Thursday 19 March 2009

"Totalitarismo" da Frelimo é também culpa da Renamo - Daviz Simango

A tendência de "totalitarismo" da Frelimo em Moçambique, onde professores são obrigados a sair do trabalho para irem a cerimónias públicas, é também culpa da má organização da Renamo, afirmou terça-feira o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Em entrevista à Lusa, em Lisboa, Daviz Simango, presidente da Câmara Municipal da cidade da Beira, e dissidente da Renamo, elege com principais bandeiras do seu partido o apoio ao desenvolvimento agrícola, habitação, repartição da riqueza e, além disso, tentar "acabar com a confusão entre o partido [no poder, a Frelimo] e o Estado".
"Hoje tem que se ter cartão vermelho da Frelimo para se ser director, para aspirar a cargos superiores, à progressão na carreira", criando desigualdade de oportunidades no acesso aos cargos públicos", denuncia.
O facto de "muitos membros do governo serem comissários políticos", mas membros da Frelimo, "cria descontentamento" entre quadros superiores ou pessoal académico que, alegadamente, teriam mais competência para o cargo. Segundo Simango, há células da Frelimo a funcionar em escolas e hospitais e os seus funcionários são obrigados a participar em determinadas cerimónias públicas, além de que os meios do Estado, como viaturas, acabam usados em "cerimónias partidárias". "O facto de permitir que professores e funcionários públicos tenham de ir ao aeroporto receber o chefe de Estado porque está a visitar uma província, e quem não vai apanha falta, demonstra a democracia que nós temos, totalitária", diz.
"Se as instituições públicas fecham porque o chefe de Estado está a atender ou a chegar, imaginem quantos doentes podem perder a vida porque os médicos foram ao aeroporto", ironiza. "É esta democracia que queremos inverter, torná-la efectiva", diz Simango.
"O professor que vai educar as nossas crianças tem que educá-las pensando na cidadania, no patriotismo, na moçambicanidade. Como é que um professor que se sente oprimido, na obrigação de se filiar num partido e falar dele na escola vai educar as crianças?", questiona.
Para o líder do MDM, que aguarda aprovação pela Comissão Nacional de Eleições, hoje a economia moçambicana está "no punho de três ou quatro pessoas no poder", e falta apoio a pequenas e médias empresas, as que "dão mais trabalho e oportunidades".
"Somos um país próprio para a agricultura, mas continuamos a importar. Isso traz problemas financeiros ao país, é preciso capacitar os agricultores através da mecanização, criar instituições afins que possam acompanhar a actividade agrícola, aconselhando, adquirindo produtos e, terceiro, transportar esses produtos para colocar no mercado". Quanto à habitação, diz, "é preciso criar condições para que os jovens que se formam, que acabam a escolaridade, tenham oportunidades para desenvolver uma nova vida. O Estado tem de criar condições, infra-estruturas, créditos bancários, para que esses jovens possam ter um futuro feliz".
Apesar desta defesa da intervenção estatal, diz, o MDM "está apostado na economia de mercado". A falta de qualidade da democracia moçambicana sente-se, diz, também dentro da Renamo, onde "falta cultura de diálogo" e se prossegue "à deriva". "Enquanto estive lá dentro tentamos introduzir dinâmica no partido, valorizar a oportunidade que tínhamos, com políticos e governantes, de elevar o bom-nome da Renamo, infelizmente não fomos compreendidos. Talvez porque as pessoas não entenderam que a política é uma dinâmica", afirma. Os resultados das autárquicas - em que a Renamo perdeu as cinco autarquias que tinha - mostra que o partido "está mal".A diferença entre o seu movimento e a Renamo, afirma, é justamente "uma democracia interna muito rígida", patente na eleição do líder por voto secreto e limitação a dois mandatos consecutivos.
Para Simango, o risco de fortalecimento da Frelimo por via de uma divisão da oposição não existe, e a prova foi a vitória nas autárquicas na Beira. "Os votos do candidato independente superaram Renamo e Frelimo juntos. É um sinal claro de que o eleitorado sabe o que quer. Não olha para a divisão da oposição como forma de escolher os seus dirigentes. A candidatura do MDM vai buscar votos da oposição, do partido do poder, e da abstenção - as pessoas que não votaram, que não gostam de votar", afirma.
Para Simango, "a Frelimo está no poder por culpa das oposições".
"A Renamo não teve estratégia e capacidade e desejo de ganhar o poder. Não se pode ir às eleições sem fiscais, indicando candidatos à hora de fecho, de forma desorganizada, sem material de propaganda. Aí há grande culpa", defende.

LUSA - 18.03.2009, citado em www.macua.blogs.com .

2 comments:

Anonymous said...

Sempre lutei pela liberdade de afiliacao politica e pela competencia na ocupacao de postos de trabalho, algo que nunca se passou no nosso pais a seguir a independencia. Isso de se ir para o aerporto esperar o Chefe de Estado, ainda e do tempo do ditador samoriano, algo que a Frelimo herdou e decidiu ser uma mais-valia a se aplicar. Eu nao acho que a Renamo nao entende que a política é uma dinâmica, acho que eles gostam de controlar a mente dos militantes, especialmente dos formados, pois sentem-se ameacados pelos mesmos, e demonstram que de cultura de democracia nao tem nada, so o palavreado. Eu nao vou poluir mais a minha mente com a Renamo ou a Frelimo, aposto no MDM, um partido que vai mudar Mocambique para TODOS. Cocorico. Maria Helena

JOSÉ said...

O maior problema de Moçambique é a vergonhosa partidarização da sociedade levada a cabo descaradamente pela Frelimo, em que o que relmente conta é ser membro do partido.
Por isso, eu acredito firmemente no slogan:

Moçambique para todos!