CINCO estudantes moçambicanos expulsos na quarta-feira, da Universidade Internacional de África em Cartum, no Sudão, por terem denunciado um alegado esquema de tráfico para fins obscuros naquele país, pedem a intervenção urgente do Governo.
Maputo, Sábado, 30 de Junho de 2012:: Notícias
Os estudantes em causa, que desembarcaram na tarde de quinta-feira no aeroporto de Mavalane, estão neste momento amparados pelo Parlamento Juvenil (PJ).
Falando ontem em conferência de Imprensa na sede do PJ, o porta-voz do grupo, Magaia João Albino, natural de Murrupula, província de Nampula, disse, em representação de 45 estudantes que cursam diversas especialidades naquela universidade, que, chegados àquele país, foram condicionados a integrar uma rede de indivíduos que inclui sudaneses e moçambicanos que já lá se encontram há algum tempo, cujos fins denunciam um provável envolvimento na rede Al-Qaeda.
Magaia Albino revelou que os responsáveis pela deslocação dos estudantes moçambicanos ao Sudão estão baseados em Maputo e com pontos focais nas províncias da Zambézia e Nampula, os quais se encarregam de recrutar jovens que tenham concluído o ensino médio. Um cidadão moçambicano de nome Tayob da Silva Cadando foi referido pelo porta-voz do grupo como sendo um dos responsáveis pelo recrutamento, num esquema que envolve superiores religiosos.
Disse que os estudantes, muitos dos quais provenientes de famílias pobres, foram recrutados e submetidos a exames de admissão em diversas mesquitas, na Universidade Mussa Bin Bique e em residências particulares. Magaia Albino confessou que anualmente os envolvidos no esquema em Moçambique enviam ao Sudão centenas de jovens, alegadamente para tirarem cursos superiores naquela universidade, cujos proprietários são muçulmanos.
“Eu estou no Sudão desde Outubro de 2009 a tirar o curso de Jornalismo e Relações Públicas na Faculdade de Letras daquela universidade. Lá estamos a enfrentar muitas dificuldades, desde a falta de fundos para pagar propinas até aos problemas sociais. Num período de um ano, o tipo de alimentação é o mesmo: batata-doce e abóbora. Fomos recrutados nas províncias da Zambézia e Nampula e submetidos a um concurso (exame). Cada um de nós devia possuir um determinado valor monetário para sair da sua província para Maputo. Quando chegámos a Maputo, fomos alojados em diversos locais, incluindo mesquitas. Os nossos passaportes tinham de ser enviados aos responsáveis em Maputo, que se encarregaram de tratar dos devidos procedimentos”, afirmou.
Acrescentou que, antes de partirem ao Sudão, os estudantes foram obrigados a deixar os valores monetários de que dispunham em meticais, montantes que variam de 300 a nove mil, e em troca receberam 300 dólares cada. O porta-voz do grupo disse que, por enfrentarem dificuldades e se aperceberem que os fins eram outros, denunciaram os factos à Imprensa e em troca receberam ameaças que culminaram com a sua expulsão da universidade.
Questionado sobre a motivação que está por detrás do acolhimento daqueles cinco estudantes, o presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, disse que para a organização que dirige os direitos e interesses da juventude estão acima de qualquer agenda.
“A nossa maior motivação é o humanismo. O Parlamento Juvenil é um movimento de defesa da juventude e sente-se na obrigação de acolhê-los e apoiá-los, bem como criar condições para a sua interacção com o Governo. Julgamos que o Estado moçambicano tem obrigações e responsabilidades para com os seus cidadãos. O Governo tem de levar a sério esta situação e agir com responsabilidade e actos. A Procuradoria da República deve investigar este assunto”, disse Salomão Muchanga, acrescentando que é no mínimo esquisito que o Ministério da Educação não tenha conhecimento ou se distancie do caso.
Entretanto, o director-geral do Instituto de Bolsas, Octávio de Jesus, que ainda ontem se deslocou à sede do Parlamento Juvenil para interagir com aqueles estudantes expulsos, disse que neste momento decorrem contactos com as organizações envolvidas na sua deslocação ao Sudão. Octávio de Jesus revelou que um dos indivíduos com quem se está em contacto é o cidadão Ayob que, segundo afirmou, está a colaborar no esclarecimento do assunto.
O director-geral do Instituto de Bolsas admitiu que a deslocação dos estudantes não terá decorrido dentro das normas.
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