Friday, 5 November 2010

EDITORIAL

A CIDADE de Maputo comemora, na próxima quarta-feira, 123 anos de elevação à categoria de cidade. São 123 anos de uma história única, que começa a desenhar-se com a sua fundação, em 1782, e que vem percorrendo o tempo numa trajectória cheia de memórias e sonhos, consumados e adiados.

Maputo, Sexta-Feira, 5 de Novembro de 2010:: Notícias

Se pela idade Maputo parece uma cidade velha, a criatividade presente no seu desenho urbanístico e na imponência da maioria dos seus edifícios, exteriorizam sinais interessantes de uma cidade moderna e jovem, que de velho tem apenas as memórias, que duram há mais de um século.
Ao longo dos anos, Maputo - a “cidade das acácias” - foi se moldando e se ajustando às exigências impostas pelo crescimento demográfico, que além das causas que se podem considerar naturais, teve origem no êxodo rural por razões económicas, sociais e até de segurança. Nalgum momento este fenómeno gerou uma grande pressão sobre o solo urbano devido à explosão da demanda de espaços para um cada vez maior número de habitantes da cidade que, em contrapartida, não encontrou, e não tem encontrado, respostas à altura por parte do Estado.
Esta há-de ser, em nossa opinião, uma das razões por que na cidade, entenda-se zona de cimento, de repente se viu florescer assentamentos informais à sua volta, num exercício que, se no início foi aceite e assumido como sinal de crescimento da urbe, hoje já se reconhece como sendo um problema que não só importa corrigir, como também evitar que se propague para novas áreas onde há terra disponível para um crescimento melhor programado.
Há desafios inadiáveis que os citadinos precisam de conhecer. Por exemplo, eles devem saber qual é o real plano para o tráfego intra-urbano. Eles têm de saber qual o plano sobre as estradas e saneamento, sobre o transporte público e estacionamento, porque sentimos que a combinação destes factores sem uma solução à vista é, de facto, um caos anunciado.
Ainda assim, é preciso reconhecer que, particularmente nos últimos anos, a cidade de Maputo tem vindo a dar passos assinaláveis de crescimento, mesmo admitindo que o nível de oferta de serviços básicos ao cidadão continua longe de satisfazer a demanda.
Foram realizadas importantes obras nas estradas e passeios da cidade, tornando mais fluida e segura a circulação de viaturas e peões, e emprestando um ar mais alegre e renovado à urbe. Para isto também concorreu o esforço de sinalização que acresceu valor à segurança rodoviária.
Igualmente digno de realce é a preocupação crescente que há de se renovar o visual de muitos edifícios na cidade, muitos dos quais vão beneficiando de pintura em iniciativas tanto pública como privadas, que também concorrem para a melhoria da imagem e estética de uma cidade cada vez mais procurada para actividades como o turismo.
Seria desejável que as intervenções que se fazem em resposta às exigências de crescimento da cidade fossem pensadas de maneira integrada, que se desse mais espaço ao pensamento estratégico, para que se inclua a componente qualidade nos ingredientes desse crescimento.
A ideia que defendemos é que se pense o futuro da cidade com maior seriedade e responsabilidade, porque está claro que o crescimento da população urbana vai se manter elevado nos próximos anos, o que certamente vai exigir disponibilidade de novos espaços, devidamente planificados, para acomodar esses novos habitantes.
Na verdade, não basta que se parcelem e se atribuam talhões aos cidadãos. É necessário que o Estado preveja áreas para os serviços diversos, indispensáveis ao correcto funcionamento de uma sociedade e, sobretudo, nunca permitir que tais espaços sejam ocupados de maneira informal para fins que não só concorrem para a precarização da vida dos cidadãos como também aceleram a indesejável ruralização da cidade.

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