MARCO DO CORREIO
Meu caro amigo Luís
Como estás desde o outro dia em que nos encontrámos?
Do meu lado tudo continua bem.
Hoje queria-te falar da nova força política.
A criação do novo partido, o Movimento Democrático Moçambicano, é, do meu ponto de vista, uma boa notícia.
Há muito que defendo a necessidade do aparecimento de uma terceira força para alterar o actual equilíbrio entre os principais partidos no nosso leque político.
O PDD não o foi, nem nunca pensei que o viesse a ser.
O MDM poderá, talvez, vir a sê-lo.
Até onde me apercebo é formado, essencialmente, por gente jovem. Gente que, digamo-lo claramente, não pertenceu aos bandidos armados. Não andou no mato a matar ninguém.
Gente que se juntou à RENAMO porque não via outra forma de se opor, eficazmente, à FRELIMO.
Gente que descobriu que não era através da RENAMO que esse objectivo poderia ser atingido.
Pelo contrário.
Gente que, como Daviz Simango, percebeu que se pode fazer política e ter sucesso sem se ser nem da FRELIMO nem da RENAMO.
E creio que o MDM pode vir a agregar uma camada significativa de jovens quadros que, desde há muito, se tinham desencantado com a forma de fazer política, misturada com grandes negociatas, das duas principais forças existentes.
Existe já, se a minha percepção não está errada, um eleitorado com essas características, de uma dimensão apreciável. Um eleitorado que se tem mantido afastado dos pleitos eleitorais por não se decidir a votar nem pelos candidatos de um nem do outro dos dois grandes rivais.
Talvez na Beira, devido à acção de Simango, o eleitorado disponível a votar no MDM seja mais vasto, mas, no resto do país, creio que, de momento, será essencialmente urbano, relativamente jovem, classe média e com um razoável nível académico.
Cabe à direcção do MDM fazer um esforço para captar esse eleitorado. Para lhe mostrar que a política pode ser outra coisa diferente e melhor.
Mas, para conseguir isso, a prática do novo partido tem que se afastar dos aspectos negativos que têm caracterizado aqueles que passaram a ser, agora, os seus adversários.
As mãos limpas têm que ser o principal emblema do novo partido. Se for descoberto algum dos seus dirigentes a roubar, os dedos vão ser imediatamente apontados, dizendo que eles, afinal, são iguais aos outros.
Os processos eleitorais deste ano podem ser bons primeiros testes para o nível de adesão à nova força política. Por eles ficaremos a saber até que pont os eleitores confiam nela, até que ponto os dois grandes partidos foram afectados pelo novo concorrente.
Tenho ouvido diferentes opiniões a respeito da conveniência, ou não, de Daviz Simango se candidatar à Presidência da República.
A minha opinião, se é que ela vale alguma coisa, é que se deve candidatar, caso isso não entre em choque com os seus deveres como Presidente do município da Beira.
Muito provavelmente não vai ganhar. Não tem ainda máquina partidária para isso, principalmente junto do eleitorado rural.
Mas vai poder fazer campanha em todo o país, usando fundos do Estado. E isso pode ser significativo para o alargamento da sua base de apoio, quer a nível pessoal, quer a nível do seu partido.
E recordo o caso do actual Presidente do Brasil, Lula da Silva, que foi candidato a várias eleições presidenciais (3 ou 4...) até que, por fim, conquistou o cargo.
Nem tudo vão ser rosas, no caminho do MDM e de Daviz Simango.
Os dois derrotados já perceberam que está ali uma força com a qual, a partir de agora, vai ser preciso contar.
E, por cima e por baixo da mesa tudo vão fazer para anular essa força.
Dizem-me que o MDM escolheu para seu símbolo um galo e para seu grito o có-có-ri-có próprio dessa ave.
Esperemos que isso sirva para nos acordar da sonolência política em que estamos mergulhados desde há muito.
Estamos aqui para ver e fazer o nosso juízo.
E para, depois, votar de acordo com o que tiver sido esse juízo.
Um grande abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 12.03.2009
( Citado em http://www.macua.blogs.com/ )
2 comments:
O Sr. Machado da Graca consegue surpreender-me com os seus artigos muito realistas. Gostei!!! Diz coisas com muito sentido e nexo. Quando era miuda, no pos independencia, detestava o que ele escrevia, pois nao era nada imparcial como o é hoje em dia. No entanto, sempre achei que tinha o 'dom da escrita'. Maria Helena
O Machado da Graça era um acérrimo defensor da Frelimo, como num certo momento também o foram Mia Couto e Carlos Cardoso!
Desconheço as suas actuais ideias políticas, mas ele escreve muito bem e geralmente os textos são coerentes e abordam temas importantes.
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