol, hóquei em patins, atletismo, voleibol, entre outras em função dos patrocínios e outros orçamentos disponíveis.
Entretanto, nessa sua aparente ambição de venda das infra-estrutura do clube, há na missiva acima citada, a pretensão de se convencer a massa associativa a aderir ao processo de alienação, pois com o valor conseguido poder-se-ia, no segundo terreno situado na Avenida Marien Nguabi, local onde está implantado o pavilhão coberto, edificar “um complexo desportivo e um centro de estágio com um campo de futebol para jogos e treinos e um centro de estágio para a equipa principal, cozinha e refeitório; Iluminação e som; centro médico, centro de imprensa e outras facilidades em uso em infra-estruturas modernas deste tipo”, diz-se na missiva que ainda contempla como projecto a construção de um prédio que servirá de futura sede do clube e da academia, com gabinetes de trabalho, salas de reunião e de troféus e demais gabinetes necessários.
Este é um projecto que custará acima de seis milhões de dólares conforme contas feitas e expressas num documento em nosso poder.

Proposta descabida

As fontes que nos abordaram para nos manifestar o seu descontentamento pelo que dizem estar a ser preparado por Jacinto Veloso, consideram de descabidas as propostas apresentadas na missiva do general. Acusam o general de estar a dividir os sócios daquela colectividade desportiva. “Primeiro, porque o valor resultante da venda não será suficiente para o projecto visado para o clube. As infra-estruturas por alienar estão avaliadas em 4,3 milhões de dólares americanos. Onde iremos arranjar o remanescente?”. “Para além do valor do investimento calculado em mais de seis milhões de dólares, será futuramente necessário garantir a manutenção e funcionamento do clube, o que vai significar a renumeração dos técnicos e outros trabalhadores de forma minimamente aceitável. Onde iremos encontrar esse dinheiro?”, questiona o grupo que estivemos a citar.

(Alexandre Luís, CANALMOZ, 25/11/10)

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