Tuesday 12 June 2012

A terceira república e os arranjos para que os seus integrantes se governem, continua

A caminho do fim mas em aceleração progressiva…

Não se pode alegar que não haja clareza nos objectivos que o governo do dia está perseguindo.
Também seria uma ilusão pretender que após estes anos de governação da actual equipa refeita ou recauchutada, tivéssemos tudo andando às mil maravilhas.
Há muito trabalho e pode-se verificar que há gente trabalhando mas que há muito mais gente que faz de conta que trabalha.
No país não é trabalho que falta mas uma certa visão sobre quais os caminhos que se deveriam estar seguindo para a obtenção mais rápida de resultados.
Há uma grande dose de falta de consensos ou concertação nacional. Aqueles diálogos que se mostram necessários são evitados ou quem os deveria estar promovendo simplesmente recusa-se a permitir que existam ou que se realizem.
Alguma coisa dá a entender que há uma estratégia de contenção de diálogos completamente oposta à prática corrente de abandono dos caminhos da austeridade que seriam de seguir no interesse da governação e da coisa pública no país. Os que governam entendem e praticam o princípio de não dar espaço a quem quer que seja. Espaço é só para eles.
A governação está enclausurada e o apetite voraz dos titulares dos diferentes pelouros é marcante em quase todos os dossiers nacionais.
Parece que a palavra de ordem é fechar as portas ao diálogo e é visível a frustração generalizada que os moçambicanos sentem e vivem.
Até se zangarem de uma vez por todas e as forças policiais entenderem que eles também são vítimas do mesmo que todos os moçambicanos civis.
Não se trata de inexistência de conhecimentos ou diagnósticos mais ou menos credíveis sobre a realidade nacional.
Todo o potencial e capital humano que se foi desenvolvendo ao longo dos anos, tanto na primeira república como na segunda, foram estrategicamente preteridos em nome de uma agenda de governação centralizada no novo chefe.
Inegável que quem ascende nomeia sua equipa e se rodeia de quem acha que será mais conveniente para levar a cabo determinados objectivos.
Inegável também que povoar o aparelho partidário e governamental de pessoas pouco dispostas ou incapazes de questionar com propriedade, condutas e procedimentos, revela-se fatal para a concretização de algumas lógicas governativas.
Há todo um conjunto de procedimentos que denotam a intenção firme de açambarcar agendas ou de capitalizar posições hierárquicas. O deficit de diálogo social é na verdade uma forma de governar adoptada por quem sabe que de outro modo jamais poderia impor sua nova agenda.
Assim, por arrastamento ou por convicção metodológica muitos moçambicanos, no sentido de continuar a sobreviver, decidiram que tinham que calar-se e cumprir simplesmente as pretensões do chefe. Mesmo quando o chefe não se manifesta todo o mundo sabe o que ele quer e como quer que seja feito.
Não precisa grande dose de qualidades analíticas para verificar e concluir que existe uma estratégia em implementação.
Todos os projectos de grande ou pequena envergadura têm um sentido e direcção específicos.
Como habitualmente se diz, nada acontece por acaso, em política ou em economia.
Existem porta-vozes e guardiões de interesses específicos e tudo está delineado no sentido de garantir que o futuro próximo esteja protegido e salvaguardado.
Toda a avalanche de projectos e aprovação de projectos, internacionais ou em regime de joint-ventures está obedecendo a uma agenda específica. Em regime de cópia, “copy and paste”, com procedimentos do outro lado do Atlântico, observam-se sinais inequívocos de que há muitas pessoas que gravitam pelos círculos do poder que estão preparando o seu futuro.
Tudo para que não aconteça o que se deu com os titulares da segunda república e sua fauna acompanhante.
De agora até ao congresso do partido governamental vão-se verificar realizações que são do interesse nacional mas executadas de modo que mostrar realmente até que ponto existe “inside trading” em Moçambique.
Se do ponto de vista político se procura apresentar uma tese que defenda a manutenção no poder político do actual PR e presidente do partido Frelimo através de uma fórmula que implique a mudança do titular da Ponta Vermelha, mas não da ex-Pereira do Lago (onde está o CC da Frelimo), uma vitória dessa tese no congresso é bem possível.
Assim teríamos a fórmula de Putin modificada mas essencialmente o mesmo. Não há entre delfins ou gente da chamada geração 8 de Março alguém que possa ser candidato a PR pela Frelimo sem dever obediência pura e simples aos detentores reais do poder.
Não é o próximo congresso que vai retirar de cena os históricos da Frelimo, do “25 de Setembro”. Só em eleições gerais isso pode acontecer se o povo entender que este país não avança enquanto esses senhores continuarem a querer mandar em Moçambique.
Os jogos de cintura que se adivinham no horizonte, as manobras nos bastidores, a guerra aberta ou camuflada entre as alas dentro da Frelimo, a tentativa de recuperação de protagonismo por “escribas dominicais” e outros franco-atiradores vão dar que falar e escrever.
Da oposição e da sociedade civil que se quiser afirmar como digna desse nome vai acontecer alguma pressão no sentido de garantir que não haja mudanças que afectem o actual figurino constitucional.
Como há pleitos eleitorais programados para os próximos dois anos é de prever que qualquer concepção estratégica seja feita tendo em conta essa realidade.
Moçambique atravessa momentos importantes e graves de sua história.
Parece que a actual discussão sobre dossiers económicos como os megaprojectos consubstancia um crescimento do entendimento político nacional.
Independentemente do futuro próximo, dos vencedores no congresso da Frelimo, é importante que a classe política deste país se compenetre de que sem uma partilha consentânea dos recursos naturais existentes se estará “semeando ventos de onde se vão colher tempestades”.
Não se pode continuar a enganar os moçambicanos com furos de água que só dão água uns dias e escolas sem carteiras. Construir um posto de saúde sem medicamentos na maior parte do ano também já não convence.
Tudo isso só ajuda a semear a revolta que não tarda.
Está ao alcance dos moçambicanos revisitar a sua história e fazer as necessárias correcções e inclusões.
Os obtusos e promotores do exclusivismo, os estrategas do “estalinismo local”, agentes da Internacional Comunista, combatentes anti-democracia não se vão cansar de catalogar quem os questiona com este ou aquele nome depreciativo. No passado já o faziam e não aprenderam a fazer outra coisa. Hoje os reaccionários já se orgulham de assim serem chamados.
O interessante é que já nem no seio de seu partido os velhos de Nacvhingweia granjeiam simpatia. Tinham o poder e abusaram dele. Poderiam ter convencido pelo exemplo e pelo know-how mas quase sempre que se encontraram em posições de poder optaram por ignorar que os outros moçambicanos também existiam e tinham e têm direitos.
Este momento da história particular de Moçambique vai exigir cada vez mais hombridade, coragem, comprometimento e cometimento com a causa nacional consensual e não criação de clivagens baseadas em posições promotoras de instabilidade.
Existe um país mas ainda não existe uma nação como certas as vezes nos querem convencer.
A nação constrói-se com diálogo, debate, maturidade em verificar que sem compartilharmos Moçambique estaremos envenenando Moçambique.
Urge deixarmos de ser a “república das bananas” em que qualquer “traficante” progride em detrimento da maioria dos moçambicanos.
As alianças que estão desertificando e poluindo Moçambique precisam da atenção dos políticos e deputados moçambicanos.
Ninguém pode alhear-se aos combates pela causa nacional.
Os estrategas da terceira república que se situem e vejam com olhos de ver o que se está a desenhar. Com olhos fechados a surpresa pode ser terrível.

Noé Nhantumbo, Canal Moçambique – 06.06.20122, citado no Moçambique para todos

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