Para quem chega a Maputo ou Matola nos últimos dias, dificilmente pode aceitar que está em cidades de um país considerado como um dos mais pobres do mundo. Também dificilmente poderá aceitar que se encontra num país do Terceiro Mundo tal é o movimento quer de peões, quer de automobilistas que se regista neste lapso de tempo que nos separa das festividades do Natal e do Fim-do-Ano. É que circular nas estradas destas duas cidades virou um martírio, um autêntico caos que exige do condutor atenção muito redobrada para evitar envolver-se em sarilhos na via pública.
Maputo, Sexta-Feira, 24 de Dezembro de 2010:: Notícias
Também terá dificuldades de aceitar que se encontra num país onde o petróleo ainda não abunda, apesar das intensas actividades de pesquisa que várias multinacionais continuam a fazer pelo país fora, sobretudo na bacia do Rovuma. É que a quantidade de viaturas que circulam nestas duas cidades nos últimos tempos acaba dando a entender que se está num país abastado, com todos os combustíveis a transbordar a torto e a direito, o que invariavelmente nos remete a uma situação de caos, tal é a indisciplina que caracteriza a circulação automóvel nestas duas urbes.
Pouco ou quase nulo é o esforço que as autoridades imaginam estar a despender ou empreender para regular a circulação rodoviária e pouco ou quase nulos são também os apelos que essas instituições incansavelmente transmitem ou procuram deixar passar para o bem e segurança de todos, uma vez que está mais que provado que neste país e, sobretudo nestas duas cidades, todos estão se “marimbando” com a necessidade de uma condução regrada, disciplinada e segura.
Também está mais que suficientemente provado que nem todos podemos passar as festas, ainda que humildemente, tal como desejaríamos que fossem, uma vez que o momento parece que a isso aconselha, visto que os detentores do capital assim o entendem e vão dai inflacionar os preços dos produtos mais necessitados para o momento. É que ainda que de forma não regulamentada e, por isso, ilegal, muitos comerciantes aproveitam-se deste momento para fazerem as suas incursões pelos bolsos do incauto cidadão, especulando quase tudo o que vendem sob o pretexto de grande procura.
Também ficou mais que suficientemente provado que as estruturas da indústria e comércio definitivamente perderam o barco e por via disso, o controlo da situação, no que à disciplina do preço diz respeito, embora possam se desculpar/escudar na teia da procura e oferta. Também se podem escudar na famosa economia de mercado para não fiscalizarem convenientemente a prática e fixação de preços, ainda que oficialmente, nos tenham brindado com a história de existência de brigadas, quer fixas, quer móveis, que se iriam encarregar de controlar a engorda dos preços, tudo no intuito de proporcionar ao cidadão comum a possibilidade de poder se abastecer com o mínimo necessário para melhoria da sua mesa no dia do Natal/Família ou do Fim-do-Ano.
Não menos atentos multiplicaram-se como cogumelos os amigos do alheio. Aproveitando-se do momento e da possível distracção de qualquer cidadão também não perdem tempo de fazer as suas incursões pelos bolsos dos consumidores. Nalguns casos já são reportados assaltos a capoeiras e curais donde são retirados ilicitamente aves e outro tipo de animais que depois de abatidos ou mesmo vivos são postos à venda a preço de banana no mercado informal, porque, segundo se diz, o momento é de grandes consumos, embora a prática quotidiana aconselhe muita prudência nas despesas, visto que muitas jornadas ainda nos esperam pela frente.
Mas, apesar das dificuldades e da já propalada crise financeira internacional, ainda resta alguma réstia de dignidade e de orgulho de ser ou de aparentar ser um cidadão que também procura fazer o melhor de si de forma a proporcionar a si e aos seus, festas condignas ainda que não com aquela pomposidade que gostaria de ter, porquanto o momento é, efectivamente, de continuar a apertar o cinto até onde não poder mais.
Por estas alturas e porque amanhã já é 25 de Dezembro aconselha-se a qualquer um que esteja atento à passagem do pai natal, sob o risco de ficar sem os bombons ou outros presentes que esta figura normalmente transporta consigo, uma vez que segundo reza a história só aparece uma vez por ano e, de preferência a altas outras, razão mais que suficiente para estar de olho, porque de contrário só poderá voltar a ter essa oportunidade no final do ano que dentro de dias vai começar. Feliz Natal.
Felisberto Matusse
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