Saturday 4 December 2010

Em Moçambique Empresas de países doadores não são cúmplices da Corrupção a alto nível?

Maputo (Canalmoz/Canal de Moçambique) - O ano está a chegar ao fim. Estamos em Dezembro de 2010. Estamos a dias da segunda década do século XXI, e a “farra”, de um grupinho depravado sobre os ombros dos “Famintos”, “Miseráveis” e “Ignorantes” por imposição, continua, ao som da música do FMI e de certos doadores que não querem uma reforma real e efectiva.
As permanentes reformas cosméticas que alimentam a grande mentira sobre Moçambique – continua a não poder ser contrariada.
A ideia de Moçambique “um caso de sucesso” – no desespero pela sobrevivência ditado pelas próprias realidades internas em certos países doadores – não deixa de ser insistentemente propalada. É quase um “feitiço”. À boa maneira das inverdades que de tantas vezes repetidas até parecem verdade…
O caso deste actual Moçambique está-se a tornar um escândalo. Só o sente quem sofre e só vê os preços a subirem sem nada poder evitar como irá acontecer muito em breve quando o trigo voltar a fazer o preço do pão galgar e o diesel finalmente ultrapassar a barreira do sossego – os 31,00 Meticais.
Quem vive da mentira não quer saber do que dizem os cientistas moçambicanos não atrelados ao poder instalado à força. Porquê? Umas vezes são os moçambicanos que devem escolher o seu destino, outras é bom que quem já abriu os olhos nem apareça a estragar a “farra”. O que é isto?
Não será o sucesso desta governação como o sucesso das economias de certos países que de um enorme sucesso se vieram a revelar um enorme fiasco?
A “farsa” já é de tal maneira vergonhosa que já nem sequer querem reconhecer que os bons costumes da economia de mercado não estão a ser respeitados em Moçambique. Toca a música que convém. Os mesmos são sempre a solução para tudo. “Digam, digam o que querem que se faça, não nos tirem é o saco das notas das mãos.” A pouca vergonha chegou tão longe quanto isto!
A economia de mercado é arma de arremesso só quando convém. A democracia é só para manter os que sofrem açaimados?
Quem repara nisto tudo fica com a impressão de que se está perante autênticos gangsters que um dia falam uma mentira e outro dia contam uma nova mentira, conquanto se garanta que o “saco das moedas” lhes permaneça nas mãos.
Não será porque o saque agora dá jeito a algumas confrarias e casas dos deuses?
Um dia pede-se transparência, outro dia assobia-se para o lado perante as mais aberrantes formas de corrupção nítida.
O baile quando a “música” satisfaz os predadores já anima?
Isto não é uma pouca-vergonha?
Que confiança podem ter – neste ou em qualquer outro governo de Moçambique que se assemelhe – cidadãos do País que não conhecem os negócios que um certo grupinho fez e faz com certos grupos económicos “globalizados”, em nome do Estado Moçambicano, com os recursos que, constitucionalmente, estão reservados ao Estado como é o caso dos recursos minerais?
Já que certos doadores falam tanto de transparência – para mostrarem a sua idoneidade, que merece, diga-se, obviamente quando é o caso, os nossos mais sinceros respeitos – porque razão não vêm esses mesmos doadores a público exigir que empresas como a Vale, Sasol, Riversdale, Kenmere, BHP Billiton, ANADARKO, ARTUMAS, Mozal, etc.. publiquem os contratos que têm com Moçambique e mostrem, de forma aberta e absolutamente transparente que afinal são diferentes dos chineses que eles mesmos tanto criticam e com quem, aliás, por trás da cortina, até negoceiam?
Querem enganar quem?
Quando estão em causa empresas de certos doadores, convém a esses mesmos doadores apoiarem o silêncio e o secretismo. Quando as conveniências são outras, pedem transparência. Qual é a diferença entre isto e o comportamento das máfias? Um dia uma coisa, outro dia outra?
Querem enganar quem?
Há doadores e doadores, acreditamos. Não estamos a meter todos no mesmo saco, obviamente. Mas é preciso que os que querem fazer parte da solução, apareçam como tal para que os moçambicanos que não fazem parte da pandilha corrupta saibam claramente quem são uns e quem são os outros.
Os moçambicanos que continuam a ter muito respeito pelos doadores honestos querem saber quem são os que já não têm condições para serem parte da solução por se terem transformado em parte do problema. Os honestos têm de ajudar os moçambicanos a saberem quem são os doadores que são parte da solução e quem são os que se tornaram parte do problema.
Quem vai nu com o Rei?
A corrupção que uns fomentam não pode continuar a ser encoberta pelos outros.

Os moçambicanos que não são parte do problema que envergonha hoje o País querem saber claramente quem são os doadores com carácter e quem são os sem carácter. Quem não têm nada para esconder que dê o exemplo.
O processo de globalização tem de passar por um processo de catarse.
Os doadores comprometidos com os bons costumes e com a decência têm de aparecer a dar bons exemplos e a impor que as empresas sediadas nesses mesmos países sejam as primeiras a dar bons exemplos.
Quem tem medo que os moçambicanos fiquem a saber algo dos contratos que estão a tornar Moçambique numa cotada de predadores?
Quem tem medo que os povos dos países doadores percebam que alguns dos seus funcionários não são santos como se querem fazer passar?
É por demais sabido que já não se consegue provar nada no meio desta máfia que se instalou. Mas consegue-se perceber. É quanto basta.
Quando os moçambicanos se queixam nas suas conversas com cidadãos de certos países doadores de que aqui a corrupção chegou ao ponto de ter cobertura aos mais altos níveis do Poder, e a resposta, invariavelmente é: “no nosso país também é assim”, o que devemos fazer todos juntos? Calarmo-nos?
Nesta fase da globalização é essencial que os figurões da elite predadora de Moçambique sejam denunciados e os dos países doadores também.
No que concerne à questão dos recursos minerais, particularmente!..
Os maiores suspeitos de corrupção em certos países europeus estão a aparecer em Moçambique em lugares de destaque em certas empresas. Porque fugirão eles para Moçambique? E por que razão até aparecem colados às mais altas figuras do Estado Moçambicano? Quando os corruptos estão debaixo do nariz serão precisos mais seminários para se acabar com eles?
Porque se andará sempre a falar mal dos chineses se os moçambicanos não têm motivos fortes para concluírem que os chineses são mais corruptos que os outros que se querem fazer passar por santos?
Onde difere a abordagem de certos doadores da dos chineses quando se trata de negócios?
Onde está a maior transparência num caso do que noutro?
Nos países doadores, onde a “transparência” é norma, será que não existem mecanismos que obriguem as empresas neles domiciliadas e a operarem no exterior, a não esconderem questões fundamentais, como por exemplo os contratos, os relatórios financeiros, e outros instrumentos que permitam ter-se a certeza de que não estão elas mesmas envolvidas em esquemas corruptos?
Se esses mecanismos existem por que é que os doadores honestos não os usam para acabar com esta sujeira?
Certos representantes dos Estados dos países doadores será que não são corruptos como os há nos países receptores da ajuda? Não estarão todos a participar da mesma “farra” e já ninguém tem como sair da embrulhada em que se meteram?
Se não existem mecanismos que forcem empresas como as aqui citadas [VALE, SASOL, KENMARE, ANADARKO, ARTUMAS, MOZAL, etc.,etc.] a serem transparentes, por que razão não criam esses mecanismos? Para na corrupção poderem fazer frente aos chineses? Quererá isto dizer que a corrupção é que está a dar? Onde fica o limite entre o “Céu” e o “Inferno”?
O que é que os doadores estão fazendo em Moçambique para travar a corrupção ligada à exploração de recursos minerais? Corrupção é só o “refresco” do Polícia? Corrupção é só a “taxa de andamento” nas secretarias das instituições públicas? Só nos tribunais é que há corruptos? Quando se trata de governantes aliados às grandes empresas de certos países doadores já não há corrupção? Aqui é parceria? É a tal dita “Win-Win cooperation”? “Right wing”? “Left wing”?
Nos recursos minerais não há corrupção? Não será que aí não convém falar muito porque há altos interesses envolvidos das elites predadoras de ambas as partes – dos receptores da ajuda internacional e dos doadores?
O que é que os doadores estão fazendo no que concerne à corrupção em Moçambique? Seminários? Conferências internacionais? Reformas cosméticas? Só discursos, discursos, e mais discursos? Será que com esta estratégia discursiva de se fazer de conta que se combate a corrupção vamos conseguir acabar com os conflitos de interesses e fazer com que os megas-projectos contribuam de facto para a economia nacional?
A quem querem continuar a enganar os senhores envolvidos nestas trapaças?
Será mesmo que entre cidadãos dos países doadores e dos países receptores já não há gente séria que nos possa tirar deste lodo pestilento, inquinado e infecto?
Como não?
Irmos todos à luta é necessário. Quem por um lado faz política atiçando os moçambicanos contra os estrangeiros e por trás só se associa aos mais mafiosos, merece mais créditos?
E os que passam a vida a falar em transparência e não a praticam, merecem o quê?

(Editorial do Canalmoz/Canal de Moçambique)

No comments: