Monday, 9 March 2009

MDM emerge com propósito de “desalojar” a Frelimo do poder

• Confirmado que o presidente do MDM, Daviz Simango, vai concorrer às presidenciais deste ano • Pode estar iminente a criação de uma 3.ª Bancada na Assembleia da República • O Galo é o símbolo do MDM e “Cocorico” é o seu brado “Todos moçambicanos deverão despertar e acreditar que é possível promover mudanças profundas em Moçambique” – Daviz Simango, presidente eleito, no primeiro «showmício» do MDM.

Beira (Canal de Moçambique) – “Cocorico!” é o “grito” do Movimento Democrático Moçambicano (MDM) criado sábado, na Beira, no decurso da Assembleia Constituinte que desde a véspera se reuniu na Faculdade de Medicina da Universidade Católica com a participação de delegados de todas as províncias do país. “Todos moçambicanos deverão despertar e acreditar que é possível promover mudanças profundas em Moçambique”, disse Daviz Simango, o seu presidente eleito, no primeiro showmício do MDM que teve lugar na Munhava com a participação de milhares de cidadãos e em que actuou o jovem músico, Azagaia.
O MDM tem o “Galo” como seu símbolo. “Cocorico” é o canto do galo. Os órgãos do movimento foram também eleitos e deles fazem parte cidadãos de todo o país.
O secretário-geral será indicado pelo presidente, de acordo com os estatutos. Segundo apurou o «Canal de Moçambique» de uma fonte do MDM o presidente pediu ao Conselho Nacional dois meses para indicar o nome do secretário-geral do movimento.
O slogan do MDM também foi aprovado: “Moçambique Para Todos”.
Daviz Simango, que a 7 de Fevereiro tomou posse como presidente do Município da Beira, foi reeleito com 62% de votos nas 3ªs eleições autárquicas a 19 de Novembro de 2008. Este sábado, no comício de encerramento da Assembleia Constituinte do novo movimento que decorreu no populoso Bairro da Munhava, declarou que “o MDM é um partido de todos os moçambicanos, sem descriminação de raça, cor, etnia e grupo linguístico a que pertençam”.
Afirmou ainda que “é necessário que todos trabalhemos para ganharmos as eleições que se avizinham, no lugar de ficarmos a lamentar que perdermos por roubo de voto”.

Oportunidades para todos

O presidente da nova organização política moçambicana disse também que “uma vez no poder o MDM pensa que podemos mudar o destino do país”. Frisou que “a economia está concentrada num pequeno grupo de pessoas” e exortou para que se trabalhe para mudar este estado de coisas. “As oportunidades têm que ser iguais para todos os moçambicanos”, defendeu. Acrescentou que “isto implica o comprometimento individual de cada um com esta causa.”
Daviz Simango, foi eleito por unanimidade, por 252 votos dos delegados com direito a participarem no escrutínio por estarem completamente desvinculados de outros partidos e organizações políticas.
Estiveram presentes cerca de 400 pessoas, entre as quais 102 convidados onde sobressaíram representantes de várias representações diplomáticas.
“O nascimento desta criança levou algumas horas, mais do que prevíamos, mas já estamos todos em festa – todos os moçambicanos do Rovuma a Maputo”.
“Queremos contribuir para a manutenção da democracia pluripartidária em Moçambique e sobretudo para que todos sejamos livres em prol do desenvolvimento nacional”, disse a certa altura da sua intervenção na Munhava o presidente do MDM.

Conselho Nacional

No «showmício» Daviz, como é tratado, apresentou ao público os membros do Conselho Nacional (CN). São 60 elementos na sua totalidade, distribuídos proporcionalmente por cada província do país. Maputo-província, Maputo-Cidade, Niassa, Tete e Cabo Delegado ocupam 4 lugares cada no Conselho Nacional. No mesmo órgão a Zambézia, Nampula e Sofala têm 10 representantes cada; Manica (5), Inhambane (3) e Gaza (2).

Comissão Política

A Comissão Política (CP) é formada por Ivete Fernandes (viúva do ex-Secretário Geral da Renamo, Evo Fernandes), Geraldo Carvalho (porta-voz de Daviz Simango e antigo combatente da Renamo), Alcinda da Conceição, Elias Mpuire, José Domingos, Albano Caridje, José Horácio Lobo, Eduardo Eloy da Silva e Abdul Satar. De acordo com os estatutos, a Comissão Política é formada por 11 membros. Há ainda duas vagas em aberto. É da competência do presidente do MDM indicar quem a deverá preencher.


Comissão Nacional de Jurisdição

A Comissão Nacional de Jurisdição (CNJ) é composta por Eduardo Augusto Elias, Zaida Mussa (advogada e esposa do deputado da Renamo Ismael Mussa), Samuel Simango, Francisco Majoi e Manuel Malando Gulube.

Deputados da Renamo

Daviz Simango apresentou ainda ao público os deputados da Renamo que tomaram parte na Assembleia Constituinte do MDM: Ismael Mussá, Maria Moreno (chefe da Bancada da Renamo na Assembleia da República), Lutero Simango (irmão de Daviz Simango), Luís Inácio, João Colaço, Agostinho Ussore, bem como convidados de outros partidos políticos, sendo de destacar Carlos Reis, Paulino Nicopola (Palmo), Carlos Jeque (analista político), além de João Sarmento, do Partido Social-Democrata (PSD) português. O Partido Frelimo e o Partido Renamo foram convidados mas se fizeram representar oficialmente.

Revolução de 28 de Agosto

A criação e nascimento do MDM tem seus alicerces na chamada Revolução de 28 de Agosto. Tratou-se de um movimento através da qual um movimento de massas emergiu fomentado pelas bases da Renamo na Beira em protesto contra a decisão da liderança da Renamo de afastar da candidatura à sua reeleição Daviz Simango às eleições de 19 de Novembro de 2008 as quais ele acabaria vencendo-as como independente suportado pelo Grupo de Reflexão e Mudança, e depois de ter sido expulso da Renamo.
A posição de Afonso Dhlakama e seus acólitos surpreendeu a todos e chegou a levar certa opinião pública a julgar que a divisão da Renamo seria o bastante para o candidato da Frelimo vencer. Daviz Simango, filho do Reverendo Urias Simango (vice-presidente) fundou com Eduardo Mondlane (presidente) a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em apenas cinco dias foi canidatado junto da CNE pelos dissidentes da Renamo. Acabou por vencer as eleições presidenciais com 62% dos votos. Concorreu como independente. É edil mas não tem bancada parlamentar porque não tinha partido.

A Beira segundo Carlos Jeque

De acordo com Carlos Jeque, analista político que se deslocou à Beira como convidado, declarou na ocasião que “a Beira é a capital da Democracia moçambicana”, tendo apelado para que “trabalhem com dinamismo no sentido tornar o MDM uma verdadeira força política.
A razão do MDM

De acordo com um documento lido na abertura da Assembleia Constituinte do MDM, “o ano de 2009 é decisivo para a democracia em Moçambique. O país corre risco de retorno ao monopartidarismo, sob a capa de democracia. A questão que se coloca é que uns mantêm um bipartidarismo fictício, e outros procuram impor um regime de partido único”.
“O MDM nasce justamente para que não estejamos passivos, a observar. Com as eleições gerais e provinciais de 2009 é possível evitar a capitulação da nossa democracia”, considera a nova organização política.
O MDM assume ainda que “não quer ser mais uma força política”, mas, sim, uma força política capaz de preencher o enorme vazio existente na vida política moçambicana”.
Diz ainda o documento que estamos a citar que “o MDM espera aglutinar no seu pensamento as aspirações de todas as classes sociais, incluso dos marginalizados e desiludidos. Para tal, irá criar um programa de acção claro e capacidade organizativa e mobilizadora”.

Dhlakama e a constituição do MDM

Na sexta-feira arrancou a Assembleia Constituinte do MDM, e à tarde, o porta-voz da Renamo em Maputo anuncia que o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama convocava uma reunião da Comissão Política da “perdiz”. A agenda não é anunciada, mas informa-se que a mesma terá lugar em Nampula a 7 e 8, sábado e domingo, respectivamente.
A notícia chega à Beira e imediatamente se começa a ouvir-se nas hostes da Assembleia do MDM que o encontro convocado por Dhlakama em Nampula é expulsar os elementos do seu partido presentes na Beira. Alguns são deputados da Assembleia da República e como tal inamovíveis. Outros, 80 renunciaram publicamente à sua condição de membros da Renamo antes de ser anunciada a sua expulsão. Na mesma ocasião em que os da Renamo renunciam, também três outros membros do “batuque e maçaroca” renunciaram ao seu partido, alegadamente por falta de espaço para os jovens exprimirem o seu pensamento.

3.ª Bancada na AR?

Nos próximos dias poderão estar em curso outros eventos. A bancada da Renamo na Assembleia da República (AR) poderá sofrer uma rotura, na eventualidade de Dhlakama expulsar os deputados Ismael Mussá, Maria Moreno, Lutero Simango, Luís Inácio, João Colaço, Agostinho Ussore, entre outros supostamente acusados de apoiarem Daviz Simango desde que este foi expulso da Renamo.
De acordo com dados em nosso poder, alguns deputados da “perdiz”, descontentes com o “estilo autocrático” de Dhlakama, estão a reflectir nesse sentido e pode ser que se assista muito em breve a uma situação suis generis no Parlamento. Os próximos tempos o dirão. Não está posta de parte a hipótese de surgir uma 3.ª Bancada legalmente constituída pelos deputados dissidentes da Renamo-União Eleitoral. Basta 11 para isso suceder. A soma dos descontentes já começa a apontar para isso.

“Resgatar a esperança”

Maria Moreno, chefe da bancada da Renamo-União Eleitoral na Assembleia da República, num intervalo da assembleia do MDM, quando lhe perguntámos se iria aderia ao movimento afirmou: “Fiquei feliz pelo programa e estatuto do MDM. São inovadores. Ninguém fica indiferente. Eu fico à espera dos sinais da Renamo. Que a Renamo desperte antes de entrar numa aventura eleitoral. Tivemos uma derrota de 100 porcento nas eleições autárquicas. Há que tomarmos medidas enérgicas. Eu vim juntar-me ao povo beirense. Este partido nasce numa perspectiva de resgatar a esperança.”

Eleições Presidenciais de 2009

Foi deliberado.
O engenheiro Daviz Simango irá concorrer às eleições presidenciais de 2009 em Moçambique. Esta posição, que “é irreversível”, nasceu da Assembleia Constituinte do MDM, que tomou por um imperativo a necessidade de Daviz Simango candidatar-se ainda este ano para o escrutínio presidencial, no lugar de adiar-se para 2014.
Os membros do MDM assim o pressionaram e isso ficou decidido.
De acordo com algumas fontes bem posicionadas no MDM, custou demover Daviz Simango no sentido de ocupar-se pela presidência do partido, pois ele está devotado ao seu compromisso com a Beira. Todavia, no evento realizado, os delegados dos 128 distritos (três por cada um) do país instaram-no a candidatar-se. Recorda-se que Daviz Simango venceu folgadamente as eleições como candidato independente a mais um mandato à presidência da Beira, vencendo Lourenço Bulha, do partido no poder, FRELIMO, e o concorrente indicado pela RENAMO, Manuel Pereira, que se posicionou em terceiro lugar.
O apoio a Daviz prende-se com o facto de Simango ser um candidato ganhador, desde que em 2003 venceu Djalma Lourenço da Frelimo. Porquanto, é um dado adquirido de que este filho de Uria Simango, vice-presidente da Frelimo assassinado pelos seus pares em circunstâncias nunca esclarecidas e cujas ossadas estão escondidas sem que os seus títeres se dêem ao trabalho de o restituir à família, terá como adversário um velho camarada do seu progenitor, Armando Guebuza, presidente do país, e Afonso Dhlakama, da Renamo. Está assim confirmado que nas presidenciais deste ano vai haver pelo menos três candidatos à Presidência da República.


(Adelino Timóteo, CANALMOZ, 09/03/09 )

2 comments:

Anonymous said...

Obrigada por todas as informacoes e pelo facto de ter de dactilografar tamanho artigo. Fiquei esclarecida em certas questoes. Adorei o grito do MDM: Cocorico - soa muito bem. Um abraco da Maria Helena

JOSÉ said...

Faço o que posso e nem sempre o que quero!
Ainda bem que ficou esclarecida!
Não dactilografei o texto, há um processo simples, embora dê sempre algum trabalho, que faço com gosto.
Cocorico!