Tuesday 28 December 2010

Criar oportunidades para produção - defendem parlamentares que, entretanto, fazem uma apreciação dissemelhante do ano de 2010


O GOVERNO deve criar oportunidades que propiciem o aumento da produção e da produtividade para fazer face aos efeitos resultantes da crise mundial de alimentos e financeira internacional, cujos sinais dão indicação de que irá prevalecer próximo ano, segundo defenderam parlamentares entrevistados pelo “Notícias” por ocasião do fim de ano de 2010.

Maputo, Terça-Feira, 28 de Dezembro de 2010:: Notícias

Solicitados a fazerem uma apreciação ao comportamento do ano de 2010 nos domínios da economia, política, democracia, funcionamento das instituições e governação, bem como as perspectivas de desenvolvimento centrado no combate à pobreza e satisfação das crescentes necessidades dos cidadãos, os deputados expressaram opiniões dissemelhantes.
Para os parlamentares da bancada da Frelimo, o ano de 2010 foi marcado por um crescimento económico considerável, tendo sido notáveis as realizações governamentais previstas no Plano Económico e Social. Para os deputados do partido maioritário na Assembleia da República, só com o aumento da produção e da produtividade é que poderão ser minimizados os efeitos da crise mundial de alimentos e financeira internacional.
Por seu turno, a oposição parlamentar considera que o ano de 2010 foi medíocre sobretudo a nível da economia e governação. Faltaram estratégias exequíveis para manter o país economicamente estável, mesmo com o advento da crise mundial de alimentos. Consideram os deputados da oposição na AR que o ano de 2011 não prenuncia qualquer melhoria na qualidade de vida dos moçambicanos.


ENCONTRAR ESTRATÉGIAS PARA A AGRICULTURA - ARNALDO CHALAUA


Para o deputado Arnaldo Chalaua, o Ministério da Ciência e Tecnologia deve, cada vez mais reflectir sobre as estratégias para o desenvolvimento da agricultura no país. Defendeu que a agricultura em Moçambique deve passar de familiar para mecanizada de forma a se obter maiores rendimentos.
“A nossa agricultura deve ser mecanizada para que até 2025 o nosso orçamento não dependa de apoios externos”, disse.
Afirmou que o ano de 2010 foi marcado por dificuldades para a vida da maioria dos moçambicanos, devido à falta de estratégias de desenvolvimento e de antevisão da crise internacional por parte das autoridades governamentais. Observou que o combate à pobreza limitou-se a discursos e não em acções concretas.
“O termómetro para a medicação do nível da pobreza absoluta é o povo e olhando para o rosto de muitos cidadãos moçambicanos nota-se um desgaste, falta de esperanças. As pessoas já não acreditam na governação da Frelimo. O exemplo disso foram as manifestações de um e dois de Setembro contra a subida dos preços dos produtos. O povo cansou-se das promessas do partido no poder que não se traduziram em acções concretas. É certo que a crise internacional afectou o país, mas o grande problema é que faltam estratégias viáveis de desenvolvimento”, disse, acrescentando que o ano de 2010 foi economicamente medíocre.
Aquele parlamentar afirmou que o Governo deve procurar formas concretas de alanvacar o desenvolvimento económico de modo a que os cidadãos usufruam do bem-estar e não se remeter à arrogância, ignorando factos reais como é a crise mundial de alimentos e financeira internacional.
Numa apreciação ao desempenho das instituições do Estado, Arnaldo Chalaua disse que alguns sectores foram fortemente abalados devido a algumas medidas que foram tomadas pelos seus dirigentes, remetendo os funcionários a uma situação de desespero. No geral, para aquele parlamentar, o desempenho das instituições foi negativo, pois continuou a verificar-se a corrupção e falta de provisões básicas, por exemplo nos hospitais.
Para Arnaldo Chalaua, o ano de 2011 poderá não trazer melhorias significativas à vida dos cidadãos, se o Governo não encarar com seriedade a sua função e não encontrar estratégias sobretudo para fazer face ao custo de vida.

MUITA COISA POR FAZER – REFERE JOSÉ MANUEL DE SOUSA

Muita coisa está a ser feita para mudar a face do país, mas também ainda há que redobrar esforços, sobretudo no domínio da satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, segundo disse o deputado José Manuel de Sousa.
“De um modo geral, muita coisa ainda deve ser feita, fundamentalmente no domínio das estradas, que são vitais para o escoamento da produção agrícola. Notámos nos vários distritos que visitamos que ainda não há uma política integrada de desenvolvimento da agro-indústria. Existem recursos como água e terras aráveis, mas continuamos a não produzir comida. Isso é demonstração clara de que ainda não estamos a conseguir alimentarmo-nos”, afirmou.
No que tange à democracia, o deputado observou que apesar de no mundo não haver democracias perfeitas e completas, o país ainda está aquém do desejado. O exemplo disso, afirmou, é a própria Assembleia da República, onde por vezes a oposição tem tido dificuldades de se afirmar, alegadamente devido à arrogância do partido maioritário e seu governo.
Sobre os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos, como é a liberdade de expressão e à informação, disse ser um facto inegável em Moçambique, mas é necessário dar-se um salto qualitativo.
“Há cidadãos que ainda têm dificuldades de conseguir uma informação, por exemplo. As liberdades dos cidadãos no geral ainda estão a ser coarctadas”, asseverou.
Para aquele parlamentar, o desempenho das instituições em 2010 foi negativo, na medida em que os funcionários continuaram a não atender o cidadão com a necessária transparência, obrigando-o muitas vezes a recorrer a esquemas de corrupção.
Manifestou-se, porém, esperançoso de que o modo de vida dos moçambicanos vai relativamente mudar em 2011, mas deixou claro que isso dependerá da governação que for empreendida.
“Por exemplo, se analisarmos o Plano Económico e Social para 2011, notamos que há aspectos que estão cotados no orçamento mas não constam no plano. Mas a esperança é a última a morrer. Vamos ver se, de facto, 2011 vai-nos proporcionar melhores condições de vida”, disse.

Nota do José = Arnaldo Chalaua é deputado da Renamo e José Manuel de Sousa é deputado do MDM

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