Tuesday 28 December 2010

“Ainda não existe verdadeiro pluralismo político em Moçambique”


Segundo o Dom Jaime Gonçalves, Arcebispo da Beira

Para este líder religioso, o executivo deve sair do discurso para a implementação de medidas tendentes a melhorar o ambiente político-social no país.
O arcebispo da Beira, Dom Jaime Gonçalves, apelou aos governantes moçambicanos a implementarem um verdadeiro pluralismo político no país e não limitarem-se apenas a defendê-la em papéis e discursos.
Aquele prelado, que falava à imprensa por ocasião do Natal, criticou veementemente os dirigentes que se fazem passar por pacifistas, democratas e defensores de liberdades políticas e religiosas e que, para tal, “usam a imprensa e encontros públicos para mostrarem esta falsa parte humana enquanto, na prática, os seus posicionamentos ditam o contrário”. Desafio a todos os políticos e governantes, “estejam eles no poder ou na oposição, para transformarem os seus lindos discursos de pluralistas políticos e religiosos, humanistas e democratas em actos. Estamos cansados de conviver com pessoas que se aproveitam da ignorância, do analfabetismo e da falta de informação dos seus compatriotas para tirar dividendos, enriquecendo à custa dos outros, perpetuando o sofrimento de milhares de pessoas”. O líder da Igreja Católica na Beira disse, na mesma ocasião, que sente vergonha de alguns compatriotas que se sujeitam a projectos exploratórios de alguns ocidentais que, em nome de alegada parceria, procuram a todo o custo sacar os nossos bens, mas com um retorno insignificante. Ou seja, quem ganha com estes tipos de acordos é apenas um grupinho de pessoas.
Sem apontar nomes de pessoas ou projectos, o Dom Jaime disse que alguns dirigentes usam interesses económicos, para aprovar projectos de grande envergadura sem, contudo, observar as eventuais consequências negativas dos mesmos.
Para o arcebispo da Beira, projectos económicos não podem suplantar e menosprezar a dignidade das pessoas.


Francisco Raiva, O País

ADENDA


Dom Jaime Gonçalves defende que o “pluralismo político” se ensine

Arcebispo da Beira diz que “é dever do Estado educar a todos sobre o pluralismo político” e “porque é de lei, esta questão devia ser ensinada até no sistema de educação”. Depois acrescentou que “não basta dizer que se está em democracia sem que as pessoas sejam informadas que as mesmas estão livres de se filiarem a qualquer formação política reconhecida”. Reforçou a sua tese alegando que “o pluralismo político não se adquire, aprende-se”.

Canalmoz. Leia mais aqui.

ADENDA 2


O arcebispo da Beira diz “ser sabido que os processos eleitorais em África são processos que, de facto não são democráticos”, mas adiantou haver em Moçambique “ideias novas que talvez não tenham a força da eficiência, mas que são, em grande parte, fundamento para optimismo da vida nacional”.
Numa entrevista exclusiva à VOA, o arcebispo Jaime Gonçalves nota que “há democracias que se concebem como democracias de um só partido, mas “democracia – acrescenta - implica multipartidarismo, uma sociedade pluralista”.
D. Jaime Gonçalves, um dos obreiros do Acordo Geral de Paz celebrado, em 1992, entre a Frelimo e a Renamo, convidado a analisar o processo democrático em Moçambique, no ano que agora termina, disse que, “avaliar a democracia num país africano, num ano, significa dizer algumas coisas, mas omitir outras, porque o sistema democrático abrange muitos sectores da vida nacional”.

Voz da América. Escute a entrevista aqui.

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