Tuesday 29 July 2014

Nada de tentar açambarcar o que pertence a todos

Neste Moçambique, temos de nos habituar a respeitar o que é de todos. Quando se alcançar o consenso e o acordo político em negociação, assinado, não venha alguém arvorar-se em príncipe da PAZ, pois esta pertence aos moçambicanos todos.
Temos uma nova oportunidade de renascer como país em construção d...a sua nação.
Ninguém embandeire em arco, pois o trabalho a realizar é imenso e complexo.
Há que dar parabéns aos negociadores de ambas as partes pela coragem e firmeza que emprestaram a todo o processo que culminou com o alcance de tão desejado consenso.
A normalização do processo político moçambicano deve ser vista como parte de uma aprendizagem que jamais será linear.
Temos de ter orgulho de sermos moçambicanos que, sem mediação estrangeira, souberam encontrar caminhos apropriados para limar arestas de algo que é de interesse comum. Os conselhos ouvidos e acatados provenientes de chancelarias internacionais tiveram e têm a sua importância, mas o essencial foi feito por moçambicanos.
Mas é necessário que este novo acordo signifique uma mudança de postura entre as partes e entre todos os moçambicanos. No lugar do ódio visceral exibido e proclamado por alguns articulistas e políticos, é preciso semear a concórdia e a boa convivência. No lugar de criar inimizades, é precisar construir pontes que unam moçambicanos que se reconhecem diferentes mas todos moçambicanos.
Outra coisa que precisa de ficar definida ou repensada é que não se poderá construir um país próspero e desenvolvido se a democracia política não se transformar em democracia económica. É uma moeda com duas faces.
Este Moçambique não pode jamais ser transformado em “quintal privado” de líderes políticos.
Este Moçambique jamais poderá ver os seus filhos sendo discriminados no acesso à educação, saúde e economia.
Fique claro e seja claro que os sacrifícios consentidos pelos melhores filhos deste país não foram para que, uma vez alcançada a Independência e a democracia, alguns moçambicanos se tornassem especiais e cidadãos de primeira classe.
Deve ser energicamente combatida, nos fóruns apropriados, no parlamento, na comunicação social, na academia, a tendência danosa de implementar esquemas de enriquecimento ilícito com base nos recursos naturais nacionais e através de fundos públicos.
No quadro do renovado acordo político, espera-se o renascimento de uma cultura de tolerância política, de debate sério e sem tabus da vida nacional em toda sua plenitude.
Aquele discurso de alguns governantes que afirmam que não se distribui dinheiro, quando se referem aos recursos naturais sendo explorados, é enganoso, na medida em que tais pessoas abocanham sempre uma fatia dos recursos concessionados às multinacionais. Seja encontrada uma fórmula de valorizar os recursos naturais, e que a sua exploração signifique que os moçambicanos ficam a ganhar algo com significado. Quando se encontra um filão de ouro numa propriedade privada, o seu proprietário ganha algo com a exploração do ouro, mesmo que não seja ele a fazer a exploração. A opção que foi seguida na exploração de rubis em Cabo Delgado tem muito que se lhe diga, e receia-se que motivações políticas tenham estado à frente dos interesses genuínos dos aldeões que acabaram escorraçados de suas terras históricas. São estes e outros assuntos que deverão ser discutidos com responsabilidade em prol da paz e estabilidade política e económica do país. Não vale a pena adiar e esconder “dossiers”.
Uma vez consumada a principal aspiração dos moçambicanos, a PAZ, este país, Moçambique, precisa de reactivar as suas instituições e bater-se como um todo pela separação efectiva dos poderes democráticos.
Exército na caserna, PRM nas esquadras e políticos fazendo política de forma razoável, cívica e patriótica.
A fórmula da paz pode resumir-se em respeito pelos direitos políticos e económicos dos cidadãos.
Com o trabalho abnegado de todos é possível construir um país em que ser dirigente não signifique ser um pequeno deus.
Este Julho será histórico num ano histórico em que os moçambicanos mais uma vez mostraram que conseguem discutir as suas diferenças e alcançar consensos de vulto e impacto.
Bem-haja a PAZ e bem hajam os moçambicanos.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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