O ano de 2012 termina hoje e Boas Festas continua a ser uma miragem para a maioria do Povo moçambicano. Mesmo para muitos que esta época do ano foi sendo celebrada com algum desafogo nos últimos anos, este 2012 foi terrível, com o cinto a apertar-lhes o pescoço.
2012 foi para uma pequena minoria mais um ano de acumulação de riqueza e, coincidentemente, os sinais de riqueza continuaram a vir de quem de algum modo está ligado aos mais altos cargos da hierarquia do Estado ou de seus parentes ou amigos próximos sem aparente esforço.
Quem realmente se esforçou, 2012 foi mais um ano de suor e lágrimas.
As promessas de quem governa o País, mais uma vez, ficaram por cumprir.
Mais uma vez quem está no Poder passou pelo ano a olhar para o seu próprio umbigo esquecendo-se dos governados.
Mais um ano se passou com quem está no Poder a servir-se das instituições e dos recursos do Estado em seu próprio benefício.
Em 2012 a exclusão política, económica e social acentuou-se e com tudo isso agravou-se o espírito de revolta que está a incubar nos milhares de lares onde não conseguem fazer mais do que uma refeição por dia, ao mesmo tempo que a elite governamental esbanja recursos do Estado em futilidades e exercícios escandalosos de exibição de poder.
Em 2012 a esmagadora maioria do Povo voltou a ser esmagada pela “esmagadora maioria” resultante de eleições em que a real vontade do eleitorado é adulterada por acções de intimidação como aconteceu nas intercalares autárquicas de Abril em Inhambane, ou viciada por uma CNE corrupta e servil.
Em 2013 é preciso fazer-se algo mais para que os governantes e os deputados da bancada da maioria na Assembleia da República que ainda se julgam “com o rei na barriga” saibam que há mais Moçambique para além deles.
Em 2012, mais uma vez, ficou claro que embora possa ter parecido a alguns que o País anda bem, essa percepção só a pode ter quem se enclausurou nos seus feudos de ilusão. É preciso, sobretudo, perder-se o medo e acreditar-se que as próprias Forças de Defesa e Segurança acabarão por acordar, deixarem-se de ser servis a quem trata os seus compatriotas com sobranceria e desprezo.
É preciso acreditar-se em 2013 que quem serve nas Forças de Defesa e Segurança acabará por aliar-se aos seus compatriotas que querem ter um Moçambique com mais igualdade e solidariedade.
Quem se delicia com a soma de participações em negócios montados corruptamente à custa do poder de decisão de que estão investidos no Estado terá passado mais um ano em beleza, mas quem espera de quem governa soluções para a terrível condição humana a que os sucessivos governos de Moçambique – sobretudo os últimos – tem remetido os excluídos, a bomba pode estar só à espera de um detonador para explodir.
Esperamos que no ano prestes a começar se tome consciência de que não basta ser elite. É preciso saber sê-lo.
É preciso ser-se elite que venha do trabalho, que crie riqueza, que não ande pendurada nos outros.
No final do ano passado chamámos a atenção para o grave problema das assimetrias sociais que estão a agravar-se em vez de se solucionarem e a única diferença que vimos ao longo do ano que hoje termina foi que agora há mais quem se tenha convencido que por este andar o caldeirão vai acabar por entrar em ebulição e Maputo vai acabar por explodir e tornar-se a onda que contaminará o resto do País.
Não sentimos qualquer esforço sensato da parte de quem tem estado a dirigir o País para procurar efectivamente contrariar a tendência prevalecente para o abismo.
Para que serve uma elite auto-intitulada como tal, em que ninguém reconhece mérito e capacidade para nos continuar a dirigir?
Para que serve uma elite predadora, sem visão, sem escrúpulos, parasita, oportunista, esbanjadora, e apenas especuladora, que hoje fala mal dos estrangeiros e amanhã vende o País a retalho aos piores que por cá aparecem apenas para assinar papéis e retornarem às suas origens para esperarem o “troco” dos seus aliados nacionais corruptos?
Os doadores, de uma forma geral, também precisam de seguir o exemplo da Holanda, da Finlândia, Grã-Bretanha, Suécia e Dinamarca e acabarem com a ajuda directa a sucessivos governos que o Povo já acredita que possam ser removidos por via do voto.
Os países doadores não podem simplesmente continuar a alocar fundos que sabem que estão a alimentar a elite corrupta.
Os doadores devem perceber, de uma vez por todas, que hoje são vistos como os principais combatentes contra a construção da democracia e podem por isso, na hora de se mudar o passo ao regime do dia, vir a ser vítimas das contas que ficarem por ajustar.
Por fim, agradecer a todos por terem apoiado o Canal de Moçambique a ser “barulhento” no seu rumo opcional e consciente em prol de uma cidadania crítica, activa e não servil.
Há, afinal, muitas maneiras de amar Moçambique!
Até 2013. Até à próxima edição que virá a público na quarta-feira, 09 de Janeiro, trazendo-nos de volta a esta praça de diálogo e exercício da cidadania. Com a colaboração dos que querem contribuir para que não cheguemos a um “país falhado”, queremos continuar a servir-vos.
Boas Festas a quem pode. Feliz e Próspero Ano Novo com muita saúde para todos, especialmente aos nossos leitores e anunciantes.
Canal de Moçambique – 31.12.2012, citado no Moçambique para todos
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