Wednesday 2 July 2014

Os últimos detalhes para a paz


Dhlakama quer que Guebuza declare publicamente que se a oposição ganhar as eleições não haverá golpe de Estado

Benefícios económicos para generais da Renamo estão em discussão

Solução para proteger Dhlakama por atribuir-se-lhe a função de vice-Presidente da República, implica o adiamento das eleições por cerca de um ano

Afonso Dhlakama, o líder da Renamo, quer que o PR, Armando Guebuza, faça uma declaração pública assegurando que, no caso de a oposição vencer as eleições de 15 de Outubro não haverá golpe de Estado, disseram-nos fontes bem colocadas, familiarizadas com o que está acontecer num outro palco das negociações, longe dos holofotes da opinião pública.
Dentro de duas semanas, ou um pouco mais tarde, Guebuza e Dhlakama poderão encontrar-se para a anúncio do cessar-fogo, permitindo que o país volte à normalidade, abrindo caminho para um processo eleitoral sem violência política armada (Guebuza regressa de Lisboa esta semana e volta a sair novamente para uma cimeira da CPLP em Timor Leste, que decorrerá no final deste mês).

Mas o cessar-fogo, garantem as nossas fontes, depende de o Governo e a Renamo acordarem alguns detalhes, nomeadamente:

i) depois do cessar-fogo haverá a necessidade de “controlar” os guerrilheiros da Renamo; os negociadores do Governo estão a sugerir o conceito de acantonamento, mas a Renamo prefere uma abordagem diferente; ii) clarificação de como o Governo vai oferecer aos generais da Renamo alguns benefícios económicos.

O Governo, disseram as nossas fontes, está disposto a fazer estas últimas acomodações, mas precisa de tempo para analisar as opções. Nos bastidores, alega-se que antigo conselheiro da Renamo, de nacionalidade estrangeira, está a influenciar Dhlakama para exigir uma clarificação imediata dos benefícios.
Outro grande ponto de discórdia é a exigência da Renamo para que lhe sejam oferecidos metade dos altos cargos nas Forças Armadas e da polícia. O governo rejeitou repetidamente essa exigência, considerando-a como um absurdo, sublinhando que as Forças Armadas não podem se constituir sob base partidária. Mas Dhlakama informou recentemente aos “mediadores” das negociações do palco paralelo que o que ele pretende, na verdade, não é “paridade integral” mas a presença da Renamo na chefia de uma parte dos principais comandos das Forças de Defesa e Segurança (marinha, exercito e força áreas).
A intenção, terá dito Dhlakama aos “mediadores”, é a de garantir que as forças armadas não actuem contra elementos da Renamo e, sobretudo, não engendrem o tal “golpe de Estado” que Dhlakama receia. A retirada das FDM da zona da Gorongosa também está a ser exigida, como é de conhecimento público.
Mas a grande questão agora é a de se acordar garantias de segurança para Dhlakama. Trata-se, dizem as nossas fontes, de um ponto muito sensível e já foi colocado na mesa a possibilidade de Dhlakama assumir a vice-presidência do Estado. O facto de a revisão da Constituição da República estar ainda na mesa, abre essa possibilidade, mas levanta igualmente uma questão: ficaria Dhlakama satisfeito com um cargo tão efémero dado que as eleições gerais se realizam em Outubro?
Os mediadores crêem que “não” e, por isso, está a ser também discutida a possibilidade do adiamento das eleições. Essa possibilidade está a ganhar peso no seio dos apoiantes de Guebuza dentro da Frelimo e crê-se que Guebuza não teria muitas objecções.


(Marcelo Mosse)

MediaFax– 02.07.2014

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