Monday 20 December 2010

Costa do Marfim: uma cadeira, dois PR’s.

Apesar de ser uma situação lamentável aquilo que está a acontecer na Costa do Marfim já era, no mínimo, previsível. Adivinhava-se não exactamente esta situação de um país com dois Presidentes (PR’s), mas sim, aquilo que tem sido prática no continente africano onde dificilmente os PR’s abandonam o poder de livre e espontânea vontade respeitando a construção da democracia.
Vimos há algum tempo o que aconteceu no vizinho Zimbabwe. Vozes apareceram em defesa de Mugabe e a blasfemar contra o Ocidente. Até voltou-se a discutir o conceito de democracia no intuito de condenar o modelo Ocidental porque África também tem a sua democracia. Será esta? Esta da manutenção no poder de um mesmo grupo que abocanha todos os poderes e fala de viva voz que defende a separação de poderes? E, percebeu-se, no caso do Zimbabwe, pela atitude de Mugabe, que nenhum pecador tem o direito moral de acusar outro pecador da mesma turma. Tsivangirai levou tanta porrada que fortaleceu a sua popularidade no seu país e sofisticamos os seus métodos de repressão.
Na Costa do Marfim Laurent Gabgbo cessou como Presidente. A Comissão Eleitoral Independente (CEI) declarou Alassane Ouattara como vencedor, isto na segunda volta, com 54,1% dos votos. Coube ao presidente cessante 45,9%. Perdeu o poder! Mas, como é típico, os PR´s africanos têm em suas mãos uma excessiva concentração de poderes que os permitem auto constituir-se em polvos blindados de vários tentáculos. Poderosos.
E o que é que aconteceu? O Conselho Constitucional (CC) ignorou os resultados da CEI e declarou o cessante como vencedor. Quem é o presidente do CC? Um indivíduo da confiaça do presidente cessante. Logo, tinha que arquitectar toda esta situação para obter os aplausos merecidos do Laurent Gabgbo. Depois terá os respectivos prémios para confirmar a regra! Entretanto, a situação não está a bater conforme as previsões. Quer dizer, bastava a voz do CC e tudo se acalmaria. O passo seguinte, como de costume, seria o de negociar com o vencedor (dado como perdedor), Alassane Ouattara, para entender que a sua atitude pode minar os passos já conquistados no desenvolvimento do país. Ele entenderia, e a vida continuaria. Muito simples. É o negócio da democracia africana! Mas, nada disso aconteceu. Cada um já tem o seu respectivo Primeiro Ministro. Cada um é Presidente da República. Mas, só têm uma cadeira para os dois. Solução: terão que fazer a “dança da cadeira”. Quando a música parar veremos quem se sentará primeiro.
Cá entre nós: que papel a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) terá diante desta situação? E a União Africana? E a Comunidade Internacional? O que terá de acontecer para que o verdadeiro vencedor, Alassane Ouattara, ocupe o seu lugar para cumprir com a vontade popular? São questões que os próximos tempos, de certeza, responderão.


Luis Guevane, Savana, citado no Diário de um Sociólogo

1 comment:

Anonymous said...

Mau, Maria!
E se esta moda pega???
Maria Helena