Entidades islâmicas moçambicanas estão a aliciar jovens de famílias pobres nas mesquitas do interior de Moçambique, para alegadamente estudarem no Sudão num "processo não transparente", denunciaram hoje os cinco estudantes moçambicanos repatriados pelo Governo sudanês.
Cinco dos 45 estudantes moçambicanos no Sudão (na imagem) chegaram na quinta-feira à capital moçambicana, Maputo, depois de terem sido expulsos pelo Governo de Cartum, na sequência de um diferendo com a Universidade que frequentavam.
Recentemente, o grupo de moçambicanos que estudava na Universidade Internacional de África no Sudão denunciou à Lusa as "precárias condições" de vida naquele país africano, responsabilizando "algumas organizações islâmicas" moçambicanas de os terem enviado a Cartum, mas com "objectivos obscuros".
Em declarações hoje aos jornalistas, os estudantes contaram que o processo de selecção de estudantes do nível médio para o Sudão é feito pelas mesquitas nas regiões pobres de Moçambique por organizações islâmicas que "anualmente usam nova metodologia de recrutamento".
"Num ano, há uma organização que recruta numa mesquita, no ano seguinte é noutra", contou o porta-voz do grupo de estudantes, Magaia João Albino, natural de Nampula, no norte de Moçambique.
Segundo o estudante moçambicano expulso da Universidade Internacional de África no Sudão, "os responsáveis (pela mobilização) estão em Maputo", contudo, desconhece-se ao certo "o número total destes responsáveis que estão metidos nesse assunto".
"Os que conhecemos são pessoas que trabalharam directamente connosco. Segundo eles, as bolsas partem de Maputo, mas eles têm várias pessoas (que alistam jovens) nas províncias de Nampula e Zambézia, concretamente nos distritos de Nacala e Pebane", disse Magaia João Albino.
"Eu, por exemplo, sou natural de Nampula e estava no Gurué (na província da Zambézia). Fiz a minha 12.ª (classe) na Escola Secundária de Gurué. Depois de eu concluir, chegou-me um comunicado na mesquita e eu tive que enviar uma cópia do meu certificado a Quelimane, onde está um responsável ligado aos de Maputo. Mais tarde fui convocado para ir fazer exame de admissão para adquirir a bolsa. Fui a Quelimane", contou.
Segundo Magaia João Albino, alguns candidatos às bolsas de estudo fazem exames de admissão "nas mesquitas, outros em casa de alguém", ou seja, dos responsáveis islâmicos que alistam jovens moçambicanos interessados em fazer o ensino superior no Sudão.
Mas cada estudante deve ter um valor monetário para sair da sua província de origem até Maputo, onde é recebido por um membro de uma das organizações islâmicas, que retirou todo o dinheiro dos candidatos, supostamente para cambiar para a libra sudanesa e prometeu atribuir um subsídio correspondente a 300 dólares a cada um.
"Primeiramente, quando ele nos recebeu o tipo de alojamento que nós tivemos logo descobrimos que isso não era bolsa de estudo, era uma jogada, porque ele nos tirou da estação (de autocarros) pôs-nos em casa dele, depois colocou-nos na mesquita, depois pôs-nos noutro sítio. Tudo isso para que o governo ou alguém não se apercebesse que existem estudantes aglomerados em algum sítio" em Maputo, disse.
De acordo com os cinco estudantes, as organizações islâmicas moçambicanas enviam jovens para o Sudão "para ganhar algo dos dirigentes árabes, ou seja, eles vendem os estudantes".
(RM/Lusa)
* Foto de opais.co.mz
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