Sunday 17 June 2012

O que o pão gerou na baixa de Maputo!

TUDO teve como ponto de partida os passeios, regra geral defronte de padarias, onde os mais atentos ao negócio, descobriram que podiam fazer um casamento perfeito entre o pão e a “bajia”, um pastel caseiro feito na base de feijão cafreal.
A ideia era, ao mesmo tempo que se ganhava o dinheiro, proporcionar um pequeno-almoço mais “nutritivo” a quem tivesse somente o pão para matar a fome, que às primeiras horas da manhã, apoquenta a qualquer que seja.
Hoje, o negócio evoluiu de tal forma que, na zona baixa da capital do país, surgem a cada dia, inovações atrás de inovações tudo na busca de rendimento nuns casos e de sustentabilidade noutros.
Vende-se um pouco de tudo, desde o pão, a “bajia”, o chá, passando pelos enlatados russian (Rachen), chouriço, palony, ovos, batata, pregos, queijo, bolos dos mais diversos tipos e sabores e até a sopa. Os mais agressivos usam suas viaturas para contemplarem maior número possível de clientes em pouco tempo. É que entre ficar numa esquina à espera do cliente e ir ao encontro deste, há uma diferença em termos de negócio.
Quase todos os pratos são confeccionados mesmo no local como forma de dar ao cliente algo ainda quente. Os clientes são trabalhadores da zona baixa que vivendo longe, muito cedo se fazem à cidade, sem que tenham tido tempo para tomar o pequeno almoço. São nalguns casos funcionários, condutores de chapas, taxistas, cobradores, vendedores ambulantes, alunos e transeuntes.

Quando o frio aperta há espaço para inovação

Mesmo os que se dedicavam à venda de pão e refrigerantes, com a chegada do inverno viram-se obrigados a inovar para servirem maior número possível de clientes. Lina Almeida já há muito que é vendedeira informal. O refrigerante era o seu único produto. Mas, com o frio descobriu que pouco rendimento conseguia e pensou em algo que fizesse diferença nas suas finanças. O seu ponto é a terminal de chapas da Praça dos Combatentes-Baixa.
Seus clientes eram diversificados, desde taxistas, chapeiros, cobradores, passageiros, transeuntes e até os que vendem nas imediações. Pensou em algo que pudesse atrair os clientes nas manhãs e lhe trazer mais dinheiro: a sopa.
Por dia faz 30 litros de sopa e leva-nos diariamente de balde, num chapa para a sua esquina onde com recurso a um fogão à carvão aquece e vende aos seus clientes das sete as nove horas. Finda jornada, vai à compra de ingredientes do dia seguinte e cuida dos trabalhos caseiros. É com aquele pequeno negócio que sustenta a sua filha e dois sobrinhos. Consegue ainda algumas realizações que marcam pela positiva a sua vida. Seu sonho é ter um espaço condigno e poder confeccionar e diversificar os seus produtos.
Se há quem já inovou no seu negócio, em função do tempo, outros ainda pensam em diversificar. Argentina Alfredo é outra entrevistada que se dedica à venda de refeições em diversos pontos da cidade de Maputo. Começou a sua actividade vendendo refeições para o pequeno-almoço em empresas da Baixa e de tempos em tempos foi conquistando muitos clientes.
Contou que faz a sua actividade há mais de 10 anos e do fruto do negócio comprou três viaturas duas das quais circulam pela cidade com paragens em pontos já específicos, onde os clientes vão à hora do pequeno-almoço.
As noites são reservadas para a confecção de bolos, temperar as carnes para logo as três da manha iniciar a preparação de outros acompanhantes do pão de forma a garantir que o produto chegue a tempo e hora ao cliente.
Um fogão aqui e acolá com jovens prontos a confeccionar e a servir os clientes vai se multiplicando esquina em esquina. Num dos pontos da cidade ouvimos um vendedor anónimo que diz ter os polidores como clientes favoritos dai a escolha do ponto em que trabalha que é junto a um grande local de estacionamento de carros.
Por dia prepara no mínimo três sacos de batata. O período de tarde é de alta pois, é quando mais comida se vende. Um prato de batata sai a 40 meticais e o cliente é que decide se compra somente a batata ou se leva também o pão para o acompanhamento.

Ardinas: O outro mercado fértil

Nas imediações do Noticias é tradição a venda de chá para aqueles que logo às primeiras horas da manhã têm a obrigação de levar a informação aos leitores, faça sol, faça chuva: os ardinas. Só que, à semelhança de outros negócios, este cresceu e para além dos ardinas muito mais gente se abastece neste ponto que passou a ser de referência somente nas manhãs.
O negócio começou com apenas uma pessoa, mas de tempos em tempos foi notório o crescimento do número de vendedores que viram as imediações do Noticias como terreno fértil para os seus negócios.
Soubemos que a demanda se revela cada vez maior, sobretudo nos dias em que o jornal se faz tarde à sede do matutino. A entrada em funcionamento da nova rotativa no município da Matola teria reduzido de forma significativa o número de ardinas, mas os vendedores dizem não se desesperarem porque aquele é que é o seu ganha-pão.
Do chá, que é um imperativo nas madrugadas frias já se vende um pouco de tudo. O pão, as chamussas, mandioca cozida.
A venda do pequeno-almoço nas ruas de Maputo até se faz de geração em geração. Há vendedeiras que herdaram das suas mães os lugares e o tipo de negócio e hoje sentem-se calejadas com o trabalho que resulta de anos de experiência.
Dininha Mainga começou por trabalhar com a sua mãe e hoje está em condições de lavar a actividade avante, mesmo sozinha. Sente-se satisfeita por poder garantir o material escolar das crianças sem nenhum problema.
Há quem se alimenta nas ruas da baixa, mas com vergonha do que faz. Mas porque com fome não há vergonha há os que vão sem nenhum receio. Dionísio diz recorrer à batata frita nos passeios e pão para matar a fome sempre que dispor de dinheiro e faz sempre no mesmo local, pois sai muito cedo e por conseguinte sem comer nada.

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