Saturday, 5 July 2014

As guerras da edilidade

 
Temos estado atentos à caça desenfreada que o município da capital moçambicana faz contra os vendedores informais e ambulantes em virtude de os mesmos obstruírem passeios, dificultando a circulação de peões, dentre outros males que decorrem das suas actividades. Todavia, esta situação causa-nos bastante estupefacção.
É que numa cidade onde o lixo abunda cada vez mais e os esgotos rebentam pelas costuras e poluem o meio ambiente, os gestores daquela instituição do Estado deviam aplicar as suas energias no combate a estes males que ameaçam colocar em xeque a saúde dos munícipes.
Com tanto trabalho com que o município se podia ocupar, é, no mínimo, despropositado estar a perseguir gente que paga impostos e a tentar empurrá-la para um lugar onde não foram previamente criados meios para realizarem as suas actividades condignamente.
E há quem ainda acredite que as senhoras que se encontram à entrada dos mercados voltarão a ocupar as bancas que abandonaram no interior daqueles locais. A edilidade não poupa os seus esforços e continua a caçar condutores e a rebocar as suas viaturas por alegadamente estarem mal estacionadas. Em contrapartida, não há parques de estacionamento na urbe para albergar os veículos que tendem a aumentar a cada dia que passa.
O problema de estacionamento não pode ser resolvido com medidas paliativas tais como bloquear para depois aplicar multas. É preciso erguer infra-estruturas e ter-se planos que acompanham o crescimento da cidade. Não basta proibir o parqueamento em lugares considerados inadequados e sancionar supostos prevaricadores; é preciso criar lugares destinados para o efeito e assegurar que haja transporte público suficiente e decente.
As guerras da edilidade deviam ser também contra os buracos, contra a imundice que se tornou um problema comum na capital do país e, sobretudo, contra desordenamento territorial. Andar a perseguir gente que batalha pela sobrevivência é, na verdade, uma acção de entretenimento e própria de gente que quando não tem nada a fazer opta por improvisos e, por conseguinte, resvala no que temos visto.
Muita gente já deve ter constatado o facto de que a edilidade que temos não consegue manter as valas de drenagem limpas, por pura incapacidade. O município não pode estar a desencadear uma guerra contra aqueles que recorrem a meios honestos para sobreviver quando na mesma zona onde actua as ruínas são transformadas em covis de marginais.
Impedir os vendedores de realizarem os seus negócios sobre os passeios é realmente uma iniciativa louvável mas esse trabalho é nulo numa cidade onde as normas criadas para o efeito são aplicadas de forma esporádica, para além de estarem desajustada da realidade que se pretende regular.
E uma das prioridades devia ser encontrar mecanismos para conter a onda de cabritismo que consta da extensa lista dos problemas que obstam o fim da anarquia no sector dos transportes semicolectivos de passageiros. Deixem aqueles que sobrevivem de forma leal desenvolverem as suas actividades em paz.



Editorial, A Verdade

1 comment:

Anonymous said...

Valas de drenagem no século XIX são mais consistentes do que aquelas que hoje se constrói pelas empresas de seus sobrinhos que não apresentam nem um sinal de aplicação de engenharia, não parecem obras aprovadas por pessoas com gravatas e conhecimento. Afinal as vossas gravatas representam o quê? As vossas obras meu filho nem pode aceitar que são obras de pessoas com conhecimento e de respeito ao seu território, é tudo uma mancha para gente grande como grande que já ficou pequeno pela actuação. Gente burra...