Não queremos trocar mimos com o Presidente, mas, se ele assim o desejar, estamos aqui para
jogar. Se Guebuza fosse um simples criador de patos, gansos e perus, ninguém se incomodaria
com os erros que cometesse no pavilhão das suas aves.
Em qualquer país, o Presidente da República é símbolo
de estima do seu povo de quem sempre se espera uma palavra de esperança e
conforto. Pela sua posição como gestor do bem comum, está sob o escrutínio
atento do público. Este facto não deve ser motivo que o leva a mandar bocas na
praça pública como forma de responder às críticas que se tecem à sua forma de
gerir a coisa pública. Pelo contrário, deve servir de termómetro para medir a temperature
do povo. Se as medidas que ele toma agradam ou não aos governados, tem de
escutar as vozes menos distraídas da sociedade e não se deixar inchar com elogios
encomendados em comícios populares porque esses são preparados para dizerem o
que o chefe mais gosta de ouvir.
O Presidente da República, Armando Guebuza, não gosta de
críticas à sua governação. Fica lisonjeado com elogios como “o sol
ou a luz da nação”.
Quando o Governo vai ao Parlamento é frequente ouvir de cada ministro,
antes de responder às perguntas das bancadas parlamentares, adjectives comparáveis
aos que cobrem muitos ditadores conhecidos, tais como “ao camarada
Presidente da Frelimo e Presidente da República pela forma
clarividente como conduz os destinos da nação moçambicana”.
Parece que o ministro que não seguir o catecismo pode ser mandado embora, por
isso, os ministros rastejam perante os deputados. Quando chega a vez dos
deputados puxa-sacos, a primeira coisa que sai da sua boca é “a clarividência do sol da nação”.
Depois seguem os enfadonhos blá...blá... blá. Guebuza está a
caminho de Kim Il Sung!
Aos que “desconseguem” descortinar clarividência nem sol
que aqueça nem luz que ilumine em Guebuza, que não há nada para enaltecer, o
Presidente chama-os de “tagarelas”, “marginais”, “inimigos
do desenvolvimento”, “apostólos da desgraça” e, ultimamente,
encontrou um outro adjectivo bem picante: “agitadores profi ssionais”.
É mau ver e ouvir o Presidente a insultar os seus críticos em praça
pública ou em comícios. Mas Guebuza fá-lo com toda a naturalidade. A quem
Guebuza quer meter medo? Ele é o Presidente de todos nós, é por via disso que é
criticado, quando algo não anda bem. O cargo de alto magistrado da nação é
demasiado visível para não passar pelo crivo da crítica. Guebuza ocupa este
lugar, de forma voluntária, por isso, não tem de insultar a ninguém.
Não queremos trocar mimos com o Presidente, mas, se ele assim o
desejar, estamos aqui para jogar. Se Guebuza fosse um simples criador de patos,
gansos e perus, ninguém se incomodaria com os erros que cometesse no pavilhão
das suas aves. O que fi zer de errado enquanto nosso Presidente mexe com a alma
do povo, logo, serão escrutinadas por críticos.
Aqui não é Coreia do Norte, onde todos se prostram perante o “sol
da nação” nem estamos no império de Leónid Bréjnev onde os
críticos eram jogados na gélida Sibéria. Em Moçambique, a Constituição permite
aos cidadãos criticarem sem medo de acordarem em campos de reeducação prestes a
serem regados de gasolina.
Edwin Hounnou, Correio da Manhã de 18/12/12
Edwin Hounnou, Correio da Manhã de 18/12/12
No comments:
Post a Comment