Saturday, 30 June 2012

Reconceptualizar as categorias de ideal e de unidade nacionais - defende historiador

Joel Tembe (J. Macamo)
O MULTIPARTIDARISMO e a economia de mercado vigentes do país impõem a reconceptualização das categorias de ideal e de unidade nacionais pois, por vezes, se confundem com alguma falta de estratégia clara para a sua materialização, segundo defendeu, em entrevista ao nosso Jornal, o historiador Joel Tembe, no âmbito das auscultações que temos vindo a realizar junto de diversas personalidades por ocasião dos 50 anos da fundação da Frelimo.

Maputo, Sexta-Feira, 29 de Junho de 2012:: Notícias

Joel Tembe destacou três aspectos que para ele foram importantes no percurso histórico da Frelimo, sobretudo no período pós-independência. Trata-se do ideal de construção de uma sociedade inclusiva e de bem-estar para todos, da unidade nacional e a solidariedade interna e internacional.
Para o historiador, é possível construir uma sociedade inclusiva e de bem-estar para todos, dependendo da clareza do ideal a defender, tal como o fizeram as gerações do 25 de Setembro e do 8 de Março, muito embora algumas correntes de opinião sustentem que é uma utopia num contexto neo-liberal. Sublinhou que a geração do 8 de Março, a que ele pertenceu, assumiu na altura um ideal de tal forma que as ambições e os sonhos individuais foram abdicados por uma causa colectiva.
A unidade nacional, cujo obreiro foi Eduardo Mondlane, foi e continua a ser um paradigma complexo que exige uma discussão permanente no seio dos moçambicanos. Ela foi operadora no contexto da luta armada de libertação nacional e tornou possível a independência nacional.
Joel Tembe, que nos últimos 12 anos tem vindo a dedicar-se bastante na investigação sobre a história da Frelimo para entender o processo que culminou com a libertação de Moçambique, afirmou que houve durante o mesmo, problemas de racismo, tribalismo e de grupismo, destacando a capacidade e o papel de Eduardo Mondlane na mobilização de jovens para a causa.
Disse que durante a luta de libertação nacional houve disputas terríveis no seio do movimento guerrilheiro e apelou aos investigadores e académicos para o dever de escreverem sobre como as estratégias de grupo tiveram influência na construção da sociedade moçambicana.
Mas, para Joel Tembe, não é possível perceber a luta de libertação nacional sem se recuar para os movimentos nacionalistas, nomeadamente para aferir a sua génese, o ideal das pessoas que os fundaram e como se fundiram numa só frente. Afirmou que a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) é uma espécie de reencontro entre grupos de vários estratos sociais com várias motivações e que encontraram na diáspora um mecanismo de consolidação da ideia e da consciência nacionalista.
Uma das diásporas importantes nesse processo é a que se baseou na África Austral, que constituía a maioria. Outras diásporas constituíram-se designadamente na Europa e nos Estados Unidos da América, formadas por estudantes. Essas diásporas desenvolveram a sua ideia e influência política inspirando-se nos acontecimentos que naquela altura ganhavam forma no mundo e tiveram como ninho Dar-es-Salaam, a capital tanzaniana.
“A Frelimo significou a libertação do povo moçambicano do colonialismo português. Essa libertação tinha desafios, o maior dos quais a construção do país. Aí é que começam os problemas, derivados da estratégia adoptada para projectar uma sociedade pós-colonial”, disse.

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