Friday 29 June 2012

Moçambique: Problemas alimentares são "manifestação humana mais cruel da pobreza" - Especialista

fome criancaO Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN) defendeu hoje soluções integradas para melhorar o acesso aos alimentos em Moçambique, onde 80 por cento dos problemas alimentares e nutricionais "reflectem a manifestação humana mais cruel da pobreza".
Falando em Maputo na abertura do seminário sobre a estratégia de batata-doce de polpa alaranjada, Marcela Libombo, do SETSAN, considerou que Moçambique "tem níveis inaceitavelmente altos de desnutrição crónica".
Marcela Libombo disse que, dos 54,7 por cento da população pobre em Moçambique, cerca de 80 por cento são afectados por problemas de alimentação e nutrição.
"Urge encontrarmos soluções holísticas para melhorar o acesso aos alimentos, a educação nutricional, a higiene pessoal e o saneamento do meio, de modo a melhorarmos a situação", disse Marcela Libombo.
O seminário, organizado pela Helen Keller International em parceria com o Governo, através do SETSAN, visa mobilizar investimentos na ordem de pelo menos seis milhões de dólares para aplicar a estratégia de produção e disseminação da batata-doce de polpa alaranjada em Moçambique.
Citando o Inquérito Demográfico e de Saúde de 2011, a responsável indicou que a taxa de desnutrição crónica em Moçambique é de 43 por cento e a deficiência em micronutrientes, nomeadamente a Vitamina A, afecta 66 por cento das crianças em idade pré-escolar, sendo uma das principais causas da mortalidade infantil.
Até 2020, o Governo moçambicano prevê reduzir para 20 por cento a desnutrição crónica em crianças menores de cinco anos, mas, segundo estimativas das autoridades moçambicanas, um terço das crianças desta faixa etária morre anualmente devido ao problema.
Recentemente, o executivo moçambicano aprovou o Plano Multisectorial de Redução da Desnutrição Crónica, que pretende melhorar o estado de saúde nutricional das crianças e mulheres moçambicanas, iniciativa que pretende estancar o número de menores grávidas e reduzir o de crianças que nascem com menos de 2,5 quilogramas de peso.
De acordo com o SETSAN, a insegurança alimentar em Moçambique afecta 36 por cento da população, números "demasiadamente altos e que reflectem a manifestação humana mais cruel da pobreza", disse Marcela Libombo.
Na sua intervenção, a responsável defendeu a disseminação da batata-doce de polpa alaranjada como parte da estratégia de biofortificação, uma abordagem baseada em alimentos que podem ser produzidos pelas populações e que oferece uma alternativa sustentável, de baixo custo e de rápida disseminação.
O consumo da batata-doce de polpa alaranjada, cultura que foi introduzida com maior vigor no país após as cheias de 2000, é considerado importante para a redução da deficiência em Vitamina A.
Na última década, o Instituto de Investigação Agrária já distribuiu mais de 300 mil ramas desta variante de batata-doce, cuja produção anual é de 800 mil toneladas.

(RM/Lusa)

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