A chuva que na semana passada fustigou a cidade de Maputo voltou a deixar a nu as fragilidades da capital moçambicana e exacerbou os já conhecidos problemas ambientais que, ciclicamente, afligem os residentes desta urbe, bem como de muitas outras cidades do país.
No caso concreto da cidade de Maputo, além de causarem oito óbitos, as enxurradas destruíram bens e infra-estruturas públicas e privadas, incluindo casas e vias de acesso, bem como agravaram o problema de erosão e estagnação de águas pluviais nas estradas e ruas dos bairros periféricos da cidade.
Num artigo publicado em Janeiro de 2011, a AIM advertia para os problemas ambientais que estavam a surgir e já são uma realidade em alguns bairros de Maputo devido a falta de valas de drenagem e árvores de protecção.
A situação é mais grave porque esta situação ocorre nos bairros considerados modelos, com ruas devidamente demarcadas, mas que no acto do seu ordenamento preteriu-se a abertura de valas de drenagem e plantio de árvores, medidas que ajudariam a minorar os problemas ambientais que hoje são cada vez mais aparentes.
Os referidos problemas são exacerbados pela utilização cada vez mais intensiva das ruas dos bairros periféricos pelos automobilistas, quando procuram fugir dos graves problemas de congestionamento de tráfego que se registam nas estradas principais.
Mais grave ainda é o facto de que essas vias alternativas nunca beneficiaram de alguma obra de manutenção, o que acelera ainda mais a sua degradação.
Por isso, com as recentes chuvas, várias estradas e ruas dos bairros periféricos de Maputo ficaram intransitáveis devido a erosão, um problema que nos bairros das Mahotas, Laulane e Ferroviário das Mahotas também provocou danos avultados na linha férrea que liga a cidade de Maputo as províncias de Maputo, Gaza e ao vizinho Zimbabwe.
Outras vias de acesso, embora não estejam afectadas pela erosão, encontram-se alagadas e praticamente intransitáveis.
Esta realidade mostra a necessidade de investimentos públicos para a construção de valas de drenagem, plantio de árvores de protecção, entre outras intervenções capazes de resolver os problemas ambientais que afligem os residentes da cidade e província de Maputo, particularmente na época chuvosa.
Paralelamente, urge investir na redução da vulnerabilidade da população urbana residente nos assentamentos informais, locais onde as condições de saneamento e de drenagem de águas pluviais são mais graves, o que não só propicia os problemas ambientais, mas também a ocorrência de doenças provocadas por águas inquinadas.
Moçambique já começou a implementar algumas estratégias de redução de riscos de desastres ambientais, mas na cidade de Maputo, os investimentos nessa área – e principalmente nos bairros periféricos - são inexistentes.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UN-HABITAT) sobre “O estado das cidades africanas 2010” considera que os assentamentos urbanos são uma das grandes ameaças à estabilidade urbana de África, e por extensão a toda estabilidade política.
Por isso, a população pobre – que constitui a maioria dos residentes dos assentamentos das áreas periféricas das cidades – não deve ser punida devido a sua pobreza. Ao invés, o planeamento urbano e a regulação das construções devem reflectir o nível de crescimento dum país.
“Um desafio particular para qualquer progresso sustentável no melhoramento de casas é a grande proporção da população pobre nas áreas urbanas vivendo nas zonas mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas e aos riscos ambientais do dia-a-dia”, refere o relatório do UN-HABITAT.
Enquanto isso, a população pobre das áreas urbanas e que vive em zonas íngremes ou nas proximidades de depósitos de resíduos sólidos que podem estar vulneráveis a aluimentos devido a chuvas cada vez mais fortes e frequentes.
O relatório também refere que, em alguns casos, se deve regularizar as construções melhoradas e os padrões de infra-estruturas. Por exemplo, elevar as fundações de infra-estruturas, fortificar as vias de acesso e melhorar a capacidade das drenagens de águas.
“Em todos os casos, residências sustentáveis para a população pobre das áreas urbanas irão precisar de avultadas somas de investimento de capital e custos de planeamento de manutenção”, indica o estudo, alertando que o preço de não tomar essas medidas pode ser muito maior ainda.
Segundo o relatório, a falta de acção só irá exacerbar a pobreza e as carências. O falhanço na abordagem das mudanças climáticas através da mitigação e estratégias fundamentais de adaptação não é mais uma opção ou algo em que se possa adiar para as próximas gerações.
(RM/AIM)
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