Nesta quarta-feira, Nelson Mandela, símbolo vivo de amor pelo próximo, completou mais um ano de vida. Vale, portanto, recordar o seu exemplo de desapego pelo poder e, também, a sua convicção inabalável para lutar pelo bem-estar do seu povo. Nelson Mandela não papagueou, como muitos líderes com pernas de barro que andam por aí, discursos vazios. Não repetiu frases feitas até à náusea de luta por isto e mais aquilo.
Não falou hipocritamente de prosperidade e nem sequer de uma famigerada revolução agrícola que, pelo andar da carruagem, continua cada vez mais verde.
Mandela não pediu sacrifícios aos sacrificados de sempre. Não falou de desenvolvimento onde o desemprego e o trabalho precário grassam. Nelson não deixou que uma “maioria parlamentar” desse origem à “sobranceria governativa” como aqui onde as pessoas deixaram de ser tratadas como tal, para serem reduzidas a números estatísticos e orçamentais.
Nelson Mandela não atirou para a cara do povo o facto de ter sido privado da sua liberdade por causa deles. Mandela não usou o factor libertação para legitimar percentagens criminosas na exploração dos recursos do solo da sua terra. Nelson nunca olhou para a sua luta como um sacrifício para os seus conterrâneos pagarem com sangue. Nelson não lutou para ganhar algo. Lutou para libertar a sua terra. Para se libertar. Lutou para dar voz aos sul-africanos, negros e brancos.
Nelson não chamou vândalos aos seus conterrâneos quando estes reivindicaram o elevado custo de vida. Mandela não dividiu os sul-africanos em genuínos e não genuínos. Mandela não virou homem de negócios. Não prosperou com comissões. Não ganhou parte em barragens, não entrou na telefonia. Mandela procurou simplesmente a liberdade, a sua e a do seu povo. Não para que o povo se prostrasse de gratidão, mas para que o seu coração tivesse descanso.
Numa época em que os líderes políticos se dedicam ao roubo desenfreado e à acumulação ilícita de bens que deviam servir os povos, é imperioso recordar Mandela e o seu exemplo. É imperioso porque Mandela representa o caminho árduo que ninguém quer seguir. É imperioso porque os nossos líderes, não só em África, mas em todo o mundo, deviam procurar replicar o exemplo de Mandela.
Os nossos actuais líderes deviam deixar de ser menos Zedu e passarem a ser mais Mandela. É uma escolha entre viver na opulência e abraçar a imortalidade. É uma escolha entre o banquete do presente e o carinho das gerações vindouras. É uma escolha entre o dinheiro que nunca vão gastar e um espaço no coração do povo.
Em suma: é uma escolha entre o agradecimento colectivo e o enterro na vala comum do desprezo deste povo oprimido. É uma escolha entre ser apenas Presidente ou, efectivamente, líder de uma nação. Escolham...
Editorial, A Verdade
Editorial, A Verdade
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